segunda-feira, 14 de março de 2016

Dois refrescos e a conta com: a Coxinha

A coxinha: melhor salgado
"Coxinha é vida, é povo, é massa"

Salgado secular crítica o desvirtuamento de sua imagem por disputas políticas
A Coxinha está passada. Um dia depois das manifestações que tomaram o Brasil de assalto (sem duplo sentido), o salgado favorito de muitos brasileiros reclama que desde 2014 vem sendo alvo do que considera ser "uma injustiça" e uma "campanha difamatória" contra uma história construída há gerações por sua família. Nesta entrevista exclusiva para a Corneta, a Coxinha pede que o seu nome não seja mais atrelado a um conflito ideológico e político no qual ela não pediu para entrar.

- Meu único desejo é alimentar esse Brasil - diz.

Conte-nos algo que não sabemos?

- Eu nasci há 200 anos atrás. E não tem ninguém nesse mundo que não tenha me comido demais.

Hahaha, Coxinha você é uma gozadora. Gosta de Raul Seixas?

- Ele é que gostava de mim. Adorava me comer.

Mas conte-nos mais sobre suas origens.

- Eu nasci oficialmente durante a industrialização de São Paulo no século XIX. Passei a ser vendida na porta das fábricas como uma alternativa mais barata às coxas de galinha, portanto vim muito antes de PT, PSDB e essas crianças militantes que agora estão desvirtuando o meu nome e a minha função social. Desde a eleição de 2014 eu venho sendo alvo de uma grande injustiça e uma verdadeira campanha difamatória contra o meu nome e o da minha família.

Incomoda você ter o seu nome associado aos almofadinhas de hoje em dia em manifestações como a de domingo?

- Sim! É um completo desvirtuamento do discurso político. Ao lado do Kibe, eu sempre liderei a preferência nacional da Frente Libertadora Salgado + Refresco a R$ 1,50. Sou do povo. Aliás, coxinha é vida, é povo, é massa!

E nunca foi bem vista na Casa Grande...

- Eu sou muito senzala. Eu alimento o trabalhador brasileiro pobre há gerações. E sou mais nutritiva que um Big Mac. Aliás, eu queria dizer que minhas primeiras versões nasceram na cozinha da princesa Isabel e o filho dela com o conde D'Eu me amava... Aliás, os ricos sempre gostaram de mim, mas sempre me comeram escondida. No escuro dos seus quartos. Nas festas deles, quem sempre brilha é aquele meu primo sem graça, o caviar.

Então quando alguém supostamente de classes mais abastadas ou que apoia determinados partidos políticos é chamado de coxinha você se irrita?

- Não posso aceitar ver o nome da minha família jogado na lama assim. Por que não voltam a usar almofadinha, que é um nome muito mais apropriado? Ou playboy? Eu brilho em festas de pobre em todo o Brasil. Quando eu chego com a minha turma, o Kibe, o Risole e aquela fofa da Bolinha de Queijo, fazemos a alegria da criançada. Só perdemos mesmo em preferência para o Brigadeiro, mas esse rapaz é imbatível. O Brigadeiro são os Beatles das festinhas.

O que você pensa de manifestações políticas como a que vimos neste domingo?

- Desde que você não defenda posturas autoritárias, golpes e outras medidas de regimes de exceção, eu prefiro ler como um retrato da democracia vibrante. E não importa a sua vertente política, sempre pode passar na lanchonete para me comer quando estiver com fome.

Coxinha pode ter catupiry?

- Eu não gosto. Respeito essa vertente gourmetizada, mas coxinha de verdade é só com frango. De preferência com algo entre 70% e 75% de sua totalidade composta por frango.

Mas e as coxinhas vegan da Bela Gil?

- Aff, essa menina tem problema. Não foi ela que colocou a pobre da melancia numa grelha?

Foi.

- Isso não se faz, gente. A Melly ficou toda assada. Veja bem, coxinha roots de verdade só tem frango. No máximo, catupiry.

Coxinha combina com o que?

- Refresco, suco natural. Até refrigerante está valendo. E pode também ser usada harmonizando num prato de comida. Mas com moderação.

A sua irmã que eu acabei de comer durante essa entrevista estava muito gostosa.

- Obrigada, querido. Servir bem para servir sempre. Esse é o lema histórico da nossa família.

Nenhum comentário: