domingo, 21 de setembro de 2008

Um dia em terreno inimigo

Eu poderia começar esta crítica dizendo que nunca se deve deixar uma mulher escolher um filme. Mas eu não quero perder leitoras, afinal meu público já é bastante pequeno. Por outro lado, o título já é uma pequena provocação. Não com as leitoras, evidentemente, mas talvez com a situação.

Pois bem, deixei minha guitarra e amplificador em casa e fui ao cinema assistir “O mistério do samba”, documentário de Carolina Jabor e Lula Buarque de Holanda sobre a Velha Guarda da Portela. Se eu disser que sai da sala em êxtase, cantando e batendo palmas como 90% da platéia, eu estaria mentindo. Não, não paguei esse mico de bater palma para ninguém. Até onde eu sei, telas de cinema ainda não são interativas. Tipo ter uma manifestação agora e de algum ponto no fundo da película a Marisa Monte agradecer por aquilo.

Além disso, não bato palmas para qualquer coisa. Sou chato e valorizo a qualidade artística. Se eu batesse palmas para tudo, o bater de palmas seria absolutamente banalizado.

Tudo bem, estou sendo muito garoto enxaqueca. Mas eu juro de pés juntos que gostei do filme. Embora Marisa funcione muito melhor como cantora do que como repórter, postura que ela por vezes adota no longa, achei um documentário interessante. Nostálgico, é verdade. Mas diante do caos atual, como não reverenciar o passado? Diante das marchas imperiais do Carnaval do Sambódromo, como não gostar daquela malandragem, da fina ironia, dos amores e da simplicidade bem construída das letras daqueles sambistas sexagenários, septuagenários que fizeram a história da Portela e, é claro, do samba carioca?

Acho que o maior mérito de “O mistério do samba” é o resgate das deliciosas histórias que rolaram lá por Osvaldo Cruz, Madureira, enfim, toda aquela área que é berço do samba de qualidade (eu posso não gostar de samba, mas reconheço o que é bom ou ruim). É uma maneira de manter eternamente viva toda essa riqueza que se perderia no tempo com a morte de seus personagens se não tivesse sido registrada de alguma forma.

Por isso, deve-se reverenciar Marisa, Carolina e Lula (o Buarque, evidentemente, e não o Luiz Inácio). Mais do que um trabalho cinematográfico, eles fizeram uma expedição arqueológica do samba carioca.

Encontraram ótimas histórias, excelentes pessoas, e entrecortaram com boas rodas de samba, conversa e cerveja. Claro, com Zeca Pagodinho no quadro é natural saber qual é o copo que está sempre cheio.

Enfim, “O mistério do samba” tem o valor de ser um documento histórico mais do que um filme. E tenho a impressão de que com o passar dos anos, será uma obra cada vez mais importante. Agora deixa eu pegar minha guitarra de volta, pois eu gosto mesmo é de “Satisfaction”.

2 comentários:

Anônimo disse...

pô, eu sinceramente nem esperava que você fosse assistir a esse filme, que dirá elogiá-lo! parabéns. abs, fábio balassiano.

Anônimo disse...

Eu também não esperava. rsrs
abs