quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Escorpião verde e amarelo

Vamos combinar uma coisa. O Brasil é legal, o Brasil é maravilhoso, Brazil is beautiful, Brazil is hot, mas não tem qualquer peso no mercado fonográfico mundial. Vender discos aqui ou não, não faria qualquer diferença para uma banda mundialmente conhecida. Tudo bem que vender discos hoje é um detalhe, mas isso é papo para outro post e no final das contas vocês me entenderam.

Portanto, uma banda internacional que vem seis vezes ao país é porque realmente gosta de tocar por aqui. E dessa vez o Scorpions fez de tudo para que o show no HSBC Arena fosse uma homenagem inesquecível aos brasileiros. Até questões de como sairiam as músicas acústicas – que, aliás, nem foram tão acústicas assim, mas isso fica para mais para baixo – ficaram relegadas ao segundo plano. O show de sábado passado ficará conhecido como o que rendeu homenagens, e algumas críticas, ao nosso país.

Como esquecer o vocalista Klaus Meine cantando em muito bom português “Cidade Maravilhosa” (tudo bem, ele falava txidade maravilhôssa, mas se eu tenho dificuldades para falar “ich” ou qualquer palavra que tenha trema em alemão, por que ele não pode ter algum sotaque?) e lembrando o espetáculo da banda no Rock in Rio em 1985?

E o baterista James Kottak com gorrinho do Brasil e bandeira pendurada no gongo ao fundo? Sem contar a mensagem “Rio Rock$” em frente ao palco e os muitos convidados. Foram três backing vocals e três percussionistas nacionais para fazer um batuque maneiro – com exceção do samba que eles ensaiaram com o batera – e o guitarrista do Sepultura (ainda existe o Sepultura?), Andreas Kisser, para fazer a pauleira ficar ainda melhor.

Em suma, bom ou ruim é uma questão pessoal, mas o que não se pode dizer é que o show do Scorpions não foi simpático. Teve até uma puxada de orelha com imagens da Amazônia ardendo em chamas e protestos do Greenpeace durante a execução de “Humanity”. Ora, quem gosta e é amigo também deve fazer uma crítica pertinente.

O clima era tão cool que teve espaço até para dois “Happy Birthdays” puxados pelo baixista Pawel Maciwoda e cantados pela platéia em homenagem ao aniversariante Rudolf Schenker, que fez 60 anos.

Além de simpático o espetáculo pode ser definido também como divertido. Acho que pouquíssimas pessoas não devem ter saído com um sorriso no rosto. Até porque, apesar do clima grande família, o Scorpions fez e muito bem o seu trabalho e cantou os clássicos que a galera queria ouvir como “Wind of change” (maravilhosa), “Still Loving you” (espetacular, tocante, emocionante) e “Rock you like a hurricane” (uma pauleira que fechou magistralmente o show oficial, pois depois teve mais uma música de bônus, “A moment in a million years”).

Antes do show havia alguma resistência quanto ao fato do Scorpions tocar algumas canções no formato acústico como vem fazendo na turnê. Fãs mais xiitas não gostaram disso e alguns até deixaram de ir enquanto outros poderiam até pensar em ir, mas desistiram por causa do indecente preço do ingresso, nunca inferior a R$ 130. Talvez isso possa explicar o baixo quorum no HSBC Arena. Estava tão vazio que a casa resolveu até fechar o setor de arquibancada 3 levando alguns sortudos, portanto, (eu entre eles) para o setor 1, mais perto. Ainda assim, a pista estava na metade da sua capacidade.

Não sou muito bom de “olhômetro”, mas calculo que tenha tido umas quatro mil pessoas na casa. O suficiente para abarrotar um Citibank Hall, mas que deixa claros na Arena, que deve caber umas 10 mil pessoas.

Bom, se havia algum temor quanto ao formato acústico, pode-se dizer que o Scorpions não desapontou e, mais do que isso, agradou a gregos e troianos. Além do set list rico em clássicos, a banda abriu um show, que durou pouco mais de duas horas, com o puro rock and roll capitaneado pelas guitarras de Rudolf e Matthias Jabs. Neste primeiro momento, passaram pelo palco canções novas – “Hour I”, que abre o espetáculo – e conhecidas como “Bad boys running wild” e “The Zoo”. Com a banda já com a platéia na mão, Andreas Kisser entra em cena para um mega solo intraguitarras durante “Coast to coast”. Estratégia para que o palco fosse arrumado com os banquinhos, violões e instrumentos de percussão.

“Always somewhere” abriu o set acústico, ou melhor, semi-acústico, pois os caras estavam relativamente plugados, a bateria era a mesma, o baixo não mudou e os violões só faziam, obviamente, um som um pouco mais abafado e menos estridente. Enfim, não chegou a ser um João Gilberto para assustar os fãs, que foram completamente conquistados pelo novo, digamos, formato, em “Dust in the wind”, que realmente fica excelente.

Havia ainda outra diferença em relação ao que o Scorpions registrou em um DVD (“Momento f glory”). Foi exatamente a participação dos músicos brasileiros. Lembremos que o set acústico do Scorpions sempre usa músicos e instrumentos clássicos como violoncelos. No Brasil, foi dado um toque mais de percussão que causou grande diferença principalmente em “Wind of change”. Aquelas batucadas e as backing vocals ao fundo ficaram bem legais e a canção ganhou um formato único. Foi para guardar como um daqueles momentos inesquecíveis para quem gosta do Scorpions (e não é muito xiita). “Holiday” foi outra música inesquecível da noite.

Após o set acústico estrategicamente colocado no meio do show, o Scorpions voltou para a sua melhor leva de canções a fim de fechar a noite lá em cima na sua cotação com a galera brasileira. Além das já citadas “Still Loving You” e “Rock you like a hurricane”, cantadas em coro pela platéia, é nesta parte que eles tocam “Big City Nights” e “Blackout”. Vimos uma coleção de grandes canções nos 40 minutos finais.

Enfim, o show do Scorpions foi acima de tudo uma grande festa. E os que ganharam foram os fãs que encararam o frio, a chuva e a distância do HSBC Arena para ver uma ótima apresentação. Que o Scorpions continue vindo ao Brasil com freqüência e sempre sem medo de arriscar. É sempre bom ouvir novidades das boas velharias.

PS: No domingo falarei sobre o outro show do final de semana, da cantora Tarja Turunen no Canecão.

Abaixo, o Scorpions arrebentando no Rio de Janeiro. Na seqüência, “Still Loving You”, “Rock you like a hurricane”, “Wind of Change” e “Dust in the wind”.








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