terça-feira, 15 de junho de 2021

"Cruella" e as justificativas para um vilão ser mau

Cruella pronta para estourar a boca do balão
Segundo filme da Disney focado em uma vilã do seu universo depois de “Malévola” (2014), “Cruella” não chega a ser uma tristeza completa como os dois filmes estrelados por Angelina Jolie, mas é preciso ligar a suspensão da descrença em modo turbo para justificar a origem das vilanias de Cruella de Vil (Emma Stone).

E esse é um problema de filmes focados em vilões que vimos também no “Coringa” (2019). A tentativa de normalizar o comportamento “psicopata” de alguém a partir de um trauma passado numa busca de encontrar ou criar camadas de profundidades que explorem uma humanidade daquele personagem que sabemos que é ruim. E por causa disso “Cruella” tem que rebolar muito para dar um sentido a uma pessoa que é má.

Não que os vilões não tenham que ter camadas e desenvolvimentos. É necessário e fundamental. Mas o antagonista não vive sem um protagonista. E quando o vilão vem para o foco do protagonismo, é preciso criar um antagonista que puxe ainda mais os limites anteriormente estabelecidos. No caso do Coringa era a sociedade decadente e caótica em uma vida miserável. No caso de Cruella, a figura da Baronesa (Emma Thompson), estilista extremamente cruel e egocêntrica que humilha todos os seus empregados e todos ao seu redor, os trata como lixo e tem uma personalidade absurdamente narcísica. Mais a frente entendemos, inclusive, a dinâmica entre ela e Cruella a partir de um plot twist, que não faz muito sentido e não funcionou muito bem.

A Baronesa, porém, acaba sendo o personagem mais interessante do filme. Mérito total de Emma Thompson. Emma Stone também não está mal, mas no duelo de Emmas, Thompson leva vantagem.

É questionável, porém, se funciona bem a dinâmica de rivalidade entre elas. Duas mulheres que se detestam por motivos que o filme tenta explicar a partir de um passado cujas verdades vão se descortinando com o passar do filme.

No fim, o que há de melhor no filme está na questão estética. Os figurinos e a maquiagem se destacam na produção, especialmente nos momentos em que Cruella está exibindo a sua arte para o mundo. A trilha sonora também é excelente, embora intermitente e sem deixar o filme respirar um pouco. Praticamente não há momentos de silêncio entre diálogos e música em mais de duas horas, jogando o filme numa desnecessária montanha-russa sonora.

Além disso, outro destaque é a carismática presença de Paul Walter Hauser no papel de Horace. O ator tem um ótimo tom cômico e todas as vezes que está em cena são cenas marcantes e divertidas.

Apesar destes destaques positivos, “Cruella” está longe de ser um grande filme. Ficou devendo. Mas talvez vejamos um segundo filme que, passada a fase do filme de origem, vejamos novas camadas sendo exploradas. Uma sequência de “Cruella” pode ser mais interessante e este filme mostrou uma história que tem potencial para crescer e não cair de forma decadente como a história de Malévola.

Cotação da Corneta: nota 5,5.



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