sábado, 25 de agosto de 2007

Herói à moda antiga

John McClane (Bruce Willis) é um herói à moda antiga. É do tempo em que ao pegar um carro para perseguir o bandido ele dava a ignição provocando uma descarga elétrica ao juntar dois fios que (certamente) iam até o motor. De um tempo em que as cenas de luta dos filmes de ação se resumiam a um “bate você primeiro que eu respondo depois”. E eram socos honestos, brigas com quedas e muito quebra-quebra. Não havia nada de kung fu e lutas coreografadas por um especialista na área. Bons tempos os de John McClane. E é exatamente na exposição desse conflito de gerações que “Duro de Matar 4.0” ganha o espectador.

A aventura que marca o retorno de McClane é uma grata surpresa em meio a uma onda de “revivals” e franquias de gosto duvidoso. Vide “Rocky Balboa”, um filme, digamos, no máximo honesto. Ao contrário de Rocky, McClane envelheceu muito bem, manteve o seu cinismo e deboche característico e continua, por mais chavão que isso possa parecer, muito duro de matar.

Na nova aventura, entre as muitas loucuras do policial nada politicamente correto do Departamento de Polícia de Nova York, metade da cidade vem abaixo novamente sob o pretexto de ter de salvá-la. No caminho, McClane destrói um helicóptero jogando um carro em cima (“Eu estava sem balas”, simplesmente justifica) e consegue escapar de um jato F-35 dirigindo um caminhão. Até fica pendurado no avião. Absurdos fazem parte do cinema – principalmente quando se trata de McClane - e se você não embarca no filme ele jamais funcionará.

Mas o ponto forte de “Duro de Matar 4.0” não são os excelentes efeitos especiais e sim, como eu dizia, o conflito de gerações. Ao contrário de muitos de seus pares, McClane não fez o menor esforço para se adaptar aos novos tempos. Dirige o seu carro velho, não sabe mexer em computador e sequer tem celular. Continua ouvindo Creedence e nem sabe o que é The Cure, quiçá Amy Winehouse. O mundo atual é um tanto quanto enfadonho.

Vivendo das coisas boas do passado, McClane interrompe sua vida tranqüila em que a maior emoção é tirar a filha adolescente das garras de seus namorados para levar o hacker Matthew Farrell (Justin Long) de Nova Jersey até a sede do FBI em Washington. Mal sabe ele quanta dor de cabeça Farrell vai lhe causar. Isso porque o garoto está marcado para morrer pelos bandidos que o contrataram para ajudar a criar um colapso cibernético nos Estados Unidos.

A partir daí começa a dura jornada de McClane numa trama simples de entender, com um roteiro sem pontas soltas, sem devaneios mirabolantes dos vilões e permeada pelo contraste passado/presente nas peles de McClane e Farrell.

Bruce Willis, por sua vez, não perdeu a forma e o jeitão do velho policial do NYPD mesmo 19 anos depois do primeiro “Duro de Matar”. Ele prova que pode continuar fazendo filmes de ação como poucos e com muito mais substância do que seus companheiros dos anos 80 e os que vieram na esteira dessa geração.

Nenhum comentário: