
Baseado na história real de João Guilherme Estrela, ex-traficante da Zona Sul, hoje produtor cultural, o filme é calcado no talento de um inspirado Selton Mello e em coadjuvantes que brilham como Cleo Pires, a namorada interesseira Sofia, que o dispensa depois que ele preso, Júlia Lemmertz, a mãe de João Guilherme, Eva Todor, que vive uma traficante da terceira idade, e Cássia Kiss, como a juíza durona que teve a sensibilidade de perceber que João, mais do que um traficante era um menino que cresceu sem conhecer uma palavra fundamental na formação de qualquer criança e adolescente: limite.
É basicamente nisso que “Meu nome não é Johnny” ataca. A mãe dele afirma logo no início da história que não esperava que isso fosse acontecer nos seus piores pesadelos. “Não na minha família”, diz claramente, num sinal que para ela a vida era perfeita.
Tão perfeita que ela não via sinais da má educação que dava à criança ao não repreendê-la por estourar um morteiro em casa ou não ter sido mais atenta ao saber que o menino, apesar das boas notas na escola, era um tremendo arruaceiro.
Dirigido por Mauro Lima e com um inspirado roteiro de Mariza Leão baseado no livro homônimo, “Meu nome não é Johnny” toca numa das feridas das causas do absurdo – em quantidade e imoralidade – comércio de drogas do Rio de Janeiro.
É um ponto de vista que se junta ao de “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus” (2002) para montar um longo inventário ainda não concluído sobre as causas da degradação do Rio. Muitos são os culpados e o maior erro quando se entra nessa discussão é não considerar todas as vertentes.
Sim, o tráfico é culpa da classe média que consome, mas não apenas dela. É culpa do estado corrupto, do péssimo salário da polícia, da falta de oportunidade da população mais humilde, da falta de assistência do estado. Enfim, poderíamos ficar horas, infindáveis parágrafos listando todos os problemas.
“Meu nome não é Johnny” é apenas um recorte da realidade. Parte deste trágico inventário está feito. Mais filmes sobre o tema, sempre prolífico, serão produzidos e entrarão em cartaz. Ao menos até que seja resolvido de uma vez por todas esse câncer que é o comércio e o consumo de drogas no país. Resta ao estado agir. “Meu nome não é Johnny” não é ficção. É cruel realidade.
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