sábado, 5 de julho de 2014

Loteria? Que loteria?

Van Gaal deu um golpe de mestre/Reprodução
Lá atrás, quando eu fiz a seleção da primeira fase da Copa, esqueci de colocar o técnico. Depois fiquei pensando qual seria o treinador do Mundial. Exemplos não faltam. José Pekerman, da Colômbia, Jorge Sampaoli, do Chile, Didier Deschamps, da França. Ou mesmo Jorge Luis Pinto, da Costa Rica. Até que eu me dei conta que o time que eu  mais gostei taticamente foi a Holanda de Louis Van Gaal.

É muito raro ver o que a Holanda fez nesta Copa. A seleção já jogou no 5-3-2, no 4-4-2, no 3-5-2, no 4-3-3, no 4-3-1-2, e terminou a partida contra a Costa Rica jogando no velhíssimo esquema 4-2-4 usado naqueles tempos em que se amarrava cachorro com linguiça. Fez jogo cadenciado, atuando no contra-ataque, jogando na defesa, no ataque pressionando o adversário, enfim, a Holanda se adapta ao adversário e segue vencendo.

A Holanda de Van Gaal é uma aula de tática nesta Copa do Mundo. E exibe uma variação constante que só é possível quando você tem uma comissão técnica que entende muito de futebol e consegue encontrar os jogadores certos para as posições e funções certas da equipe. E Van Gaal tem como auxiliares dois ex-jogadores vencedores, o ex-zagueiro Danny Blind e o ex-atacante Patrick Kluivert. E também quando estes jogadores compram a ideia desta comissão técnica, se entregando em uma partida mesmo sabendo que não é certo que você será titular no próximo jogo.

Ou que vá jogar na sua posição de origem. Lembremos que Daley Blind, o filho de Danny, já jogou de zagueiro, volante e lateral-esquerdo nesta Copa. E Dirk Kuyt já foi atacante, sua posição de origem, lateral-esquerdo e meia.

No início da Copa, eu disse que a Holanda dependia de seu trio de ataque para ter sucesso neste Mundial. Se os trintões Robben, Van Persie e Sneijder não brilhassem, a seleção não iria longe. Van Persie começou bem, mas agora está mal, Sneijder cresceu nos últimos dois jogos e Robben é um dos craques do Mundial. Mas além deles, Van Gaal tem sido decisivo.

Tudo parece meticulosamente trabalhado pelo técnico. Foi com suas substituições que a Holanda derrotou o Chile por 2 a 0 e o México por 2 a 1 no final do jogo de oitavas de final. E neste sábado, Van Gaal chegou as raias do SADISMO ao tirar o goleiro titular Cillessen no fim do segundo tempo da prorrogação para colocar em campo o reserva Tim Krul para participar das cobranças de pênalti.

Logo isso criou uma celeuma. O que o futebol tem de legal, tem na mesma proporção de conservador. E alguns comentários foram de que o goleiro titular fora desprestigiado. Ora, esportes como basquete, futebol americano e vôlei têm especialistas, jogadores que são excelentes em um fundamento e ajudam os seus times a ganhar partidas. Por que o futebol teria que ser diferente? Por que o futebol tem que ser conservador e mimado para goleiros titulares ficarem melindrados com substituições neste momento da partida?

Neste sábado, Van Gaal acabou com a expressão que diz que pênalti é loteria. Tanto a decisão de colocar Krul, quanto a de escalar os seus melhores jogadores nas primeiras cobranças de pênalti foram não apenas um golpe técnico, mas psicológico diante da valente Costa Rica. Van Gaal queria ganhar o jogo logo desde o tempo normal, quando bombardeou a defesa adversária e parou na excelente atuação do goleiro Keylor Navas. Como não conseguiu, ele procurou ganhar o jogo o mais rápido possível na disputa de pênaltis. Conseguiu.

Após a partida, Van Gaal revelou que a decisão de colocar Krul caso houvesse uma disputa de pênaltis estava decidida desde sempre. Só não foi revelada para não abalar a preparação de Cillessen. Com fama de pegador de pênalti e cinco centímetros mais alto que o titular (1,93m contra 1,88m), Krul só pegara duas das últimas 20 penalidades atuando no futebol inglês. Mas ele foi escolhido pelo treinador para uma missão. Teve tempo para se preparar para uma eventual disputa de pênaltis, para estudar os batedores da Costa Rica. Tanto é que acertou o canto em todas as cobranças e pegou dois pênaltis.

- Cada jogador tem suas habilidades específicas. Todos nós achamos que Krul era melhor goleiro para uma decisão (por pênaltis). Vocês devem ter percebido que ele mergulhava sempre para o lado certo. Temos grande orgulho que isso funcionou para a gente – analisou o treinador após a partida.

É claro que Cillessen ficou irritado com a substituição. Ninguém gosta de sair de campo. Mas ele foi o primeiro a correr em direção a Krul para comemorar a classificação para a segunda semifinal consecutiva da Holanda. E pediu desculpas a todos depois.

Van Gaal tem o time não mão e os jogadores gostam dele. Tem uma seleção que joga com diferentes esquemas, os varia mesmo durante as partidas e tem sido bem sucedida na Copa com toda essa deliciosa INSANIDADE. O treinador resolveu reforçar o conceito de que técnico ganha jogo. E também graças a ele a Holanda está na semifinal.

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