quinta-feira, 14 de julho de 2011

O despertar do amor

Depardieu e Gisele como Chazes e Margueritte
É sempre prazeroso esbarrar em um filme que você jamais veria nas condições normais de temperatura e pressão e de repente descobre ser prazeroso e um trabalho que lhe garante pouco mais de uma hora de diversão. Foi o que aconteceu comigo nesta semana quando o destino na pele de uma amiga me colocou diante de “Minhas tardes com Margueritte”.

Claro que quando me foi proposto ver o filme, de início eu torci levemente o rosto. Afinal, o mau humor é uma condição inerente ao signatário deste blog. Além disso, não estava muito empolgado com a ideia sabendo que há dois filmes nos cinemas em que eu estava muito interessado em ver. Mas apesar da minha contrariedade, também sou aberto a novas experiências. Então lá fui eu ver o novo trabalho do Gérard Depardieu.

Ah, como foi delicioso quebrar a cara. Não porque “Minhas tardes com Margueritte” seja um filme sobre o tardio despertar do amor de um homem de meia idade vivido pelo astro francês, mas pela maneira como a história se desenvolve tendo a literatura como veia condutora para o clímax do personagem de Depardieu no seu belíssimo e tocante desfecho de escorrer lágrimas dos olhos.

Quem acompanha este blog há algum tempo sabe que eu tenho um fraco por filmes que envolvam a leitura e a literatura. É por isso que sou completamente apaixonado por “O Leitor” (2008), o filme de Stephen Daldry que divide opiniões, e “As Horas” (2002), do mesmo diretor, que deu o Oscar a Nicole Kidman pelo papel de Virgina Woolf, e contava ainda com as magníficas Meryl Streep e Julianne Moore. É por isso também que um dos meus filmes favoritos é “Fahrenheit 451” (1966), o brilhante trabalho de François Truffaut que é uma ode à literatura.

E é isso que me encantou em “Minhas tardes com Margueritte”. Na trama, Depardieu é Germain Chazes, um operário idiota, de parco conhecimento, sem muito rumo na vida e visivelmente carente que passa os seus fins de tarde observando pombos numa pracinha. Pombos que ele batizou porque, afinal, todos os pombos são diferentes.

Um belo dia ele conhece Margueritte (Gisele Casadesus), com dois “Ts”, jovem senhora de 95 anos que passa a freqüentar a mesma praça e observar os mesmos pombos num intervalo entre os livros que ela leva para ler.

A empatia entre o bruto e ignorante Chazes e a frágil e inteligente senhora que mora num asilo ali perto é imediata apesar das diferenças. Ao mesmo tempo em que Margueritte lê para ele, Chazes se encanta com esse mundo novo que lhe surge. Considera-se um derrotado enquanto a senhora sempre otimista diz que é sempre preciso começar de novo.

O ponto de partida para Chazes ampliar seus horizontes é o livro “A Peste”, de Albert Camus. O primeiro em que Margueritte lerá para ele e que ele tentará ler por conta própria. É a partir do romance de Camus que uma amizade sincera vai surgir entre os dois e Chazes vai não apenas encontrar o amor que lhe faltou desde a infância, quando se sentia maltratado pela mãe, como descobrir que apesar de sua ignorância ele é uma pessoa especial que pode fazer feliz a sua namorada Annette (Sophie Guillemin) e mesmo o filho que ela sonha em ter com ele, apesar de sua resistência por achar que nada tem a oferecer a uma criança.

É Margueritte quem o ajudará a superar seus traumas de infância e sorrir novamente para a vida enquanto ele vai se empenhar em não deixar que ela fique sem suas histórias, seus livros, apesar da doença que a fará ficar cega em pouco tempo.

Baseado no livro “La tête en friche”, título original do filme, de Marie-Sabine Roger, “Minhas tardes com Margueritte” é um drama, mas tem aqueles momentos de comédia que o fazem lembrar os trabalhos de Woody Allen. O diretor Jean Becker, que também assina o roteiro junto com Jea-Loup Dabadie, conduz o espectador de forma cativante enquanto se alterna entre os dois gêneros até o emocionante desfecho. Para quem sentia falta de um bom filme francês nesse ano, já não tenho mais esse vazio. Espero agora poder ver outros.

2 comentários:

Ana Paula Cardoso disse...

Marcelo, as vezes a gente ama e não fala que ama. Eu amo seus textos!!!

marcelo alves disse...

Obrigado. A gente se esforça