Que sessão de terapia patética |
Eu
não sei se desde 2000, quando lançou “Corpo Fechado” (Unbreakable, no original), M. Night Shyamalan tinha
essas duas perguntas na cabeça: “E se o mundo realmente tivesse super-heróis?
Como eles seriam?”. Ao lançar o ótimo “Fragmentado” (Split), há dois anos, porém,
parecia cada vez mais clara a ideia do diretor de criar a sua própria trilogia
de super-heróis original em uma indústria em que boa parte do faturamento tem
vindo das adaptações dos quadrinhos da Marvel e da DC.
Agora que
“Vidro” (Glass, no original) o terceiro tomo de sua história chega aos cinemas,
o sentimento que fica é o de frustração. Entre a tentativa de ironia e a de
construir uma mitologia própria, Shyamalan se perdeu no meio do caminho em um
filme que deixa demais a desejar e com um roteiro que não soube para onde ir.
“Vidro”
ganharia mais se girasse em torno da ironia que Shyamalan tenta criar em
diferentes passagens do filme. Da forma como ele zomba das histórias de
super-heróis, como ironiza a Marvel (citada a partir da capa de uma revista) e
os roteiros destes mesmos filmes e dos próprios quadrinhos. Principalmente a
partir da obsessão do Mister Glass (Samuel L. Jackson) sobre o tema.
Mas
ironia requer sutileza e o terço final do filme é conduzido de forma tão pesada
pelo diretor que ele perde a mão e transforma tudo numa caricatura. E, pior,
leva-se a sério para criar toda uma mitologia nova no que seria a sua história
de origem particular a partir de um grupo comandado pela doutora Staple (Sarah
Paulson). Talvez essa até fosse sua intenção. Mas penso que não funcionou a contento.
No meio
disso tudo, até o trabalho brilhante de James McAvoy, fazendo um homem de 24
personalidades tão diferentes fica meio perdido. Muito da força do seu
personagem é apagada ao transformá-lo num mero capacho de Glass, o eterno
antagonista do Vigilante (Bruce Willis).
De fato,
os três personagens principais estão apáticos e sem qualquer química. Mas o pior de tudo está na
presença natimorta dos três personagens que são os braços direito dos três
protagonistas. Casey (Anya-Taylor Joy), a sobrevivente do cativeiro da Besta,
Joseph (Spencer Treat Clark), filho de Dunn, e Mrs. Price (Charlayne Woodard),
mãe de Glass, figuram entre o nada e coisa nenhuma em interpretações
sofríveis.
Por fim,
temos toda uma trama num hospital psiquiátrico que funciona apenas como cortina
de fumaça para um grupo de pessoas sobre os quais nada se sabe. Uma
interrogação que Shyamalan deixa no ar para o que talvez seja um projeto
futuro, mas que também mata a proposta que se tentava levar entre o descrédito
e a aceitação dos poderes. Há uma tentativa de vários plot twists que não funcionam em nenhum momento.
E com
isso, “Vidro” caminhou para uma grande decepção. Um delírio de Shyamalan que
tinha tudo para dar certo ao fim de “Fragmentado”. Que gerou expectativa. Mas
cujo resultado frustrou quase como os vários trabalhos ruins do diretor.
Cotação
da Corneta: nota 4.
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