quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A insana viagem para a Lua

Não é fácil ser astronauta
Muitos filmes já foram feitos sobre a conquista do espaço. Mas acho que poucos souberem retratar com tamanha acuidade esse desafio insano rumo ao desconhecido quanto Damien Chazelle em “O primeiro homem”. 

Mais novo trabalho do diretor que ficou mais conhecido pelo sensacional “Whiplash” (2014) e que venceu o Oscar de melhor diretor por “La La Land” (2016), “O primeiro homem” é uma cinebiografia. Supostamente deveria contar a história de Neil Armstrong (vivido por um Ryan Gosling contido, quase encurralado pelo desafio de ir até a Lua), mas isso é o pano de fundo de uma história ainda maior que é a o desafio de chegar aonde nenhum homem jamais estivera até então. 

Chazelle trouxe um realismo impressionante â experiência da corrida espacial. Levou para a tela o incomodo que é pilotar um foguete. A incerteza daquelas máquinas em plenos anos 60, pouco mais de seis décadas depois que o homem aprendeu a voar. Levou o medo, fez questão de esfregar nas nossas caras o quão insano e desafiador era até então ser um astronauta. E talvez seja até hoje. 

E ele expõe isso nas cenas nauseantes das máquinas balançando horrores. No isolamento e na solidão de se estar em órbita. Na tensão e na incerteza da volta. Na dificuldade de acertar cálculos tão difíceis para um humano normal compreender. Um erro é nada menos do que fatal. Tudo para chegar naquele momento em que se dá um “pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade”. 

No seu filme, a Lua está sempre à espreita. Ali, do alto, sendo observada, estudada, admirada, contemplada. E desafiando aqueles aventureiros modernos. A cada fracasso ela parece mais distante. A cada pequeno triunfo, ela surge mais perto. Alguns enquadramentos também ressaltam a dupla face do satélite natural da Terra. O lado escuro e claro na face de um Neil Armstrong preocupado com o futuro, no rosto do seu filho quando pergunta se ele pode não voltar. A Lua talvez tenha sido (e talvez continue sendo) um desafio tão grande quanto o das caravelas rumo ao desconhecido nos séculos XV e XVI. 

Para enfatizar tudo isso, Chazelle reduz a trilha sonora ao mínimo possível. Se “Whiplash” era um filme todo pontuado pela trilha, e “La La Land” era um musical de canções marcantes, “O primeiro homem” exalta o silêncio solitário da viagem para além da Terra pontuado apenas por canções épicas compostas por Justin Hurwitz – o mesmo de “Whiplash” e “La La Land” - para dramatizar os momentos mais marcantes. Em especial a partida da Apolo 11 de Houston e o pouso na Lua. 

“O primeiro homem” é um filme belo. Não é muito verborrágico e por vezes tem diálogos erráticos. Algo bem diferente dos trabalhos anteriores do roteirista Josh Singer, vencedor do Oscar por “Spotligh” (2015) e que também escreveu “The Post” (2017). A cena final de Neil Armstrong reencontrando a mulher (a ótima Claire Foy, a rainha Elizabeth nas duas primeiras temporadas de “The Crown”) é de uma beleza singular. Nada é dito naqueles minutos finais. É como se o silêncio do espaço e as incertezas permanecessem até a volta à Terra. Mas ao mesmo tempo muita coisa é dita naquela troca de olhares e pequenos gestos através do vidro. Cenas como essa valem demais o filme. 

Cotação da Corneta: nota 8,5

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