sábado, 8 de setembro de 2012

Feriado com Alanis

Alanis Morissette/Reprodução da internet
Entre suas poucas aventuras cinematográficas, Alanis Morissette fez o papel de ninguém menos do que Deus no filme “Dogma”, de Kevin Smith, lançado há 13 anos. Naquela época, a cantora canadense tinha então 25 anos, quatro discos – sendo dois mundialmente conhecidos, Jagged Little Pill (1995) e “Supposed former infatuation junkie” (1998) - e ainda cantava com fúria e o seu característico jeito de andar para frente e para trás de lado para a plateia no palco a cada show e balançando o cabelo preto até a cintura. A plateia formada na sua maioria por adolescentes ou jovens adultos como ela a seguiam religiosamente e liberavam todos os seus fantasmas em canções contra namorados vacilões, as dores e os altos e baixos do amor.

Era basicamente disso que músicas como “You oughta know”, sempre uma das minhas favoritas, e “You Learn”, dois dos seus maiores sucessos do seu disco de maior sucesso, o “Jagged Little Pill”, com 33 milhões de cópias vendidas no mundo todo, tratavam em versos como “Did you forget about me, Mr. Duplicity?/ I hate to bug you in the middle of dinner/But it was a slap in the face/How quickly I was replaced/And are you thinking of me when you fuck her?” ou o refrão de “You Learn” que evoca o aprendizado a cada vez que você ama, grita, perde, chora e sangra.

O tempo passou e Alanis hoje é uma mulher de 38 anos resolvida com os seus fantasmas, casada com um rapper e pai de uma criança de dois anos. Seus fãs também cresceram e muitos dos que estiveram no Citibank Hall para reencontrá-la em mais uma de suas passagens pelo Rio são balzaquianos como ela e certamente estiveram na frente dela nas outras quatro passagens pelo Brasil. Mas o “Jagged Little Pill” é eterno no coração de todos e a canadense sabe disso.

O disco ocupa uma generosa porção da aproximadamente 1h40m do show da cantora no feriado de 7 de setembro. Uma apresentação que fez a alegria dos cariocas que decidiram não viajar para ver Alanis, que continua a mesma no palco, mas agora conta com uma nova, boa e afinada banda formada pelos guitarristas Julian Coryell e Jason Orme, pelo baixista Cedric Lemoyne, pelo baterista Victor Indrizzo e pelo tecladista Michael Farrell.

Assim como nos shows de 2003 e 2009, são sete canções do disco. Uma a mais até do que o bom álbum novo, “Havoc and bright lights”, e que motivou a atual turnê. Mas ao contrário dos shows anteriores (incluindo também o de 1999), Alanis resolveu dar uma atualizada, uma refrescada nos arranjos de seus “clássicos”. Alguns ganharam de sua banda arranjos que amainaram só um pouquinho a fúria. Outros ganharam solos de guitarra que agradaram bastante ao público. Foram mudanças sutis que praticamente só seriam percebidas se comparadas com vídeos da velha Alanis de anos atrás.

Nada que desagradasse o seu público. “You Learn” estava lá com Alanis dando a sua lição de crescimento sorrindo e quase dizendo ao seu público que a dor e o amor são necessários para a adolescente virar mulher. O recado ao ex-namorado em “You oughta know” ficou datado em uma nova vida cheia de “bright light” de agora, mas não é possível nunca tirar uma canção tão poderosa de um set list dela.

Assim como “All I really want” e sua indefectível gaita, também presente em “Head over feet”. E fica a reflexão de como Alanis abandonou a sua gaita nos discos posteriores, salvo algum engano do signatário. Ela nunca mais aparece no show que não seja numa música de “Jagged Little Pill”. Completam a lista do álbum a sempre fofa “Hand in my pocket” “Right through you” e o megasucesso “Ironic”, cantada com tanto fervor pelo público quanto “You oughta know”.

Mas Alanis não vive só do passado e ganha uma calorosa recepção para suas novas canções. “Guardian”, o primeiro single do disco novo, foi cantada pelos seus fãs como uma velha conhecida. Com versos como “Give me celebrity my kingdom to be famous/Tell me who I have to be/Starting to be famous”, “Celebrity” mostra que suas críticas se voltaram para as celebridades instantâneas que aparecem a cada momento e se perpetuam por mais de 15 minutos.

“Woman down”, que abre os trabalhos com Alanis no palco depois de “I remain” cantada com ela no backstage, “Lens” e “Numb” comprovam a qualidade do novo álbum, que nada tem de diferente do ponto de vista musical dos seus últimos trabalhos, embora “Havoc and bright light” seja superior a “So-Called Chaos” (2004), talvez o mais fraco da cantora, e “Flavors of entanglement” (2008), que, aliás, não tiveram nenhuma canção tirada para as 20 do show.

O set, por sua vez, recebeu poucas alterações em relação ao show de Curitiba e ao segundo show de São Paulo. Aqui foi tocada “Celebrity” enquanto na capital paranaense Alanis cantou “Spiral” e na paulista “Edge of evolution”. No primeiro show em São Paulo, as mudanças foram maiores com quatro músicas que os cariocas não ouviram: “Perfect”, “Forgiven”, “Citizen of the planet” e “21 things I want in a love”.

Nada que fizesse os cariocas que encerraram a noite em êxtase cantando “Uninvited” e “Thank U” lamentarem. Enquanto isso, Alanis distribuía sorrisos e agradecimentos pela sempre calorosa recepção do seu público. Já a sua banda tirava fotos dos fãs, que deixavam o Citibank Hall satisfeitos por terem ficado no Rio no feriadão para se reencontrarem com a canadense.

Set list: I remain (part 1), Woman Down, All I really want, You Learn, Guardian, Flinch, Right through you, Hands Clean, So Pure, Celebrity, Ironic, Havoc, Head over feet, I remain (part 3), Lens, You oughta know, Numb, Hand in my pocket, Uninvited, Thank U.


Abaixo a íntegra do show: 



Nenhum comentário: