domingo, 16 de fevereiro de 2014

Cotação da corneta: 'Ela'

Theodore e seu sistema operacional
Imagina a situação. Você é um ator e recebe um convite para um filme em que vai fazer um par romântico com ELA. A Scarlett Johansson. Você diz:

- Legal, sempre quis trabalhar com ela.

Tudo bem, eu sou bobinho. Reconheço que não deve ter sido isso que você pensaria.

Mas este é um filme de Spike "um parafuso a menos na cabeça" Jonze. Spike é o cara de "Quero ser John Malkovitch" (1999). É o cara do ótimo "Adaptação" (2002), um filme daquela época que podíamos levar o Nicolas Cage a sério. Ou seja, um rapaz de algum pedigree é que não é chegado a filmes do tipo papai-mamãe.

Sorry, Joaquin Phoenix. Não foi dessa vez. Phoenix é Theodore, o protagonista de "Ela" e nos dá a chance de ver mais um bom trabalho. Um trabalho tocante, meigo, eu diria até fofo. Nada mal para um porto-riquenho com aspirações de ser rapper (esperamos que ele tenha abandonado este projeto paralelo).

"Ela" Um filme muito interessante. E duro também. É sobre as dores da solidão, sobre como no futuro vamos nos tornar cada vez mais apegados aos nossos smartphones, cada vez mais totalmente excelentes e perfeitos, que nem vamos reparar em quem está ao lado. Um futuro onde é possível comprar... emoções. Sad.

E angustiante. Angustiante como Spike Jonze usa os arranha-céus de Los Angeles (ou pelo menos é onde o filme se passa) para nos passar a sensação de frieza, distanciamento e desolamento dos personagens, que parecem só ter alguma satisfação com seus amiguinhos virtuais.

Mas nem tudo é ruim neste futuro. Os celulares são muito melhores que os Iphones de hoje e duram que é uma beleza o dia inteiro gastando bastante bateria sem precisar recarregar. #evolução.

E se você precisar de um novo amor, compre-o através de um sistema operacional altamente sofisticado e com a voz de Scarlett Johansson. Ele é tão perfeito e real que até discute a relação. 

Mas como é angustiante passar o filme inteiro ouvindo a Scarlett, quer dizer, "Samantha", sem vê-la. Imagine como é para Theodore não poder tocá-la, abraçá-la. Deve ter sido frustrante ser um par romântico de Scarlett nestas condições. Não há sacrifício maior para ganhar um Oscar. Isso é pior que perder peso, Matthew McConaughey! Mas... sorry, Joaquin. Não foi dessa vez que você ganhou uma indicação.

E Scarlett é tão perfeita, que você se apaixona só por ouvir a sua voz. Provavelmente é a melhor atuação da carreira da moça, mesmo sem aparecer em cena. Tá, eu gosto de "Moça com brinco de pérola (2003), gosto de "Vicky Cristina Barcelona" (2008), mas "Ela" é diferente. Samantha é também o melhor ser interpretado por um ator que não aparece em cena desde o Gollum.

"Ela" é uma espécie de "Mulher nota 1.000" (1985) melhorado. Muito melhorado. Samantha é um Hal, o computador de "2001 - uma odisseia no espaço", ainda mais inteligente e muito mais agradável. Tudo sem ser traíra. Ok, deu para entender por que Theodore pira por uma mulher que nem existe?

No fim temos uma mensagem edificante para aquecer o espírito e dar esperança aos nossos corações.  Obrigado, Spike. Foi bonito. A corneta vai dar a "Ela" uma nota 8.

Ficha técnica: Ela (Her – 2013 – Estados Unidos) – Joaquin Phoenix (Theodore), Scarlett Johansson (Samantha), Chris Pratt (Paul), Rooney Mara (Catherine), Amy Adams (Amy), Matt Letscher (Charles). Escrito e dirigido por Spike Jonze.

Indicações ao Oscar: Melhor filme, roteiro original, canção original (the moon song), direção de arte e trilha sonora.

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