sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Cotação da corneta: 'O homem mais procurado'

Seymour Hoffman, perfeito no papel
Certos filmes nos oferecem algumas reflexões. Momentos em que devemos pensar sobre que atitude tomar diante de determinadas situações. A reflexão que “O homem mais procurado” nos oferece é: devemos confiar nos americanos?

Ok, os americanos já salvaram o mundo incontáveis vezes. Seja com exércitos de um homem só como Rambo ou John McClaine, seja com grupos de heróis como os Vingadores. Ou até o presidente dos Estados Unidos! (Ah, “Independence Day”..). Eu só tenho pena do prefeito de Nova York, que gasta toneladas de dinheiro do orçamento para reconstruir a cidade a cada ameaça que surge.

Mas a pergunta que fica é: devemos confiar nos americanos? Principalmente se eles são chefiados por Claire Underwood (Robin Wright)? Quem vê “House of Cards” sabe que por trás daqueles olhos azuis existe uma mulher que vai te devorar vivo. E não será legal. Claire, você está com os cabelos escuros e exibindo o nome de Martha Sullivan no crachá da CIA, mas você não me engana. É com essa questão que o protagonista do filme terá que lidar.

"O homem mais procurado" é a nona adaptação para o cinema de um livro de John Lee Carré. Os livros do escritor inglês quase sempre dão bons filmes. O ultimo deles foi "O espião que sabia demais" (2011), um filmaço com Gary Oldman e Colin Firth.

Lee Carré é um adepto da espionagem roots. Gosta de uma história em que a ação está nos diálogos, no trabalho de formiguinha de agentes secretos que não fazem barulho e atuam nas sombras. Ele traz a espionagem para a vida real. Esqueça os filmes de James Bond, onde o agente secreto é um super-herói que salva o mundo sem amassar o terno. E ainda fica com todas as mulheres. Aqui os personagens são imperfeitos e a ação acontece quase sempre na moita, enquanto você vai na padaria. O jogo sujo é feito por baixo dos panos.

Transposto para as telas, as obras do escritor resultam em filmes intrincados, tensos e com personagens soturnos. Enfim, a vida de espião não é glamorosa e está cheio de gente querendo te dar bola nas costas.

"O homem mais procurado" é uma história de pescador. Gunther Bachmann (Philip Seymour Hoffman em um dos seus últimos trabalhos. Que triste perder um ator espetacular como ele), quer pescar um tubarão do terrorismo internacional. Ele é um empreendedor da espionagem. Faz concessões com peixes menores e limpa as arestas, para focar no que realmente interessa: pegar os grandes financiadores do terrorismo do planeta e tornar o mundo um lugar melhor (risos, por favor).

Com sua voz rouca e olhar desiludido da vida, Bachmann vai gastar três ou quatro bebidas e dúzias de cigarros arquitetando o seu plano de pescar o peixe grande com suas histórias. Mas, enfim, o mundo da espionagem não é uma equação matemática simples. Eu tenho a sensação que Bachmann poderia pensar: "Às vezes eu gostaria de ser James Bond". Não está fácil para ninguém, amigo.

Dirigido por Anton Corbijin (do muito bom “O homem misterioso”, um dos trabalhos em que George Clooney é menos George Clooney), "O homem mais procurado" é mais um prazeroso filme da safra Lee Carré. A corneta deixou o cinema desiludida do mundo e refletindo sobre a pergunta do início do texto. Devemos confiar nos americanos? Veja o filme e tire as suas próprias conclusões. Mas ela também saiu satisfeita com o que viu na tela. Por isso que “O homem mais procurado” vai ganhar uma nota 8.

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