sábado, 11 de janeiro de 2014

Cotação da corneta: Ninfomaníaca - volume 1

Joe curtindo a vida com culpa
A corneta iniciou os trabalhos de 2014 com um desafio: explicar um filme de Lars von Trier sem tê-lo visto. Se liga na saia justa. O filme não começa no cinema, a sala tem problema com o projetor. Velhinho sentado duas cadeiras a direita se manifesta.

- Está difícil né?
- É
- Esse filme é sobre o que? Eu não li a sinopse.
(Eu penso, reflito, como explicar para o cara que é um filme de Lars von Trier? Como explicar que é um filme que não dá para saber do que se trata sem ver, como "Dogville", "Manderley" "Anticristo" e "Melancolia"?)
- Ah, é meio louco
- É? Mas louco como?
- E pesado
- Pesado como? Muita violência?
- Não
- Sexo?
- É
- Opa! (Velhinho se ajeita na cadeira para ficar mais à vontade)

O velhinho se empolgou, mas não curtiu (ATENÇÃO! SPOILER!) quando por volta de 1h30m depois viu uma quantidade exorbitante de genitais masculinos enfileirados na cara dele de todos os tipos e tamanhos.

Realmente é desagradável. Mas isso é Lars von Trier. Em algum momento ele tem que ser desagradável, incomodar, provocar repulsa ou tudo isso junto. Algumas vezes é genial como em "Dogville" e "Anticristo" (dois filmes que eu amo). Outras nem tanto. Mas o trabalho dele o coloca na minha listinha de diretores top (a lista é minha e eu coloco quem eu quiser). Afinal, se eu gostasse de água com açúcar e final feliz veria novela.

E o que Von Trier me entrega agora com "Ninfomaníaca - volume 1", além de metade de um filme? Mais uma vez, Charlotte Gainsbourg sofrendo, se dilacerando em culpa como um personagem de Dostoievsky. Tudo por gostar de dar loucamente em qualquer situação. Algumas bem escabrosas.

A primeira parte é uma sessão de terapia embalada pelo Rammstein (o que é sempre uma boa pedida, como você pode conferir no no fim do post) e comandada pelo Stellan Skarsgard, chamado de Seligman no filme.

A conversa é muito mais excitante que qualquer cena safadinha. Vai de teorias sobre como pescar à literatura, passando por conceitos musicais. Coisa phyna.

De fato, Von Trier usa o sexo de uma forma tão sádica que provoca esgotamento e escancara o quanto a vida de Joe (a Charlotte) é vazia, oca, solitária, sem sentido. Enfim, uma merda.

Mas só saberemos os motivos disso tudo na segunda parte da terapia (ou nos capítulos finais do seu livro filmado) em março. Por enquanto, a corneta curtiu muito. Von Trier está de parabéns, viu. Nota 8,5 para o dinamarquês de parafusos a menos e ótimas ideias na cabeça.

Ficha técnica: Ninfomaníaca – volume 1 (Nymphomaniac – 2013 – Inglaterra) – Charlotte Gainsbourg (Joe), Stellan Skarsgard (Seligman), Stacy Martin (jovem Joe), Shia LaBeouf (Jerôme), Christian Slater (pai de Joe), Jamie Bell (K), Uma Thurman (Mrs. H), Willem Defoe (L). Escrito e dirigido por Lars von Trier.


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