Diário de guerra da Olimpíada do Hell de Janeiro
23° dia
Brasileiro adora reclamar que, às
vezes, é estereotipado por gringo. Além disso, a chiadeira sempre é geral
quando um estrangeiro fala mal, critica - vide a "polêmica" do
biscoito Globo, como se todo mundo fosse obrigado a gostar dele - ou faz alguma
brincadeira. Mas quando tem a oportunidade de mudar a imagem do estereótipo, o
que ele faz? Reforça-os, é claro.
É a única explicação que eu tenho
para a desagradável e insistente presença de escolas de samba em equipamentos
olimpicos. É um tal de mulata rebolando no Parque Aquático, escola de samba
desfilando no Engenhão... Até o trem tinha lá o seu batuque. Ainda veremos
algum grupo dançando o chá-chá-chá enquanto o Bolt corre na pista.
E os estrangeiros encantados, é
claro. Afinal é exótico. Eu também ficaria encantado com um ritual viking.
Desde que eu não fosse sacrificado.
Ok, a poluição sonora não é uma
exclusividade da Olimpíada do Rio. Vocês não têm noção de como o vôlei de praia
era terrivelmente chato em Londres. Mas bem que os Jogos podiam ser mais
silenciosos e seus sons ficarem mais concentrados no que realmente importa. A
reação da torcida, a vibração do atleta e informações relevantes. Afinal, é
competição esportiva. Não é circo.
De resto, a galera podia ser
menos chata quando os Simpsons fizerem uma nova sátira do Brasil no futuro.
Porque tudo aquilo acontece mesmo. Macacos na rua (eu já vi vários micos), povo
alegre, samba e futebol. E isso não é defeito. É característica. Ainda que eu
ache samba uma porcaria.
Nunca antes na história da minha
vida eu havia feito atletismo. Perdi a virgindade hoje numa ida ao Engenhão,
que obviamente estava vazio, como é tradição do estádio. Lá, eu tive pena dos
atletas.
Zona mista do atletismo/Marcelo Alves |
Imagine que você corre, salta,
arremessa, faz tudo dentro do seu limite. Até além do seu limite. Tudo para
conseguir sua melhor marca e entrar para a história naquele que é o esporte
mais nobre e mais importante da Olimpíada. Depois disso tudo você passa por
longas entrevistas para a TV no cercadinho VIP. Mais longas entrevistas para a
AFP, AP e Reuters no cercadinho das agências internacionais.
Por fim, você passa por um
corredor polonês labiríntico de jornalistas com gente que vai desde o cara
fodão prêmio Pulitzer do "New York Times" até o jovem repórter da
"Gazeta de Quixeramobim"... Não é fácil.
Deu pena ver a polonesa Anita
(chamemos apenas pelo primeiro nome, pois seu sobrenome tem um monte de
encontros consonantais) exausta e tendo que sentar numa cadeira para falar com
pelo menos 10 jornalistas poloneses. Ela havia acabado de bater o recorde
mundial do arremesso de martelo, ganhando o troféu Thor 2016. Mas ainda tinha
que falar com os coleguinhas da Polska Press.
O atletismo é muito roots. Muito
desgastante para todos. Os atletas principalmente. E belo. Incrivelmente belo.
Tentarei entender da próxima vez que um atleta não quiser dar uma entrevista na
zona mais mista de toda a Olimpíada.
PS: neste post, as imagens do
dia. A enorme e labiríntica zona mista do atletismo e o samba onipresente na
Olimpíada. Até a moça do "Posso Ajudar" arriscou uns passos.
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