segunda-feira, 5 de maio de 2014

O escalador de paredes brilha

Homem-Aranha e o Faísca, quer dizer, Electro
“Homem-Aranha/Homem-Aranha/Nunca bate/Só apanha”. Toda vez que eu vou ver qualquer filme do amigão da vizinhança, lembro dessa música que alguém criou a partir do tema de um desenho animado antigo do super-herói e que ganhou um sensacional cover punk rock dos Ramones. E como é legal ver que esse tema é exatamente o toque do celular de Peter Parker em “O espetacular Homem-Aranha 2: A ameaça de Electro”. Gênio. Parabéns aos envolvidos.

Quando a corneta vai ao cinema ver um filme do Homem-Aranha tem que lutar contra um sentimento de jogo praticamente ganho. Afinal, o aracnídeo sempre foi um dos meus três heróis favoritos. Fica ali junto com o Batman e o Wolverine (agora vocês sabem porque eu sou tão condescendente com os filmes dele). O Thor entraria nesse grupo, mas o Thor do cinema não é tão legal quanto o dos quadrinhos porque ele não fala em linguagem shakespeariana com legenda com frases na segunda pessoa do plural e  mesóclises. Lamentável. A mesóclise é a melhor coisa da língua portuguesa.

No caso de Peter Parker, ele é ótimo porque é gente como a gente. Um nerd que tem uma vida complicada em que nada dá certo. Que tem um chefe histérico, histriônico e maluco. Que tem problemas com as garotas, mas está sempre com um sorriso no rosto e contando uma piada. Enfim, Parker é um espelho de todos nós losers, mas nos dá uma esperança de dias melhores quando o vemos balançando pelos arranha-céus de Nova York. Deve ser por isso que ele é tão amado.

Lá se vão cinco filmes desde a primeira vez que Tobey Maguire vestiu o collant azul e vermelho do Aranha. Após dois trabalhos com Andrew Garfield já podemos fazer algumas comparações e considerações. Vamos a elas:

1) Não sou fã de reboots e era viúva de Maguire mesmo que o terceiro filme tivesse sido muito ruim. Mas é preciso reconhecer que "O espetacular homem-aranha 2: a ameaça de Electro" é tão bom quanto "Homem-Aranha", o primeiro filme lá de 2002.

2) Ok, eu me rendo. Andrew Garfield ganhou a minha simpatia com esse filme. Já o vejo perfeitamente na pele do herói. Ele ganhou pontos com sua atuação e parece mais à vontade no papel em um filme que é infinitamente melhor que o primeiro. Talvez por superar aquela fase de contar a origem. Ninguém aguenta mais filme de origem.

3) Se Garfield (o ator e não o gato preguiçoso dos quadrinhos) está quase do mesmo nível de Maguire, os filmes de Marc Webb tem uma vantagem em relação aos do Sam Raimi: o humor. Aquele humor do Homem-Aranha dos quadrinhos, o herói que faz uma piada em qualquer situação e debocha dos vilões é muito presente nesta nova fase e proporciona momentos únicos. É muito agradável o equilíbrio entre drama, comédia e aventura. Nesse ponto, o trabalho de Webb se aproxima de "Os Vingadores", de Joss Whedon.

4) Webb e seus amigos nerds responsáveis pelos efeitos especiais levaram a sério a frase do Tio Ben que acompanha Parker em todas a sua vida: "Grandes poderes trazem grandes responsabilidades". Isso significa que eu vou dizer uma coisa inédita. Finalmente temos um filme que vale a pena ver em 3D. Até então o 3D era uma picaretagem para tirar mais dinheiro do espectador honesto e trabalhador, mas "O espetacular Homem-Aranha 2" acaba com isso. O 3D é realmente uma atração a parte nas cenas de ação e nas diversas vezes que o herói transita pelos prédios de Nova York. São imagens realmente incríveis. Ultrapassa os melhores momentos do aracnídeo se balançando por aí.

E a história? Dessa vez o Aranha tem que enfrentar três vilões. Seu arqui-inimigo Duende Verde (Dane Dehaan), cidadão que tem uma obsessão patológica pelo herói, o Electro (Jamie Foxx) e sua carência irritante, e o malucão do Rino (Paul Giamatti). Fato que os três precisam de um psicanalista. Ao mesmo tempo tem que administrar um namoro vai não vai com Gwen Stacy (a fofinha da Emma Stone, maior celebridade com língua presa desde Cazuza e Romário, e namorada de Garfield na vida real). Os jovens vão se identificar com os momentos meigos dos dois.

É claro que vai dar merda. Afinal, estamos falando de Peter Parker. Algo sempre dá errado. E quem leu os quadrinhos sabe que neste filme estaremos diante de um momento importante na vida do herói. Não posso falar mais sob pena de revelar spoilers. E estou fazendo análise para tratar desse problema de língua solta cinematográfica. Só posso dizer uma coisa: que coragem de Marc Webb, meus amigos. Que coragem. Ainda me faz tudo com requintes de crueldade, quase tudo igual aos quadrinhos e logo no segundo filme!

"O espetacular Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro" é divertido, bem feito, engraçado, tem atores de calibre em papéis importantes (Sally Field é perfeita como Tia May), um protagonista carismático e um herói no melhor da sua forma. A corneta se rende completamente, sai do cinema de alma lavada e desejando um terceiro filme o quanto antes. E quem prestou atenção em alguns detalhes, sabe que o Doutor Octopus, a Gata Negra e Mary Jane vêm aí.

Diante desse Homem-Aranha ousadia e alegria de Marc Webb, a corneta se dá por satisfeita. A nota não pode ser nada diferente de
9,5. E fiquemos com os Ramones para alegrar o nosso dia. “Homem-Aranha/Homem-Aranha/Nunca bate/Só apanha”.

Ficha técnica: O espetacular Homem-Aranha 2: a ameaça de Electro (The Amazing Spider-Man 2 – 2014) – Andrew Garfield (Peter Parker/Homem-Aranha), Emma Stone (Gwen Stacy), Jamie Foxx (Electro/Max Dillon), Dane Dehaan (Harry Osborne/Duende Verde), Colm Feore (Donald Menken), Felicity Jones (Felicia), Paul Giamatti (Aleksei Sytsevich/Rino), Sally Field (Tia May), Marton Csokas (Doutor Kafka), Chris Cooper (Norman Osborne). Escrito por Alex Kurtzman, Roberto Oci e Jeff Pinkner. Dirigido por Mar Webb.

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