Del Toro em "Sicário" |
Benício del Toro parece o homem
perfeito para o tipo de filme do gênero "Os Estados Unidos contra o
narcotráfico". Ele devia ter feito uma participação em "Narcos".
Se em "Traffic" (2000), de Steven Soderbergh, ele fazia Javier
Rodriguez, um policial mexicano que combatia o tráfico na fronteira com os EUA
e vivia em constante crise de valores, em "Sicário - Terra de
Ninguém", Del Toro interpreta um tipo ainda mais ambíguo, sem lado e com
interesses próprios que, por vezes, entram em acordo com os interesses
americanos.
Del Toro é uma espécie de assassino
de aluguel com um passado doloroso que segue s lei maquiavélica de que os fins
justificam os meios. Numa das melhores atuações da carreira do ator, seu
personagem Alejandro, age com uma única motivação e se junta aos americanos
numa cruzada para atingir em cheio o cartel mexicano de tráfico de
drogas.
Estamos em Ciudad Juarez e na
fronteira do México com os Estados Unidos. Uma terra sem lei em que não se pode
confiar nem na policial federal mexicana. O cartel é violentíssimo e
descontrolado. Quem não o obedece é assassinado, mutilado e tem o corpo
desfigurado exposto em praça pública. Corpos são deixados para apodrecer dentro
das paredes de casas e a violência é BRUTAL.
É neste cenário de guerra que um
agente da CIA, Matt Graver (Josh Brolin), comanda uma ação para tentar aleijar
o narcotráfico, destruindo o chefão de Juarez. Para isso, ele recruta a
policial Kate Macer (Emily Blunt em belíssima atuação).
Kate é uma agente do FBI cansada de
enxugar gelo no Arizona. Por isso, ela resolve fazer parte da força-tarefa de Graver
para tentar fazer algo realmente relevante para diminuir o violento comércio de
drogas que chega aos EUA. O problema é que ela segue demais as regras, o que é
um defeito para os tempos de guerra que aquele grupo vive, e logo perceberá que
os limites foram especialmente alargados naquela missão. Tortura, assassinatos,
tudo está liberado em nome da missão. Lidar com os dilemas éticos, enquanto
convive com os próprios traumas e frustrações é o grande desafio da policial.
Sicário é um retrato violento, duro e
cru do narcotráfico mexicano e da falta de escrúpulos americana para combatê-lo
custe o que custar.
Essa linguagem crua e direta não é nada
diferente do que o diretor Dennis Villeneuve fez um "Incêndios"
(2010), drama que contava a história de dois irmãos que acabaram de perder a
mãe e decidem ir em busca do passado dela, o que os leva até a Palestina. Neste
filme, havia a impactante cena do ônibus queimado. Aqui, há uma série de imagens
de profundo impacto visual, drama é crueldade, caso da cena do jantar.
Villeneuve gosta de usar uma
linguagem quase documental nos seus filmes. Em "Sicário" quase sempre
parece que você está acompanhando uma real ação da polícia. Tudo com a
crueldade que o cartel mexicano impõe. É um filmaço.
Direção, roteiro, trabalho dos atores.
Muitas coisas funcionam perfeitamente em "Sicário". Nem deu para
fazer piada. É um grande filme sobre um tema sério. Assim, a Corneta se resume
a dar ao filme uma nota 9.
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