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Tereza se recusa a ir para um asilo |
Com uma premissa relativamente simples, Gabriel Mascaro soube captar muito bem a nossa realidade para criar uma distopia brasileira que crítica o etarismo, o capitalismo e joga na nossa cara que que envelhecer é um processo natural da vida e não necessariamente um problema.
Ambientado no Amazonas e com uma fotografia belíssima e poética, “O último azul” conta a história de Tereza (a maravilhosa Denise Weinberg, uma das forças do filme), uma senhora de 77 anos que vive sozinha, trabalha e ainda tem sonhos a realizar.
O problema é que Tereza atingiu o limite de idade determinado pelo governo brasileira em que os idosos são retirados não apenas do mercado de trabalho, mas da vida ativa e do convívio de seus familiares e mandados para colônias onde vão basicamente para viverem o resto de suas vidas até a morte. O objetivo da medida é manter os jovens produtivos e sem a necessidade de cuidarem dos seus idosos.
Tereza, no entanto, se recusa a ir para o asilo. Ela tem sonhos a realizar. Ela deseja voar de avião, o que nunca pôde fazer, pois era uma mãe solteira cuidando de uma filha que agora não só não liga para ela, como tem a sua guarda, de acordo com as leis do governo. Ou seja, Tereza não só perde o trabalho como a própria autonomia de viver e tomar as decisões de sua própria vida.
Ao se rebelar contra o sistema e se recusar a ser tratada como mercadoria estragada, Tereza embarca numa jornada de afirmação da sua liberdade. A partir da busca pelo sonho de voar, ela cruza o caminho de diversos personagens e vive experiências que escancaram que a vida só tem um fim quando tem que ter e não por uma determinação do governo.
Na sua temática, “O último azul” me lembra muito o filme japonês “Plano 75” (2022), que também explora a questão do envelhecimento onde idosos são convidados a fazerem uma eutanásia voluntária aos 75 anos, mesmo que estejam saudáveis.
Na essência, os dois filmes tratam dos mesmos temos. O capitalismo na sua forma mais cruel e a idade sendo tratada como um fardo.
A vantagem de “O último azul” está na poesia de Mascaro, que aproveita a paisagem amazônica para mostrar não apenas a beleza, mas a riqueza cultural da região, com todas as suas contradições, aspectos positivos e negativos e que deviam estar disponíveis a todos. Independentemente da idade.
Nota 8/10
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