segunda-feira, 30 de junho de 2025

Os filmes e as séries de junho

"A vida de Chuck", "Homem com H" e "Andor"
Os filmes e as séries mais interessantes que eu vi em junho:

A vida de Chuck (The Life of Chuck) — Mike Flanagan se afastou um pouco do seu terreno do terror para fazer um dos filmes mais bonitos que eu vi neste ano. De certa forma, “A vida de Chuck” me fez lembrar um pouco “Peixe Grande e suas histórias maravilhosas” (2003), por causar um sentimento agridoce, mas também por ser um filme que é uma afirmação da vida.

Homem com H (BRA) — Sem sombra de dúvidas uma das maiores cinebiografias de um artista brasileiro. Soube abordar os pontos certos, fez a passagem do tempo de uma forma orgânica e aborda praticamente todos os pontos da carreira de Ney Matogrosso. 

É um filme para fã e para te transformar em fã. Um filme que sabe mostrar a dimensão e a grandeza de um artista como Ney Matogrosso. 

É muito bem editado e tem algumas tomadas magníficas que demonstram uma montagem brilhante. Nota-se isso muito claramente na cena da suruba e nos ganchos que ajudam a fazer a passagem do tempo. 

Jesuita Barbosa está monstruoso no papel principal. Ele encarnou o cantor. E o final do filme é a cereja no bolo. 

Só não achei perfeito porque não gostei muito do trabalho do ator que fez o Cazuza, A comparação com Daniel de Oliveira acaba sendo um pouco inevitável para quem viu “Cazuza: o tempo não pára” (2004).

Echo Valley (EUA) — Julianne Moore e Sydney Sweeney num filme cheio de reviravoltas do mesmo criador de “Mare of Easttown” (2021). Um deleite para quem gosta daquele gênero de filmes que trata de um crime e a complexa situação para solucionar um problema em meio a dilemas éticos e morais. Lamento apenas que a personagem de Catalina Sandino Moreno tenha sido pouco aproveitada.

Bailarina (Ballerina — EUA, HUN) — “Bailarina” não deve nada aos melhores filmes de John Wick. É uma história de vingança simples igual ao primeiro filme da franquia estrelado por Keanu Reeves e que tem todos os signos e as mitologias do universo criado pelo roteirista Derek Kolstad. 

As cenas de ação são incríveis e, embora eu ainda tenha dúvidas se Ana de Armas consegue entregar um bom trabalho como atriz, tenho certeza de que no que diz respeito a cenas de ação ela se sai muito bem. A atriz já havia brilhado do mesmo jeito em “007 — sem tempo para morrer” (2021).

A lamentar apenas a pequena participação da personagem de Catalina Sandino Moreno. Gostaria de ter visto uma dinâmica maior entre ela e Ana de Armas. Acabou sendo um buraco esquisito na história. Ainda maisdada a importância dela não só para vilão vivido por Gabriel Byrne como pela pequena revelação que é feita no filme.

Buraco este que talvez se justifique pelas fofocas de bastidores. Embora tenha sido dirigido por Len Wiseman, “Bailarina” passou por refilmagens por parte de Chad Srahelski, diretor dos quatro filmes de John Wick. Stahelski teria ficado insatisfeito com o trabalho de Wiseman. Mas, com exceção desta trama paralela, o filme não parece uma colcha de retalhos. 

A ressaltar também que este foi o último filme do ótimo ator Lance Reddick, que faleceu em 2023. E que o filme se passa entre John Wick 3 e 4. Portanto, não podemos nos empolgar. Ainda não sabemos se John Wick de fato sobreviveu em Paris. 

Extermínio: A Evolução (28 Years Later — ING, EUA) — Vinte e três anos depois do primeiro “Extermínio”, Danny Boyle e Alex Garland voltam a Inglaterra pós-apocalipse zumbi para nos mostrar como está a ilha depois de 28 anos do primeiro infectado. Temos novos elementos, caos e uma era das trevas enquanto o resto do mundo seguiu o seu curso natural. O estilo de Boyle continua o mesmo e o filme é pura diversão.

Levados pelas marés (Feng liu yi dai — CN) — Filme super experimental de Jia Zhang-Ke que começou a partir de filmagens que o diretor começou a fazer há 30 anos sem qualquer propósito além de experimentar diferentes técnicas de filmagem. Depois disso, Zhang-Ke pensou na história do casal que se desencontra em meio as transformações que a China passou nas últimas décadas. Tudo muito interessante.

Andor (EUA — Disney Plus) — Acabou a discussão. A maior trilogia de Star Wars é Andor — Season 1, Andor — Season 2 e Rogue One (2016). George Lucas que me desculpe, mas esta é a maior obra de Star Wars já feita. Inclusive, é um exercício interessante ver Rogue One, passar para Andor e depois rever Rogue One. Cassian Andor (Diego Luna, incrível, trabalho impecável) colocou até o nosso amado Han Solo (Harrison Ford) para trás. Tony Gilroy nos trouxe um mundo cheio de complexidades, personagens cinzas dos dois lados e uma ebulição política e social que devia ser o ponto central de Star Wars. No entanto, sabemos que esta é uma joia em meio a usina de venda de bonequinhos de Star Wars. Mas um dia voltaremos a nos encontrar em uma ou outra obra de arte da franquia. Afinal, “I have friends everywhere”.

O Eternauta (El Eternauta — ARG — Netflix) — Ricardo Darín tem cadeira cativa no meu panteão de artistas desde que eu era o único jovem sub-30 a ver os seus filmes nos “cinemas de arte” do Rio de Janeiro. Baseado na HQ de Francisco Solano Lopez esta série de ficção científica argentina é super bem produzida e conta a história de um grupo de pessoas que tenta sobreviver num mundo que vai sendo devastado por uma nevasca mortal. Depois, ela evolui para outras coisas que me deixaram curioso o suficiente para querer ver o que acontecerá na segunda temporada.

As quatro estações do ano (The Four Seasons — EUA — Netflix) — Baseada no filme de mesmo nome de 1981 de Alan Alda, eu acho que eu só dei play nesta série porque eu tenho visto tudo o que Steve Carrell e Colman Domingo têm feito nos últimos anos. É bonitinha e eu gosto de como a construção é feita a partir das quatro estações de Vivaldi. Valeu a jornada, mas definitivamente não era necessário anunciar uma segunda temporada.

domingo, 22 de junho de 2025

O futuro sombrio de Boyle e Garland em “Extermínio: a evolução”

Jamie e Spike tentando sobreviver
Extermínio: A Evolução (28 Years Later — ING, EUA — 2025)

Estrelado por: Jodie Comer (Isla), Aaron Taylor-Johnson (Jamie), Ralph Fiennes (Dr. Kelson), Rocco Haynes (Jovem Jimmy), Alfie Williams (Spike), Amy Cameron (Rosie), Jack O´Connel (Jimmy Crystal).

Roteiro: Alex Garland.

Direção: Danny Boyle

Em tempos de “The Last of Us” (2023-) e “The Walking Dead” (2010–2022) e seus mais diferentes spin-offs, não sei o que motivou o diretor Danny Boyle e o roteirista Alex Garland a revisitarem o mundo de “Extermínio” 23 anos depois de terem lançado o primeiro filme. Mas a julgar por “Extermínio: a evolução”, a dupla ainda tem algo a dizer e refletir sobre o mundo apocalíptico tomado por zumbis.

Quando lançaram “Extermínio” em 2002, Boyle e Garland estabeleceram um novo padrão para a representação dos zumbis. Se em clássicos como “A noite dos Mortos-Vivos” (1968) e “Madrugada dos Mortos” (1978) eles eram vistos como mortos-vivos que andavam lentamente, em “Extermínio” eles passaram a ser rápidos e agressivos, estabelecendo um novo padrão que foi copiado posteriormente em trabalhos como “Guerra Mundial Z” (2013) e “The Last of Us”.

Por estabelecer um novo padrão na representação das criaturas, o primeiro filme virou um clássico. Seu sucesso também pode ser creditado a trama simples: personagens que precisam sobreviver a uma série de ataques enquanto se deslocam de um ponto A para um ponto B. Por trás disso, a velha discussão de que os piores monstros são os humanos e como ao invés de se unirem contra um inimigo comum eles se comportam como… humanos diante de uma adversidade global.

Outro trunfo do primeiro “Extermínio” estava no estilo de filmagem de Boyle. Os primeiros vinte minutos me conquistaram de vez ao estabelecer a história e todas as regras daquele mundo. Tínhamos:

1) Causa — Um vírus da raiva altamente contagioso que passa de macacos a humanos.

2) Forma de contagio — Todo e qualquer contato de fluídos com o sangue humano significa doença imediata e a partir daí são dez segundos para a transformação.

3) Um protagonista confuso — Corte brusco, passaram-se 28 dias e vemos Jim (Cillian Murphy) acordado nu em um hospital. Não sabemos nada dele, ele não sabe nada do que aconteceu e porque está sozinho no hospital.

4) O estilo de filmagem — Boyle passeia do interior do hospital para uma Londres abandonada, causando em nós a mesma sensação de estranheza que causa em Jim. Os espaços amplos amplificam o vazio de uma megalópole sempre cheia como Londres, o corte rápido e um tremendo zoom, provocam o horror e um certo jump scare quando os zumbis atacam. Tudo é muito enxuto, com poucos diálogos. É dito apenas o necessário.

De certa forma, “Extermínio: a evolução” mantém os princípios do primeiro filme. O novo filme se passa 28 anos depois do contágio do paciente zero. Após quase três décadas, não existem mais cidades organizadas na Inglaterra. Aparentemente, temos tribos isoladas em ilhas enquanto os zumbis tomaram o continente. Pelo menos até o momento Boyle não quebrou a regra de que zumbi não sabe nadar.

No centro da história está uma família formada por Jamie (Aaron Taylor-Johnson), Isla (Jodie Cormer) e Spike (Alfie Williams). Jamie quer iniciar o filho de 12 anos no ofício de matar zumbis. Ir até o continente e matar o seu primeiro zumbi é como um rito de passagem daquela tribo de sobreviventes, que agora precisa se defender com arcos e flechas visto que não existe mais uma indústria armamentista na Inglaterra. Jamie sabe que é cedo para Spike, mas ele tem pressa em “torná-lo homem”. Spike, no entanto, está mais preocupado com a mãe, que tem uma doença em estado avançado que não consegue ser tratada por ninguém na ilha e que a faz alternar momentos de lucidez e delírios. Neste momento, não existem mais médicos formados ali.

O problema é que ao expandir as fronteiras do filho, Jamie também atiça a curiosidade de Spike pelo conhecimento e por desbravar novas fronteiras. E ao descobrir que há um médico vivendo sozinho no continente o Dr. Kelson (Ralph Fiennes), ele o vê como o único recurso possível para salvar a sua mãe. E assim está traçada a premissa de “Extermínio: a evolução”. Mais uma vez dois personagens precisam ir de um ponto A para o ponto B para cumprir uma missão e tentar sobreviver no processo.

Se ainda não sabem nadar, os zumbis de Boyle também evoluíram em comparação com o primeiro filme. Agora há zumbis rastejantes, que se alimentam de pequenos insetos e há os temidos alfas, zumbis que ao serem infectados ficam superfortes e são capazes de arrancar a cabeça com a espinha dorsal de um humano normal com as próprias mãos. Eles também resistem a mais do que uma flechada, sendo, assim, extremamente perigosos.

Assim como no primeiro filme, a câmera frenética de Boyle, que nos aproxima do horror, mas também nos brinda com tomadas belíssimas é um dos destaques. Se em “Exterminio”, a visão era de uma Londres ainda de pé, mas isolada e vazia, agora, Boyle filma campos lindamente verdes, flores, a natureza florescendo com a ausência da humanidade, mas marcada por zumbis que podem aparecer a qualquer momento, trazendo horror àquela beleza.

Gosto de como houve uma evolução da história de um filme para o outro e de como Boyle e Garland ampliaram o mundo dos zumbis, o dos humanos e também o entorno do centro do contágio. Como existem planos para que este filme seja o início de uma trilogia e o próprio filme tem um gancho que deixa o futuro em aberto, creio que podemos esperar mais alguns movimentos interessantes de Boyle e Garland no aprofundamento deste mundo de apocalipse zumbi.

Nota 7,5/10.

Film review: “A vida de Chuck” e “Operação Vingança”

Tom Hiddleston brilha no filme
A vida de Chuck (The Life of Chuck — EUA — 2024)

Estrelado por: Tom Hiddleston (Charles “Chuck” Krantz), Jacob Tremblay (Charles “Chuck” Krantz jovem), Benjamin Pajak (Charles “Chuck” Krantz criança), Chiwetel Ejiofor (Marty Anderson), Karen Gillan (Felicia Gordon), Mia Sara (Sarah Krantz), Carl Lumbly (Sam Yarborough), Mark Hamill (Albie Krantz), Q´orianka Kilcher (Virginia “Ginny” Krantz), Matthew Lillard (Gus), Violet McGraw (Iris), Kate Siegel (Miss Richards), Samantha Sloyan (Miss Rohrbacher), Heather Langenkamp (Vera Stanley), Nick Offerman (Narrador).

Roteiro: Mike Flanagan a partir do conto de Stephen King.

Direção: Mike Flanagan

Gosto quando um artista se arrisca fora de sua zona de conforto. Com um nome extremamente associado ao terror graças a boas séries de TV como “A maldição da Residência Hill” (2018)“A maldição da Mansão Bly” (2020) e “A queda da casa de Usher” (2023)Mike Flanagan resolveu levar uma das lições do seu novo filme para si e mostrar que também contém multidões, como no poema “Song of Myself”, de Walt Whitman, citado em “A vida de Chuck”.

Baseado num conto de Stephen King“A vida de Chuck” não deixa de ter um elemento até certo ponto de fantástico e de aterrorizante, mas o que pode ser mais aterrorizante do que a vida? Do que arriscar-se a viver? Algo que nem todos se propõem a fazer em meio aos medos e obrigações que atravessamos pela nossa existência.

“A vida de Chuck” é filme bem bonito. Causa estranheza ao começar pelo terceiro ato, mas aos poucos ele vai se construindo lindamente até montarmos todo o quebra-cabeças de referências que vimos no início nos dois atos restantes. Tudo para fechar com uma revelação que nos faz refletir como agiríamos se soubéssemos daquilo.

Muito bom ver Jacob Tremblay trabalhando. Ele que apareceu tão bem em “O quarto de Jack” (2015). Que atuação delicada e bonita de Tom Hiddleston, que faz o Chuck em sua fase adulta. Que casal fascinante fazem Mia Sara e Mark Hamill, que vivem os avós de Chuck. Ela, toda sabedoria, amor e leveza. Ele, pura razão, mas também amor, pragmatismo e ensinamentos importantes.

“A vida de Chuck” me fez lembrar um pouco “Peixe Grande e suas histórias maravilhosas” (2003), por causar um sentimento agridoce, mas também ser um filme que é uma afirmação da vida. Pode não ser o melhor filme do mundo, mas vou sempre lembrá-lo por sua beleza e delicadeza.

Nota 8/10.

Mais um filme fraco de Malek
Operação Vingança (The Amateur — EUA — 2025)

Estrelado por: Rami Malek (Charlie Heller), Rachel Brosnahan (Sarah), Jon Bernthal (The Bear), Evan Milton (Slater), Holt McCallany (Diretor Moore), Julianne Nicholson (Diretora O´Brien), Barbara Probst (Gretchen Frank), Joseph Milson (Ellish), Marc Rissman (Mishka Blazhic), Michael Stuhlbarg (Schiller), Laurence Fishburne (Henderson), Caltriona Balfe (Inquilline).

Roteiro: Ken Nollan e Gary Spinelli a partir do livro de Robert Littell.

Direção: James Hawes.

A essa altura do campeonato e seis anos depois do fim de “Mr Robot” (2015–2019), já podemos dizer que Rami Malek não é exatamente um grande ator. Apesar de ter feito um bom trabalho ao interpretar o jovem brilhante e altamente instável emocionalmente na famosa série de TV, tudo o que o ator fez na sequência foram variações das caras e bocas do Elliot de “Mr Robot”. Incluído aí o seu Freddie Mercury de “Bohemian Rhapsody” (2018), cuja vitória no Oscar ainda tenho dificuldades de compreender.

“Operação Vingança” é só mais uma variação deste mesmo tema. Pior. Depois de tantos personagens diferentes em que não conseguiu trazer minimamente novas camadas, Malek volta a interpretar aqui um especialista em cibersegurança genial e que se vê diante de uma missão pessoal. No caso do filme, vingar a morte da esposa, que fora vítima de um atentado terrorista em Londres.

Filmes sobre vingança não costumam ser ruins, mas “Operação Vingança” abusa demais da minha suspensão de descrença. Elliot, quer dizer, Charlie Heller, o novo personagem de Malek, não tem instinto assassino, mas fábrica bombas como ninguém. Como quer saciar o seu desejo para ontem, ele até chantageia os colegas da CIA. Colegas estes corruptos, é claro, pois nosso herói atrapalhado que não sabe sequer empunhar uma arma, precisa ter a nossa simpatia numa jornada de vingança que passeia pelo mundo bem ao estilo James Bond.

No fim, depois de passarmos o tempo todo ouvindo que ele não tem um instinto assassino, somos agraciados com uma filosofia de botequim em pleno alto mar antes de Heller dar o xeque-mate no vilão. Acho que podíamos ficar sem essa.

Duas coisas me chamaram a atenção neste filme que se revelou extremamente genérico e anódino:

  1. Como pode um único homem, por mais brilhante que seja, enganar TODA a CIA em sua operação clandestina. E toda a inteligência mundial, porque ele viajou muito em sua jornada de vingança.
  2. O que deve ter convencido tanta gente boa a trabalhar neste filme? Ele tem Rachel BrosnahanLaurence FishburneJon BernthalMichael Stuhlbarg e Holt McCallany. Tudo bem que nenhum deles faz parte da a lista A de Hollywood, mas são atores bons e famosos o suficiente para estarem num filme melhor. Ou são muito amigos do diretor James Hawes ou são muito fãs dos romances de espionagem de Robert Littel, cuja obra se baseia o filme. Eis um mistério que nem Charlie Heller conseguiria solucionar.

Nota 5,5/10.

sábado, 14 de junho de 2025

Film review: “Echo Valley” e “Mountainhead”

Não é nada fácil ser mãe

Echo Valley (Echo Valley — EUA — 2025)

Estrelado por: Julianne Moore (Kate Garretson), Sydney Sweeney (Claire Garretson), Domhnall Gleeson (Jackie Lawson), Fiona Shaw (Leslie), Edmund Donovan (Ryan Sinclair), Albert Jones (Detetive Ballard), Kyle MacLachlan (Richard Garretson).

Roteiro: Brad Ingelsby.

Direção: Michael Pearce.

Peguei este filme para ver somente por causa da sua dupla de atrizes: a consagrada e quase sempre excelente Julianne Moore e a estrela em ascensão Sydney Sweeney, que desde a série “Euphoria” (2019) vem me chamando a atenção. Aliás, muita gente boa saiu deste série da HBO estrelada pela Zendaya e têm constantemente aparecido em outras produções tanto de cinema quanto de TV/streaming.

Assim meio sem saber nada além de ter visto um trailer que não me dizia muita coisa para além de uma complexa relação entre mãe e filha, cada uma vivendo seus graves problemas, e da presença de um corpo, embarquei no filme. E que grata surpresa.

Escrito por Brad Ingelsby, que também escreveu a excelente série da HBO “Mare of Easttown” (2021)“Echo Valley” é um deleite para quem gosta daquele gênero de filmes que trata de um crime e a complexa situação para solucionar um problema em meio a dilemas éticos e morais.

No meio disso, temos uma mãe em luto pela morte da esposa e com problemas financeiros para manter a sua fazenda, uma filha viciada em drogas e imprevisível, e um bandido igualmente imprevisível vivido por Domhnall Gleeson, que está muito bem no filme.

E mais do que isso não se pode dizer para não estragar toda a experiência do filme. A única conclusão óbvia é a constatação de que não é nada fácil ser mãe.

Nota: 8/10

Estamos perdidos nas mãos de bilionários
Mountainhead (Mountainhead — EUA — 2025)

Estrelado por: Steve Carrell (Randall), Jason Schwartzman (Souper), Cory Michael Smith (Venis), Ramy Youssef (Jeff), Daniel Oreskes (Dr. Phillips), Hadley Robinson (Hester), Ava Kostia (Paula).

Roteiro: Jesse Armstrong.

Direção: Jesse Armstrong.

Havia muito potencial em “Mountainhead”, mas parece que faltou ao roteiro ser um pouco mais bem lapidado. Especialmente no terço final do filme.

A ideia de Jesse Armstrong, o criador da excelente série “Succession” (2018–2023), de falar da cultura extremamente tóxica dos tecnofascistas em meio a um cenário de caos mundial extremamente perturbador e realista causado por inteligência artificial e deep fake era um tiro certeiro para o momento absolutamente preocupante em que vivemos.

Se por um lado Armstrong foi feliz em deixar bem claro como estamos enquanto sociedade nas mãos de verdadeiros imbecis bilionários, por outro senti falta de um pouco mais de profundidade no roteiro. E também das tiradas espertinhas e dos jogos de câmera que tanto víamos em “Succession”.

Não que Armstrong precisasse se repetir, mas era muito claro que ao fazer “Mountainhead”, o diretor escolheu ficar em sua zona de conforto em sua estreia no mundo dos filmes. Ou seja, falar da vida de bilionários e os ridicularizar no processo.

No fim, o filme parece um episódio menor de “Succession”. Mas nenhum dos quatro bilionários chega perto do Logan Roy de Brian Cox e isso faz muita diferença.

Até certo ponto diverte. Mas em um mundo em que o fascismo avança de forma galopante enquanto tentamos nos segurar contra o colapso da sociedade, o filme não deixa de causar uma certa apreensão. Principalmente porque sabemos que estes tecnobilionários estão entre os grandes culpados por este momento complicado em que vivemos.

Nota: 6,5/10