domingo, 9 de março de 2014

Cotação da corneta: '300: a ascensão do império'

Eva Green botando pra quebrar
Tenho calafrios toda vez que Hollywood se mete a fazer algum filme sobre algo que tenha ocorrido antes de Cristo. Afinal, o potencial para dar errado é grande. Relembremos alguns casos:
                  
1) Em "Alexandre" (2004), o personagem principal foi reduzido por Oliver Stone a um maluco ensandecido mais preocupado com os namorados do que em conquistar territórios e ainda tinha uma mãe manipuladora e quase da idade dele.

2) “Tróia" (2004) tinha tudo para dar certo com um elenco de primeira, Brad Pitt como o herói Aquiles e tal, mas só rendeu algumas cenas boas de batalha.

3) “Fúria de Titãs” (2010), que conta a trajetória de Perseu, é bem meia boca.

4) Assim como “Imortais” (2011), que pelo menos tem um vilão bom feito pelo Mickey Rourke. Aqui, o lance é contar a lenda de Teseu.

E olha que ainda não consegui ver "Hércules" ou "Pompeia", mas eles foram jogados de forma tão constrangedora no cinema, nas sombras dos filmes do Oscar e com trailers pouco empolgantes que desconfio que sejam duas bombas.

Por outro lado, há exceções louváveis. Cito "Gladiador" (2000), "Ben-Hur" (1959), "Spartacus" (1960) e “Cleópatra” (1963). Mas sempre acho que são exceções. Como também é "300" (2006), embora seja um filme que dividiu opiniões. 

Por ter gostado do primeiro, "300: a ascensão do império" tinha tudo para entrar nesse time ai de exceções. Além disso, eu gosto de tudo o que envolva os mitos, as lendas e as verdades da Grécia antiga. Portanto, a corneta já chegou no cinema amaciada e de bom humor, ainda que soubesse que o diretor do novo filme não era Zack Snyder, e sim o desconhecido Noam Murro, e Frank Miller não tivesse participado a gosto da sequência do filme baseado em sua graphic novel.

Mas a corneta não é otária. O novo 300 é:

1) inferior ao primeiro
2) menos inspirado que o primeiro
3) uma trama de vingança atrás de vingança sobre vingança. Povo cheio de ressentimento esse aí.

O filme se passa antes, durante e depois dos eventos no desfiladeiro de Termópilas (vocês vão entender vendo o filme), quando o rei espartano Leônidas fought for glory (essas coisas heroicas soam melhor em inglês) e pereceu diante das tropas persas do deus-rei Rodrigo Santoro, quer dizer Xerxes.

Nesse momento as cidades-estados gregas estão unidas - menos Esparta, que faz beicinho por causa da rivalidade padrão Gre-Nal com Atenas - e se preparam para uma batalha naval daquelas contra as tropas de Artemísia (Eva Green e seus hipnotizantes olhos verdes).

Do outro lado está Temístocles, o grande herói trágico do momento (a Grécia gosta dessas coisas). Excelente estrategista de batalha, great warrior e um líder nato. Ele comanda um grande contingente de guerreiros de barriga negativa para lutarem pela liberdade e democracia contra o império dos tiranos e reis. Aliás, o roteiro tem sempre que ter algum momento que mostra o quanto a Grécia é a paladina da democracia. Nada contra. Quem teve Sócrates, Platão e Aristóteles tem direito a pensar assim. Mas ficou meio forçado.

Temístocles só tem um problema no filme. Uma oratória de picolé de chuchu (não vamos citar políticos famosos para evitar processos). Quando ele fala, não empolga ninguém. Saudades de Leônidas. Quando ele discursava, eu tinha vontade de levantar da cadeira, pegar a minha espada e cravá-la em uns 15 persas. Como não lembrar máximas como: "Ready your breakfast and eat heaty, For tonight, we dine in Hell!". Temístocles só me fez coçar a minha barriga com alto índice de positividade.

Mas é o herói que nós temos. Para quem não sabe Temístocles realmente existiu. E foi um grande herói grego das batalhas de Maratona, de Artemisium e Salamis. Os dois primeiros eventos são mostrados no filme. Xerxes e Artemísia também existiram. Artemisia não era tão bonita quanto Eva Green. Longe disso. Mas era realmente a carne de pescoço que o filme mostra. Ela foi a única mulher a comandar uma frota de navios naqueles tempos.

Então é isso. "300: a ascensão do Império" é uma batalha entre nosso herói grego e a vilã grega de coração persa pelo domínio da Grécia. No meio dos dois, Xerxes é coadjuvante. Temos um uso abusado de sangue cenográfico voando para todos os lados e excesso de câmera lenta. Tudo é hiperbólico e kitsch no longa de Murro.

Temos um roteiro pouco inspirado e atuações apenas ok. Eva Green engole todo mundo. Assim como Lena Headey, a rainha espartana viúva de Leônidas. As mulheres são as exceções e estão acima de todos. As batalhas no mar Egeu, no entanto, são o ponto alto da festa em um filme que é para poucos. Talvez apenas para os fãs tarados e mais condescendentes de Frank Miller e/ou da Grécia Antiga.

A corneta saiu viva desta batalha. Ouviu o oráculo de Delfos e decidiu dar uma nota 6 para "300: a ascensão do império".

Deixo por fim uma pergunta retórica: colocar "War Pigs", do Black Sabbath, na trilha sonora foi uma ironia?

Ficha técnica: 300: a ascensão do império (300: rise of na Empire – 2014 – Estados Unidos) – Sullivan Stepleton (Temístocles), Eva Green (Artemisia), Lena Headey (rainha Gorgo), Hans Matheson (Aesiklos), Callan Mulvey (Scilias), David Wenham (Dilios), Rodrigo Santoro (Xerxes). Escrito por Zack Snyder e Kurt Johnstad a partir da graphic novel de Frank Miller. Dirigido por Noam Murro.

Nenhum comentário: