sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O festival que mudou tudo

Há 25 anos o Brasil e o Rio de Janeiro entravam na rota dos grandes shows internacionais. Parece até brincadeira em se tratando do Rio que hoje sofre para conseguir grandes espetáculos (O AC/DC não veio no ano passado e o Metallica não virá neste mês, por exemplo), mas até 1985, o cenário era de uma aridez ainda maior. Foi aí que o empresário Roberto Medina resolveu fazer o nosso Woodstock e criar o primeiro grande festival de rock local então batizado de Rock in Rio.

Realizado entre os dias 11 e 20 de janeiro daquele ano, o festival reuniu pesos pesados da música mundial que tocavam aqui pela primeira vez como Queen, Iron Maiden, Rod Stewart, AC/DC, Scorpions, Yes e Ozzy Osbourne. Junto deles, algumas atrações do rock brasileiro que já davam as caras e mudaram a história da música nacional como o Paralamas do Sucesso e o Barão Vermelho ainda com Cazuza nos vocais.

Para realizar o evento, foi construído um palco de cinco mil metros quadrados de área, o maior já feito no mundo até então, num terreno entre a Barra da Tijuca e Jacarepaguá que ficaria conhecido como a Cidade do Rock. Por ali passou 1,5 milhão de pessoas, o equivalente a três Woodstocks. O maior público foi no primeiro dia. Duzentas mil pessoas acompanharam os shows de Baby Consuelo e Pepeu Gomes, Erasmo Carlos, Ney Mato Grosso, Whitesnake, Iron Maiden e Queen. Foi a única apresentação do Iron. O Queen ainda voltaria no dia 18 ao lado de The Go-Go’s B-52’s, Lulu Santos, Eduardo Dusek e Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens.

Já o Whitesnake, convocado as pressas para substituir o Def Leppard após o acidente de carro que levou o baterista Rick Allen a ter que amputar um dos braços, retornaria no dia 19 para tocar com AC/DC, Scorpions, Ozzy Osbourne e Baby Consuelo e Pepeu Gomes.

O mesmo Ozzy já havia tocado três dias antes junto com Rod Stewart, Rita Lee, Moraes Moreira e o Paralamas. Já o AC/DC, se apresentara no dia 15 com Scorpions, Barão Vermelho, Eduardo Dusek e Kid Abelha.

Também participaram do festival James Taylor, George Benson, Al Jarreau, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Ivan Lins, Nina Hagen, Blitz e Alceu Valença. Música para todos os gostos, portanto.

Depois daquele ano, o Rio ainda teve outras duas edições do Rock in Rio em 1991, no Maracanã, e em 2001, num festival inesquecível para este blogueiro que praticamente se mudou para a Cidade do Rock naquelas quase duas semanas de muita música. Em seguida a marca viajou para Portugal e Espanha e nunca mais voltou ao seu país de origem. Agora se fala em uma nova edição no segundo semestre de 2011. Tomara que ele volte e ganhe uma constância. O Rio precisava de um festival de rock que acontecesse com mais freqüência.

Abaixo algumas curiosidades da primeira edição do Rock in Rio colhidas no vasto mundo internético:

- Para tocar no festival, o AC/DC exigiu como condição usar um sino de meia tonelada que seria tocado pelo vocalista Brian Johnson durante “Hells Bells”. Como o bicho, que veio ao Brasil de navio, era muito pesado para a estrutura do palco, um dos cenógrafos do festival fez sem que a banda soubesse um sino de gesso para a ocasião.

- Foi nesta edição do Rock in Rio que o Iron Maiden tocou para o maior público de sua história: 200 mil pessoas. No Rock in Rio III, o Iron conseguiu o segundo maior público de sua história: 180 mil pessoas.

- Ao tocar no mesmo dia de AC/DC e Scorpions, o Barão Vermelho poderia ter sofrido com os fãs de metal, mas a banda fez uma apresentação memorável e foi a única que não foi vaiada pelos metaleiros. No mesmo dia, aliás, acontecia a eleição presidencial que escolheu Tancredo Neves como presidente do Brasil após um longo período de ditadura. Durante “Pro Dia Nascer Feliz”, Cazuza disse: “Que o dia nasça lindo para todo mundo amanhã. Um Brasil novo e com a rapaziada esperta!”.

- Antes do festival, James Taylor pensava em abandonar a carreira. Dependente químico e abalado com o divórcio da cantora Carly Simon, ele veio ao Rio apenas porque já tinha assinado contrato. Comovido, no entanto, com a recepção que teve do público, ganhou nova vida, resolveu retomar a carreira e em homenagem ao Rio compôs a música “Only a Dream in Rio”, que tinha um trecho que dizia “Eu estava lá naquele dia e meu coração voltou a vida”. Taylor ainda voltou ao país para participar do Rock in Rio III, pois considerava ser questão de honra.

- Depois do episódio em que Ozzy Osbourne mordeu um morcego num show três anos antes, os organizadores do Rock in Rio colocaram uma cláusula no contrato que o proibia de comer animais vivos no palco. E o Senhor das Trevas cumpriu tudo dentro do riscado, mesmo depois de uma galinha viva ter sido jogada no palco. Talvez ele preferisse mamíferos.

- “Love of my life” foi a canção do festival. É a mais lembrada até hoje quando alguém fala do primeiro Rock in Rio e o próprio Freddie Mercury havia considerado a execução da música como a melhor já feita pela banda. Quando voltou ao Rio em 2008 para tocar com Paul Rodgers, o guitarrista Brian May disse que até hoje escuta as vozes do público ecoando no seu ouvido.

Chega de escrever. Abaixo, alguns momentos marcantes do Rock in Rio I:
Queen - "Love of my life"
Queen - "Bohemian Rhapsody"
Scorpions - "Rock you like a hurricane"
Scorpions - "Still loving you"
Iron Maiden - "The trooper"
Iron Maiden - "The number of the beast"
Ozzy Osbourne - "Crazy Train"
AC/DC - "Hells Bells"
AC/DC - "For those about the rock"
Whitesnake - "Love ain't no stranger"

Barão Vermelho - "Por que a gente é assim"
Barão Vermelho - "Maior abandonado/Milagres/Subproduto do Rock"

2 comentários:

Lion disse...

Eu tava no show do Iron em 2001, em 1985 eu nem sabia o que era música...

marcelo alves disse...

Eu também estava em 2001. Uma das maiores shows de rock que este país já viu. Em 85 eu também não sabia de nada, afinal tinha só três anos