quinta-feira, 15 de julho de 2010

Um bom filme de Polanski

Encerrada a maratona futebolística da Copa do Mundo, Memórias da Alcova retoma suas atividades normais. Pretendo não sumir mais por muito tempo. A menos que a eleição me pegue da mesma forma que o Mundial da África do Sul. Tentando recuperar o tempo perdido, assisti à três filmes nos últimos dias, sobre os quais falarei com calma neste e nos próximos posts.

O primeiro deles foi o mais recente trabalho do diretor francês Roman Polanski. “O escritor fantasma” está quase saindo de cartaz, mas para quem não viu vale dar uma conferida. O tempo que demorei para assisti-lo, aliás, acabou sendo de certa forma benéfico, pois me afastou de tentar associá-lo à prisão do cineasta na Suíça e à tentativa de extradição para os Estados Unidos que acabou não acontecendo por causa do processo pelo qual ele é acusado de abusar de uma garota de 13 anos em 1977.

Pude me concentrar, portanto, apenas neste trabalho do diretor de “O Pianista” (2002). Inferior ao filme que lhe rendeu o Oscar, “O escritor fantasma”, porém, é um bom trabalho de Polanski. Embora nada na película tenha de diferente de outros filmes de suspense "investigativo/policial" – inclusive ele tem um clima soturno que lembra muito “Ilha do Medo”, recente trabalho de Martin Scorsese que esteve em cartaz antes da Copa -, o desenrolar da trama o prende diante da tela e você fica ali junto com o Ewan McGregor, o tal escritor fantasma do título, querendo juntar as peças do quebra-cabeça e tentando adivinhar esse enigma que começa a se formar a partir de um enredo simples: um ghost writer que tem que escrever a autobiografia do ex-primeiro-ministro britânico Adam Lang (Pierce Brosnan, o grande 007).

Lang, aliás, se parece muito com o velho Tony Blair, cuja popularidade despencou desde que apoiou incondicionalmente George Bush nas suas guerras no Oriente Médio. E Polanski e o roteirista Robert Harris criam a partir dessa história simples, “teorias conspiratórias” interessantes para conduzirem o seu filme.

A partir daí, cabe ao sempre talentoso Ewan McGregor, no seu melhor trabalho desde “Peixe Grande” (2003), embora nada profundamente marcante, dar as inflexões necessárias para te deixar com aquela pulga atrás da orelha e aquela frase na cabeça: “Aí tem”.

Tem muito, como mostra o desfecho da película que gera, no mínimo, um ponto de exclamação positivo de quem encontra uma curiosa surpresa. Por isso, “O escritor fantasma” vale o ingresso. Se você ainda conseguir comprá-lo.

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