sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Intermitências do amor

Submeter uma obra ao olhar mordaz e pouco amigo da crítica deve ser um desafio angustiante e doloroso, além de ter resultados imprevisíveis. Cada filme é como um filho que você gosta e vê-lo sendo destroçado por críticos sem alma e de coração gélido deve ser de despedaçar qualquer um. Sem contar que quem analisa o filme nunca leva em conta a maneira heróica que se faz cinema no Brasil. Basta contar as dezenas de patrocinadores de cada película nacional para saber o quanto aquele dinheiro foi suado.

Lina Chamie não é uma diretora estreante. Ela já fizera “Eu sei que você sabe” (1995) e Tônica Dominante (2000). Contudo, nota-se um certo nervosismo em sua voz, que pode ser em parte creditada a uma timidez (não sei, não a conheço) ao apresentar a obra. É natural. Submeter um filho sob avaliação não é fácil e ter um desprendimento de ignorar algo negativo – nunca vi diretores de cinema admitirem que um crítico estava correto – só deve ser fácil para diretores muito cascudos como Cacá Diegues, também presente à pré-estréia de “A Via Láctea” na terça-feira retrasada.

Espero que Lina não tenha visto a minha cara no final da exibição. Odiaria vê-la partindo para cima de mim com argumentos agressivos e pré-conceitos como já li em muitos direitos de resposta em jornais. Uma idéia, aliás, excelente, diga-se de passagem.

O fato é que sem conhecer sua obra pregressa para uma sempre importante comparação, achei a “Via Láctea” um filme ruim. Fraco mesmo. Faltou-lhe algo que se perdeu no roteiro deixando-o confuso.

É claro que cada sorriso de Alice Braga poderia amolecer qualquer coração. Até mesmo o meu. Certamente a interpretação dela e a de Marco Ricca, praticamente os dois únicos atores em cena, é louvável e digna de aplausos.

Mas o filme é confuso, por vezes arrastado. Outras vezes é chato mesmo com aquele vai não vai pseudolírico, a música que introduz ao nada, o silêncio que só leva o olhar para o relógio no pulso.

Antes da sessão, Lina disse que “A Via Láctea” era uma história de amor. É verdade. É uma tragédia urbana e uma reflexão sobre o tempo que perdemos com coisas menores ao invés de cultivarmos o essencial. Permeado a isso, tipos trágicos das ruas de São Paulo vão aparecendo em cena, ensinando o caminho ao personagem de Marco Ricca até o desfecho inicialmente improvável, posteriormente inevitável.

A premissa é boa, o final interessante, mas os caminhos tomados foram, para mim, equivocados. Ou eu não estava no clima e aberto o suficiente para receber a narrativa de Lina. Essas coisas acontecem. Críticos não são deuses. Apenas pensam que são.

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