domingo, 20 de março de 2016

Muito fácil divergir

Será que do outro lado do muro é legal?
A série de filmes "Divergente" é tipo uma série B dos filmes de jovens garotas que vão à luta em busca de melhores salários, condições de vida e um namoradinho forte com olhar apaixonado de cachorro leal para chamar de seu. Enquanto "Jogos Vorazes" tinha algumas coisas interessantes, apesar daquele fim pífio padrão Manoel Carlos, os filmes de rima pobre "Divergente", "Insurgente" e "Convergente" (e ainda vem aí o "Ascendente", em escorpião) são um strike de ruindade e falta de malemolência. 

"Convergente", o filme, é o primeiro capitulo do final desta série de histórias baseadas nos livros de Verônica Roth. Seguindo uma tendência já apontada por "O Hobbit" e o próprio "Jogos Vorazes", a trilogia literária vira um quarteto de cordas cinematográfico quase sempre desafinados. 

Se os dois primeiros tomos da história da jovem Tris (Shailenne Woodley) já não eram grande coisa, parecia improvável que a parte I do final iria se redimir. 

Estamos num mundo pós-Kate Winslet, o que é sempre um mundo pior. Jeanine foi para a vala no filme passado e agora a Chicago distópica pós-apocalíptica  é comandada por Evelyn (Naomi Watts), a mamãe superprotetora de Quatro (Theo James) e sogrinha de Tris. 

Como vocês sabem, esposas e sogras nunca se dão bem na relação envolvendo o mesmo homem, então logo vai rolar um conflito e Quatro será macho o suficiente para romper o cordão umbilical. Afinal, ele é jovem, ela é jovem, e os dois querem sair da barra da saia da mãe de Quatro e descobrir o que tem do outro lado do muro. 

Mas o paraíso está longe de estar do outro lado do muro. Como Dorothy nos ensinou em "O mágico de Oz" (1939), "não há lugar como o nosso lar". 

Garoto malandro das docas destruídas de Chicago, Quatro logo percebe que tem caroço no angu higienizado de David (Jeff Daniels), o chefão de um mundinho-paraíso protegido por um campo holográfico. O difícil é convencer Tris disso, pois a menina está completamente EMBEVECIDA pelo seu novo status de roupas brancas da Chanel e bolsa Louis Vitton. A menina perdeu o foco, o EYE OF THE TIGER. O namoro balança. Mas sabemos que nestes filmes previsíveis o amor sempre vence (argh!). 

Nesse grande Big Brother distópico, só Quatro pode nos salvar. Enquanto a inocente Tris trará a pureza da sua liderança na esperança de dias melhores. 

"Convergente" ainda vai acabar no "Ascendente" (em touro) em 2017. Mas podemos dizer que este filme escorrega na qualidade estética. Shailene não tem o carisma de Jennifer Lawrence e nem chega perto dela como atriz. James, coitado, está ali só para mostrar a bundinha sombreada no banho de chuveiro desintoxicante para a diversão das meninas. E Naomi certamente não vai querer se lembrar deste filme como um dos trabalhos que mais se orgulhou na carreira. 

As discussões que o filme tenta propor (sociedade hiper vigiada, fragmentação, guetos, diferenças, imigração) não vão além da página 2. E a capa de entretenimento não satisfaz. 

Tudo acontece em banho-maria. Dos tiros às emoções. A única cena realmente legal é a de quando eles escalam o muro para descobrirem uma nova Chicago. É pouco e acontece logo no início. Esperemos que "Ascendente" (em aquário) traga alguma dignidade à série (agora que eu cheguei aqui, vou até o fim né). Para "Convergente" a corneta só poderá dar uma nota 3. Mas eu aceito subir para 4 se ganhar de presente uma coleção daqueles drones inteligentes. 

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