O belo cânion de Capitólio, onde as pessoas podem passear de barco e nadar/ Marcelo Alves |
Depois da parte I do "Minas Facts", chegou a hora da Corneta Travel and
Adventures divulgar a parte II desta viagem pela Minas PROFUNDA. Sem mais delongas, vamos às impressões malemolentes de
Capitólio e adjacências.
1- Capitólio, vocês sabem, é uma
civilização avançada no meio do nada na Minas profunda. Mal comparando, é uma
espécie de Atlântida mineira.
2- É em Capitólio que você melhor
aproveita o chamado MAR DE MINAS. Sim, gente, eu não estou bêbado. Minas tem
mar. Cortesia do incomensurável (até eu pesquisar o tamanho) lago criado a
partir do Rio Grande pela usina hidrelétrica de Furnas.
3- Aliás, é na região que você tem a
chance de ver a imponência e a agressividade de uma hidrelétrica. É
simplesmente impressionante. Mas não visite a área se tiver marca-passo. Não me
pergunte o motivo. Estava escrito lá.
4- "É tão lindo, gente. É uma
coisa de Deus mesmo", disse uma jovem perto de mim diante da beleza do
lago entre as montanhas. Fiquei com vontade de dizer que não era coisa de Deus,
mas de uma empresa, mas não quis cortar o barato dela.
5- Tal qual lugares de praia
europeus, Capitólio oferece passeios de barco pelo lago. É quando você tem a
oportunidade do conhecer um CÂNION. E nadar naquela água verde cristalina em
uma temperatura para lá de agradável.
6- Como nem tudo são flores, esses
passeios podem ser muito mal frequentados por uma geração de jovens farofeiros
que ficam ouvindo música alta, fazendo arruaça e rebolando em cima de barcos.
Por comportamentos assim que os tucanos se afastaram do vale deles, o vale que
era o habitat destes pobres animais. Agora, os únicos tucanos que frequentam a
área são os da espécie politicus brasilianis.
7- Mas nada foi mais ostentação,
ousadia e alegria do que ter visto um casal tomando champagne na cachoeira do
cânion.
8- Falar em ostentação, é falar de
uma descoberta impressionante desta viagem. No trajeto pela Minas profunda,
vimos áreas pobres, humildes, de classe média. Tudo normal deste Brasil que
conhecemos. Mas não estava preparado para um enorme bairro/condomínio de
milionários encravado em Capitólio. Chama-se Escarpas do Lago e tem certamente
um dos maiores PIBs do Brasil. São mansões com até seis carros na
garagem (Porsches, Audis, Mercedes, etc...), jet skis e lanchas particulares e
até áreas para o pouso de helicópteros! (Quando você já não tem um helicóptero
simplesmente estacionado no jardim). Eu nunca pisei num lugar cujos
contracheques fossem com tantas fileiras de números.
9- Como dinheiro não compra classe,
eu vi um jardim com uma enorme estátua de um leão rugindo. Óbvio que tem gente
brega na área.
10- Precisamos falar sobre as rádios
do interior de Minas. Amigo, elas só tocam sertanejo universitário. O tempo
todo é o único ritmo, aquele balanço de dor de corno e rimas épicas como a de
um cantor que tinha uma música cujo refrão rimava NÉ com QUER e com É. Outra
canção rimava BUMBUM com HUM-HUM. (É sério!)
11- Diante desse monopólio rítmico,
fui fazer uma investigação antropológica para entender os motivos do sucesso
presenciado nas ruas e estradas do interior mineiro. Fui para uma festa de
réveillon com um show de sertanejo universitário que aconteceria na pacata
cidade de Pimhui (NOVE minutos de fogos #ChupaCopacabana). Fiquei impactado com
este mundo paralelo do Brasil profundo, com um povo que conhece todas as letras
dos grupos e LOUVA a sofrência com uma emoção daquelas de jogar as mãos para o
alto e declamar com os olhinhos fechados. E eu não sabia sequer da existência
da dupla em questão.
12- Mas o que é o sertanejo universitário?
Basicamente um ritmo em que as pessoas dançam flexionando os joelhos em 17
graus em dois tempos para cima e dois tempos para baixo, dois tempos para um
lado e dois tempos para o outro. Tem aquela levada pop e um número limitado de
acordes. Salvo os momentos em que o guitarrista fazia um solinho que surgia
meio fora de esquadro no contexto do show, acho que até eu poderia me arriscar
como guitar hero de dupla sertaneja. E parece que isso dá dinheiro.
13- Linguiça parece ser um negócio
que mineiro adora. Em todo lugar na estrada você encontra o pão com linguiça
(ou melhor, linguiças), todo restaurante tem linguiça e eu vi até uma oferta de
pão de queijo com linguiça! Infelizmente, não experimentei. Afinal, pão de
queijo tem muita imprensa. Sempre preferi broinha.
14- McDonald's? Lojas Americanas? São
lendas em Capitólio. Assim como edifícios e táxis. Isso só existe em novela da
Globo.
15- A região tem uma série de trilhas
que levam para cachoeiras. Umas bonitas, outras com gente farofeira. É preciso
escolher bem para não cair no conto do povão com churrasquinho e Skol litrão. A
"Trilha do Sol", por exemplo, é maravilhosa e tem cachoeiras bonitas
que surgem após caminhadas por lugares também bonitos. Segundo melhor lugar de
Capitólio.
16- Mas é claro que você paga para
entrar nas melhores cachoeiras. Não existe banho grátis, amigo.
17- A região não é muito pedestre
friendly. Os passeios são distantes. Juntando isso com a cultura rodoviária do
Brasil, que não tem trem, nem serviços de ônibus satisfatórios, torna
desafiador visitar a cidade sem carro. O que é uma pena.
18- Capitólio também mostrou ainda
não estar 100% preparada para o turismo. Algumas coisas deixam a desejar, como
o quesito hospedagem. Falo não apenas pela experiência própria, como pelas
críticas que li (e não acreditava até ver de perto) quando procurava lugar para
ficar.
19- Cotação da Corneta:
Voltaria para Capitólio? Com certeza.
O lugar é bonito e ainda há algumas cachoeiras a explorar.
Moraria em Capitólio? Não. Nem se eu
tivesse dinheiro para viver na Escarpas do Lago. Até porque, se eu tivesse
dinheiro para viver na Escarpas do Lago eu viveria em Mônaco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário