quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Salada mista

Tenha fé que você chega lá
Ethan Hawke gosta de falar, questionar e que seus personagens façam reflexões. Estão aí seus filmes feitos em parceria com Richard Linklater que não nos deixam mentir. Mas em “No coração da escuridão”, eu não sei onde ele quis chegar. De fato, eu não compreendi onde o diretor e roteirista Paul Schrader quis chegar com a história do reverendo Ernst Toller.

“No coração da escuridão” passa por uma série de situações. Temos um padre em conflito com um passado doloroso, temos um foco na questão ambiental e no aquecimento global, chegamos ao extremismo/terrorismo das ações e não encontramos respostas para nada. Talvez até não fosse o caso mesmo de encontrá-las, mas nem mesmo questões que provoquem uma reflexão profunda ao surgimento dos créditos no final do filme são levantadas. 

O planeta está se deteriorando pela ação humana que não cuida do ambiente? Ok, é verdade. Há empresários sem escrúpulos poluindo ainda mais o ambiente? Sim, é verdade. A política obriga a igreja até a fazer acordos com os demônios do mercado? É assim há mais de dois mil anos. O caminho do protesto é pela violência, pelo autoflagelo ou pelo amor? É isso que se quer fazer? 

É difícil compreender onde Schrader quer chegar. Ele tenta incutir uma “crítica social foda” ao contar a história do padre de uma congregação que precisa organizar o festejo dos 250 anos de uma igreja histórica nos Estados Unidos. No meio do caminho, ele precisa aconselhar um homem a não fazer besteira em sua luta em defesa do meio ambiente ao mesmo tempo em que a mulher deste homem, Mary (Amanda Seyfried) surge para buscar ajuda, mas também traz o conforto para a vida desse religioso ex-militar amargurado pela morte do filho na guerra do Iraque. 

Longas conversas sobre o papel da Igreja e da Bíblia surgem. A saúde do reverendo se deteriora na medida em que um provável câncer no estômago se manifesta cada vez mais forte. 

E para onde o padre de Hawke vai? Que caminhos o filme quer tomar? Parece que “No coração da escuridão” é uma salada de situações que não provoca de fato uma reflexão profunda. Da mesma forma que não traz muito entretenimento ao espectador. E ainda tem um final bizarro que pareceu jogar o filme num limbo em que nada faz sentido. 

Talvez a única coisa coesa e relevante do filme seja a segura atuação de Hawke. Ainda mais reforçada pela palidez do restante do elenco. 

“No coração da escuridão” abraçou muitos temas, mas não se aprofundou de fato em nada. Com isso, o filme ficou devendo. 

Cotação da Corneta: nota 4.

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