quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Animais Noturnos

Amy Adams está muito bem no filme
Existem diferentes formas de mandar um "Oi, sumida". Mas poucas são mais criativas e trabalhosas do que a de enviar um manuscrito de um livro pronto dedicado à pessoa. É o que Edward Sheffield (Jake Gyllenhall) faz com Susan Morrow (Amy Adams) no início de "Animais Noturnos" dando um pontapé inicial em uma história cheia de contrastes, tristeza, passagens soturnas e uma grande beleza. 

Novo trabalho do estilista Tom Ford, "Animais Noturnos" mantém algumas das mesmas características de "Direito de Amar" (2009). Esteticamente é um filme bonito. Por ser um diretor que vem do mundo da moda, o cuidado com o figurino e a maquiagem é notável. De um lado, o mundo atual da galerista Susan, asséptico, monocromático e simétrico. Escuro como escura é a maquiagem que ressalta seus olhos tristes como os de sua mãe. O mundo real é frio, cheio de retas e frieza entre as relações. 

Do outro, temos a paisagem amarela do Texas, seu calor, sua impulsividade que grita e comete atos extremos, inclusive de violência extrema. É dor, é drama, é vingança e ódio. 

Os dois mundos, o real e o literário, se conectam por passagens da vida de Susan. Afinal, o romance é dedicado a ela. Mas por que Edward a dedicou uma história tão regada de violência e traumas? São questões que passam pela cabeça de Susan enquanto reflete sobre o relacionamento do passado e o atual com o indiferente Hutton (Armie Hammer) e as escolhas que ela fez na vida. 

O livro a intriga, a história a perturba. Edward a chamava de animal noturno pela frequente insônia que sofria. O livro chama-se "Animais Noturnos", homens que cometem uma violência extrema e gratuita apenas porque acham que podem fazer isso sem serem pegos pela polícia. Faltou combinar com Bobby Andes (Michael Shannon), disposto a ir até para além da margem da lei. 

Será o livro uma vingança dele pelo que ele sofreu? Afinal, Edward diz que os escritores sempre escrevem sobre si mesmos. E por isso Gyllenhall vive Edward e o personagem fictício de seu romance, Tony Hastings, homem que vê sua mulher e filha serem estupradas e assassinadas por um bando liderado por Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson).  

Por mais brutal que seja, Susan não consegue largar a história. Finalmente o ex-marido atingiu o talento que ele nunca acreditou para ele e para si mesma como artista. Virou uma galerista famosa, mas poderia ter sido mais?

Tom Ford deixa as questões no ar para o espectador refletir. O que ele entrega de mão beijada é apenas um filme bonito, uma história muito bem contada e um trabalho de muita classe que te prende sem querer levantar da cadeira. Por isso, "Animais Noturnos" ganhará da Corneta uma nota 8.


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