Enfim, sós, e para sempre |
Tenho a leve
impressão que o cinema quer entrar na era dos romances interestelares. Nas
salas, o trailer de "O espaço entre nós" deixa isso claro com a
história de um garoto que nasce em Marte e se apaixona por uma moça na Terra.
Já em cartaz, "Passageiros" é outro filme padrão Meg Ryan a te
enganar numa roupagem de ficção científica.
"Passageiros"
se passa num futuro distante em que a humanidade encontrou alguns planetas para
colonizar (mas aparentemente a Terra continua muito bem habitável) e, claro,
existe uma empresa que explora isso. O problema é que o novo planeta é
distante. Tipo, leva 120 anos para chegar lá. Mas para evitar que morram no trajeto as pessoas ficam em estado de animação suspensa,
hibernando até faltarem quatro meses para aterrissarem para uma vida nova e
próspera.
Mas alguma coisa dá
errado (se não desse não teria filme). E Jim Preston (Chris Pratt) acorda muito
antes do tempo. Mais especificamente, com apenas 30 anos de viagem. Depois
que entende a situação, Jim pensa: "Fudeu, estou condenado. Vou morrer
aqui sozinho e nem todo o uísque do mundo que o androide boa praça do bar (Michael
Sheen) tem para me servir vai afogar minhas mágoas”.
Não é fácil viver
nestas condições e, por um momento, Jim ensaia ser uma espécie de náufrago interestelar.
Tenta viver da melhor forma possível, deixa a barba crescer naquele padrão
estabelecido por Tom Hanks para filmes de náufragos, tem depressão, alegria com
as conquistas, sofre, ri... Mas com o tempo passando, depois de um ano sozinho,
o tédio toma conta dele. Até que Jim tem a ideia de não ficar mais sozinho
nessa roubada.
"Tem outras
4.999 almas aqui. Não é possível que isso só aconteça comigo". Então Jim
procura a mulher (claro, tem que ser uma mulher né) mais bonita das cápsulas de
hibernação e trata de acordar ela. É onde entra Aurora Lane (Jennifer Lawrence,
amiga, você já fez escolhas de roteiro melhores).
Aurora é
jornalista. Logo, se acha profunda conhecedora da alma humana. Logo quebra a
cara. No início, se desespera como Jim, depois luta menos e, por fim, entra na
fase da resignação.
Só que... humanos
são animais. Jim é macho. Aurora é fêmea. Captou? É ÓBVIO que ia rolar algo
entre eles. Afinal, só existem eles! E assim, os jovens se apaixonam, vivem uma
lua de mel intergaláctica, sentem borboletas no estômago, veem passarinhos...
já cansou de tanta coisa melosa? Aí eles brigam, porque até barmens androides
são fofoqueiros. Aí eles se reconciliam. E vivem felizes para sempre. Argh!
No meio disso tudo,
a nave tem um problema para eles consertarem e salvarem as pessoas que ainda dormem
no sono dos inocentes.
As reflexões que o
filme poderia suscitar passam ao largo da história dos pombinhos.
"Passageiros" é raso, pouco inspirado e não acrescenta quase nada.
Apenas dois rostinhos bonitos tendo uma aventura no espaço profundo. Diante
disso, a Corneta dará para o filme uma nota 4.
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