Redford e sua classe para roubar bancos |
Há
alguns meses, Robert Redford anunciou que estaria se aposentando. Seu último
filme como ator seria “O cavaleiro com arma” ("The old man & the gun, no original), trabalho em que o ator de 82 anos
interpreta a história real do assaltante de bancos Forrest Tucker.
O papel
de Tucker, que viveu toda uma vida de crimes e escapou de 17 prisões até a sua
morte em 2004, é o canto do cisne de um ator que sempre foi conhecido por sua
classe e altivez aliado aos conhecidos olhos azuis que estamparam as telas dos
cinemas por mais de cinco décadas.
“O cavaleiro
com arma” é um filme delicioso de acompanhar e feito sob medida para Redford
brilhar. O diretor David Lowery aproveita todas as sutilezas, o minimalismo e o
meio sorriso de Redford para contar uma história incrível com um estilo
clássico de filmar, que emula os grandes filmes dos anos 70.
Redford
está impecável e merecia uma indicação ao Oscar, prêmio, aliás, que ele só
venceu uma vez como diretor por “Gente como a gente” (1980). Ele ainda foi
indicado como ator por “Golpe de mestre” (1974), e como diretor e pelo filme
“Quiz Show - a verdade dos bastidores” (1994).
A
história de Tucker é tão improvável que é até difícil acreditar que tenha sido
real. Ele roubou mais de uma centena de bancos em sua carreira de crimes. Tudo
sem dar um único tiro - há quem diga que ele sequer tenha disparado a sua arma
- e sempre usando a mesma abordagem. Sendo gentil, cavalheiro e sorrindo e
acalmando as vítimas impassíveis diante de suas feições idosas e seu termo
impecavelmente cortado.
Redford
encarna brilhantemente este tipo sedutor que usa tão bem as poucas palavras que
profere da mesma forma que tem uma irresistível arte para roubar bancos. A vida
do crime era a maior prazer para Tucker, que aparentemente só se sentia livre na
eterna briga de gato e rato com a polícia. Tanto que não conseguiu sossegar na
vida pacata com a sua terceira esposa, Jewel (Sissy Spacek).
Lowery também aproveita o filme para fazer uma homenagem a Redford. Ao ilustrar as
cenas de diferentes fugas de Tucker, o diretor usa cenas de filmes antigos do
ator, numa jogada brilhante, bem como um belo trabalho de pesquisa.
O sucesso
do filme, que lhe rendeu até uma indicação ao Globo de Ouro de ator, pode ter
feito Redford repensar a sua aposentadoria. Pelo menos é o que diz o diretor do
filme. Mas se este foi mesmo o seu último trabalho como ator, que belo capítulo
final teve a sua cinebiografia.
Cotação
da Corneta: nota 7,5.
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