sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Um Holmes nada elementar

Existem algumas formas de se assistir a “Sherlock Holmes” e elas são teoricamente relacionadas à maneira como você se relaciona com o personagem. Se você é um fanático daqueles que têm Holmes como um semideus quase perfeito e sabe de cor trechos de cada livro de Sir Arthur Conan Doyle, a sensação ao se ver diante do trabalho de Guy Ritchie vai variar da decepção a uma raiva cristã de quem profanou uma história. Se você não sabe quem é Conan Doyle, Holmes ou apenas tem uma relação mais distante com estas figuras, periga gostar e sair do cinema satisfeito por ter visto um belo filme de ação.

Estas são duas prováveis sensações que o diretor de “Jogos, trapaças e dois canos fumegantes” (1998) e “Snatch, porcos e diamantes” (2000) pode causar ao espectador que assiste à sua leitura iconoclasta e “atualizada” do clássico personagem de Conan Doyle.

Não que Holmes, vivido como brilhantismo por Robert Downey Jr., tenha perdido totalmente suas características. O uso do raciocínio lógico para resolver os casos mais escabrosos possíveis ainda está lá. Assim como o seu inseparável amigo, o doutor John Watson, feito por um também ótimo Jude Law. Mas o trabalho de Ritchie e dos roteiristas Michael Robert Johnson, Anthony Peckham e Simon Kinberg injeta uma linguagem mais pop e inegavelmente mais testosterona nos personagens que não abusam apenas do cérebro, mas usam também os músculos para sobreviverem naquela Londres suja, putrefata e tomada por ladrões e tipos sinistros encontrados apenas ao abrir a porta do escritório de Baker Street.

É aliando força e inteligência que Holmes e Watson têm que resolver uma série de crimes cometidos por Lorde Blackwood (Mark Strong) num enredo que envolve conspirações, magia negra e uma sociedade secreta que aos poucos vai sendo dissecada pela brilhante mente de Holmes.

Para desvendar este mistério, a dupla conta ainda com a ajuda (ou nem chega a ser uma ajuda) da ladra Irene Adler (Rachel McAdams), um dos pontos fracos de Holmes dada a sua admiração pela moça que, no entanto, lhe enganou algumas vezes.

Se os meios são ampliados, o desfecho deste novo “Sherlock Holmes” (o 211º filme que envolveu uma gama total de 75 atores no papel principal) não poderia ser mais “sherlokiano” com suas explicações lógicas para tudo. Até para o que parecia inexplicável.

Na minha modesta opinião, o saldo final é positivo. Como a minha relação com o personagem ganhou o benefício do tempo – Conan Doyle foi leitura de infância e infelizmente eu nunca mais o reli – a sensação foi a de estar diante de um filme muito bem feito, com atuações impagáveis e um roteiro extremamente bem encadeado. Nem parece um filme de ação, mas tem a cara de um Sherlock Holmes.


Dos personagens clássicos na literatura de Conan Doyle, ficou praticamente de fora (a não ser por meros vultos em determinadas cenas) o professor Moriarty, arquiinimigo de Holmes. É claro que ele foi devidamente guardado como trunfo para uma inevitável seqüência. Uma devida deixa bem ao estilo dos filmes baseados em histórias em quadrinhos foi providenciada por Ritchie para dar prosseguimento às aventuras de Holmes e Watson. E ela promete ser ainda melhor do que a de “Sherlock Holmes”.

4 comentários:

Lion disse...

Camarada, eu gostava dos livros e gostei do filme, mas confesso q minha lembrança de Sherlock tb é da infãncia...
Mas não achei que foi tããão descaracterizado assim... apenas um pouco mais rápido... a cena do jantar com a noiva de Watson achei extremamante 'sherlockiana', entre outras

marcelo alves disse...

A cena do jantar realmente é brilhante. E acho que houve realmente um certo exagero na "gritaria" com relação ao filme. O retrato de Londres feito por Ritchie, por exemplo, acho muito mais próximo do que Holmes encontraria na época do que a limpeza que poderíamos ver hoje em dia. E no final, o que o leva a resolver todos os problemas é sua mente brilhante.

Gustavo Nogueira disse...

Grande Marcelo,
estou sempre lendo seu blog - parabéns pra você e pra mim que ganho uma excelente leitura no meio de tanta porcaria que existe na internet!
E o filme é bom mesmo! Até porque eu não sou maníaco por Sherlock Holmes, e todo maníaco por algum personagem fica preocupado quando há uma adaptação para o cinema....
Abração!

marcelo alves disse...

Obrigado Gustavo.
É natural que sempre role uma preocupação. Também sou assim com alguns dos meus personagens de quadrinhos favoritos. Mas em geral não tenho ficado decepcionado.