Diário de guerra da Olimpíada do Hell de Janeiro
18º dia
O jornalismo tem alguns mitos que
vão se desfazendo no dia a dia. Por exemplo, sempre achei que as convocações da
seleção brasileira eram um evento solene com o treinador anunciando o nome de
cada um como se o exército tivesse te chamando para a guerra. Também achava que
os críticos de shows assistiam às apresentações em lugares privilegiados para
melhor avaliarem o espetáculo.
Tudo mito. A convocação da
seleção é um papel distribuído por um assessor de imprensa ou o nome dos
atletas jogados no telão. Depois, o técnico só dá coletiva. E os shows, bem, é
provável que você já tenha visto algum ao lado de um jornalista trabalhando.
A Olimpíada também tem seus mitos
que caem por terra. Especialmente na natação. Ah, você vê todos aqueles
nadadores se perto e em posição privilegiada. Você fala com Michael Phelps...
Quem dera.
As provas de natação são uma
loucura. Tudo acontece ao mesmo tempo e é com o tempo cronometrado nos seus
segundos. Portanto, se a quinta bateria dos 200m borboleta estiver marcada para
às 14h53min, ela acontecerá exatamente às 14h53min. E logo depois, às 15h02min
tem a sexta bateria e por aí vai.
Assim, quando você vê uma prova
em que tem um atleta que te interessa entrevistar, você se dirige para a zona
(em todos os sentidos) mista e espera ele passar. Nesse meio tempo entre ele
sair da piscina, falar com as TVs (sempre a prioridade que fica num cercadinho
VIP), falar com as principais agências internacionais e chegar até você (a
imprensa escrita é sempre a última na cadeia alimentar), você já perdeu umas
cinco provas. Ou as viu pela TV da zona mista igual ao espectador comum. Sim, a
maioria das provas de natação nós vemos igual ao amigo internauta: da telinha
da TV.
Mas aí um mito como Katie
Ledecky, que pulveriza marcas como quem brinca de Barbie, passa na zona mista.
Você é um privilegiado. Vai falar com uma campeã olímpica. Uma mulher
fantástica dona de três medalhas de ouro e uma de prata no Rio...
É, não é bem assim.
Você quer falar com Katie no
momento em que o planeta quer falar com Katie. E é claro que a imprensa
americana será privilegiada. Aos demais que não conseguem sequer esticar o
gravador perto da nadadora campeã resta a situação sui generis de gravar a
declaração dela que está sendo reproduzida nos alto-falantes da zona mista
através de um microfone. Encosta o gravador na caixa de som e sai com sua
"entrevista" com Katie Ledecky. A entrevista de alguém que não sabe
que você existe.
Mas no fim você viu relativamente
de perto Katie e Phelps nadarem e fazerem história. E não deixa de ser um
privilégio. Só não tem nenhum glamour. Afinal, quando você sai do Parque
Aquático às 2h, você está indicando que é um adepto do #Muricystyle. #Aquiétrabalho.
Este diário estava sumido porque
a natação anda bem pesada. Sobre ela, alguns comentários:
1. Michael Phelps é um animal
sobrenatural. Não é apenas o maior nadador da história. É o maior atleta da
história. Nunca mais alguém sequer igualará as suas marcas. É um privilégio
vê-lo nadar.
2. O ano é das mulheres na piscina. Além de Katie Ledecky, a húngara Katinka
Hosszu e a sueca Sarah Sjöström entraram para a história com ouros e recordes.
Só Phelps brilhou mais do que elas. Pelo motivo óbvio listado no item 1.
3. O ano também é de outra coisa na piscina, mas eu não posso falar ainda
porque essa matéria ainda está em fase de produção.
4. Meu maior desejo olímpico é nadar nessa piscina. Bater um 400m medley e sair
feliz. Mas dificilmente realizarei esse sonho.
5. Yulia Efimova, suas colegas não gostam de você, mas eu gosto. Fiquei
realmente com pena, ao ver a sua cara contrita e sua expressão de quem sofria
um bullying imerecido. Foi a medalha de prata mais pesada e dolorosa. Força!
PS: Abaixo a tela da TV onde os
jornalistas vêem as provas e a caixa de sol para pegar as entrevistas mais
concorridas. Ao lado da TV, papeis penduradas na parede com o resultado das
provas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário