terça-feira, 21 de agosto de 2007

Perdida no mundo

Grávida de dois meses, Zingarina (Asia Argento) está sofrendo pela deportação de seu namorado, Milan (Marco Castoldi), um músico que vivia clandestinamente na França. Mandado de volta para a Romênia, seu país natal, Milan não sabe do filho que nascerá. Zingarina resolve, então, partir em busca do seu grande amor se embrenhando na Transilvânia para retomar a vida feliz que tinha e finalmente se casar.

A julgar pelo início novelesco, “Transylvania” parece um mero romance com final feliz. Mas quando com meia hora de película, Zingarina encontra Milan e, para sua e nossa surpresa, é rejeitada percebemos que a obra de Tony Gatlif se encaminhará por mais tortuosos caminhos.

Rejeitada pelo homem que supostamente a amava, Zingarina é tomada por uma profunda dor na alma. Quer esquecer a vida, se isolar em outro mundo, falar outra língua e viver como se fosse outra pessoa. Por isso ela abandona a amiga Marie (Amira Casar), seu único elo de ligação com o passado que não mais deseja e vai viver uma nova vida.

No meio do caminho recebe a ajuda de Tchangalo (Birol Unel), um comerciante que vive de comprar e revender coisas velhas dos habitantes das cidadezinhas em que passa pela Romênia. Abandona o francês e passa a conversar com ele em inglês, uma língua universal para quem busca a compreensão dos comos e porquês de sua dor.

Zingarina precisa de Tchangalo não apenas porque não fala romeno e não pode se comunicar com os demais, mas porque precisa de um anteparo para os turbilhões emocionais pelos quais passa. É como se ela, na voz e belo corpo da atriz Asia Argento, soltasse um furacão a cada crise.

Muda-se a linguagem e também as roupas. Sentindo-se pária num mundo onde aparentemente só ela não alcançou a felicidade, Zingarina passa a se vestir como uma cigana, povo rejeitado até mesmo na Romênia onde vive um bom número de ciganos.

Largada em uma vida nômade onde banhos são atividade rara, Zingarina reencontra um pouco da felicidade perdida com Tchangalo. Homem de opinião oposta e mais pragmático do que ela – quando se conhecem no bar ele diz “eu venho atrás de ouro” ao responder à afirmação dela dizendo que estava atrás do amor – Tchangalo acaba descobrindo o amor naquela figura de comportamento tão doce quanto hostil, mas que aceitou embarcar na vida que levava.

Não fossem algumas pontas soltas no roteiro também escrito por Gatlif, “Transylvania” poderia ser um grande filme. À parte a boa química entre Argento e Unel, a película deixa a desejar em alguns momentos, principalmente ao não explicar porque Milan a rejeitou. Ele diz não gostar dela, mas não se mostra convincente, como se houvesse outro motivo por trás. Motivo, aliás, nunca mostrado.

Há de se lamentar também a falta de cuidado na hora das filmagens. Em pelo menos duas cenas, nota-se o microfone que capta o som pendurado como um corpo estranho se movendo na tela. Feio e primário, contudo não comprometedor do resultado da obra em si. Por outro lado, é no acabamento que “Transylvania” deixa a desejar.

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