sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Vaidade

Quando dinheiro e vingança não estão em jogo, o que leva o ser humano a cometer um grave crime? Uma possível resposta é a vaidade. É ela um dos caminhos traçados pelo diretor Billy Ray para tentar explicar por quê Robert Hanssen (Chris Cooper), um devotado pai de família, cristão fanático e dedicado profissional do FBI, resolveu trair mais de 50 agentes e o próprio país ainda em meio a Guerra Fria para passar informações à União Soviética.

Em um dado momento do filme Robert, vivido pelo sempre ótimo Chris Cooper, diz a Gary Cole (Rich Garces), um rival dentro do Bureau: “Vinte e cinco anos de dedicação e você é quem tem uma sala com janela”. Parece bobagem, mas a vaidade é alimentada por essas pequenas e insignificantes coisas.

Mas mostrando que a investigação em “Quebra de Confiança” (Breach, no original) não se fecha numa única questão, Ray define Hanssen como um lunático patriota, que difere apenas no método em relação a um terrorista que ataca outros países. “É sempre o dinheiro”, afirma Dan Plesac (Dennis Haysbert, o presidente David Palmer da série “24h”). “Não te ocorre que eu posso ser um patriota querendo mostrar as falhas de nossa segurança alertadas no passado?”, questiona Hanssen para em seguida finalizar. “A razão não importa mais”. Ele já foi desmascarado. É réu confesso e para a justiça isso basta.

É por isso que muitos americanos não entendem porque Hanssen, preso desde 2001, traiu a pátria. Apesar de seus desvios sexuais (para os padrões americanos, diga-se de passagem), Hanssen era um modelo a ser seguido. Um exemplo de funcionário público para o país. Caiu pelo orgulho e por se sentir desprestigiado dentro da firma que dizia amar.

Se o porquê está aberto para as interpretações, a história ao menos gerou um excelente filme de espionagem. Aliás, mais um num ano em que já tivemos o também ótimo “O Bom Pastor”.

Embora parte desta bem sucedida película se deva à boa história e à sua adaptação na tela, é preciso também dar crédito às ótimas interpretações dos atores. Principalmente Chris Cooper. Costumeiramente escalado como coadjuvante, Cooper sempre roubou a cena nos filmes que participou. Foi assim em “Adaptação” (2002), “Syriana” (2005), “A Identidade Bourne” (2002) e Beleza Americana (1999). É um ator que domina facilmente a arte de interpretar e já merecia há tempos um papel de mais destaque.

Em “Quebra de Confiança” ele recebe um antagonista perfeito para o seu talento uma vez que tem a difícil tarefa de convencer o espectador da dualidade do seu personagem. Um homem verdadeiramente bom com a família em casa, mas diante do seu Deus apunhala pelas costas os companheiros de trabalho.

Se Cooper mostra sua rotineira qualidade, Ryan Phillipe surpreende. De ator limitadíssimo do terror “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado” (1997), Phillipe já havia apresentado evolução em “A Conquista da Honra” (2006). Mas é neste filme que, digamos, ele mostra ter mais umas três ou quatro expressões.

Phillipe fez um ótimo trabalho na composição do seu difícil personagem, Eric O´Neill, um jovem que sonha em ser um agente do FBI, mas deve amadurecer rapidamente para investigar aquele que foi um dos maiores casos da história do Bureau. Definitivamente ele não fez feio ao contracenar com Cooper e Laura Linney, que interpreta a sua chefe, Kate Burroughs.
Tantos ingredientes interessantes fazem de “Quebra de Confiança” um filme excelente para os que gostam de tramas de espionagem. Uma obra que não se completa no “The End” e passível de boas discussões especulativas.

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