Matt Damon se meteu numa gelada |
Vocês achavam que a corneta tinha desaparecido
né? Nada disso. Eu apenas fiz uma longa viagem e voltei rapidamente pegando
atalho num wormhole para desvendar os mistérios de Matt Damon em Marte.
Imagine você ser condenado a viver
quatro anos sozinho num lugar inóspito ouvindo ABBA e Glória Estefan? Realmente
é para deixar qualquer um pirado. Mas o astronauta Mark Watney (Matt Damon)
manteve a sanidade e só por isso ele já poderia ser considerado um herói da
humanidade.
Watney é o botânico que se meteu numa
enrascada de participar de uma missão da Nasa em Marte. Na teoria é tudo lindo.
Você vai explorar um lugar incrível e desconhecido, será um desbravador do
planeta vermelho (ou meio laranja), contribuirá com a ciência, fará
experiências. Mas você nunca pensa na variável: e se acontecer alguma
cagada? Que tipo de cagada, você diria? Ah, uma tempestade inesperada por
exemplo.
É claro que ela vai aconteceu. Do
contrário, "Perdido em Marte", o novo e muito bonito (esteticamente e
qualitativamente) filme de Ridley Scott não duraria mais do que cinco minutos.
No problem, no fun, amigos.
Watney estava numa boa numa missão
com seus cinco colegas astronautas (entre eles Jessica Chastain. Pausa para
admiração gratuita. Que atriz! Que mulher!) quando uma tempestade pega todo
mundo de surpresa. Nisso o botânico é atingido por uma antena de comunicação,
desaparece na imensidão e os colegas pensam que ele está morto.
A galera vai embora e Watney desperta
sozinho e tendo que se virar para sobreviver. Lavar, passar, cozinhar, limpar a
espaçonave. Tudo é por conta dele porque em Marte não tem diarista não. Bom,
mas isso acaba sendo uma terapia para o nosso herói botânico, afinal, ele não
tem muito o que fazer em Marte, uma vez que não tem TV a cabo para ele ver a
NFL ou a Liga dos Campeões, e muito menos internet.
O problema é que Watney não tem
suprimentos suficientes para viver quatro anos até a próxima missão da Nasa até
Marte. O que o astronauta então decide fazer? Plantar batatas! E usando o
próprio cocô como adubo. Não tentem isso em casa crianças.
"Perdido em Marte" é um
filme de sobrevivência. Aquele típico
do "one man against the nature". Um dos expoentes deste gênero é
"Náufrago" (2000), aquele filme em que o Tom Hanks fica numa ilha
deserta interagindo com uma bola de vôlei, aquela educação física que a gente faz na escola.
O filme de Ridley Scott não é tão
ousado quando o de Robert Zemeckis, que coloca o personagem principal sozinho em
mais da metade das cenas. Em "Perdido em Marte", os momentos de
sobrevivência de Damon são intercalados com o que o povo na Terra está fazendo
para salvá-lo.
Mas é compreensível essa diferença.
Afinal, quando você está numa ilha deserta, a sua identificação com o
personagem para resolver os problemas é imediata. Ele precisa fazer fogo? Junta
dois gravetos há pedra e material inflamável. Está com sede? Sobe num coqueiro.
No caso de Marte, cada solução é acompanhada de cálculos científicos e equações
complexas (um jornalista jamais sobreviveria no planeta vermelho). E tudo
precisa ser explicado para o entendimento de quem vê o filme.
O que é legal no roteiro de Drew
Goddard baseado no livro de Andy Weir é que estas explicações não são
acompanhadas de uma ciência pesada como em "Interestelar" (2014).
Tudo é com leveza e até uns chistes. É dado na medida certa. Sem exageros, sem
aquela física na veia. Só o necessário que não prejudique muito a fluidez do
filme e nem o faça perder o ritmo.
Na ausência de uma bola de vôlei, a
grande companheira de Watney é a câmera. Através dela ele reporta e documenta
tudo o que faz, conta piadinhas e reclama da trilha sonora da comandante Lewis
(Jessica Chastain), uma fã de disco music. Ninguém é perfeito, gente. Mas pelo
menos toca David Bowie (óbvio que esse filme tinha que ter
"Starman").
Scott fez o filme com a consultoria
da Nasa. Segundo ele, que disse que já sabia da existência de água em Marte
dois meses antes do anúncio oficial, pois virou best dos caras, só duas coisasno filme não tiveram base científica: a tempestade que causa todos os problemas
da história e a gravidade. Mas em nome da narrativa, os cientistas da Nasa não
implicaram.
Mas tem outra coisa difícil de
acreditar. China e Estados Unidos trabalhando juntos e transferindo tecnologia
de ponta entre si em nome do bem maior de salvar vidas? Duro de engolir hein.
Assim como é difícil acreditar num pool de empresas no planeta para investir no
espaço.
Mas isto são filigranas. O que
importa é que o filme tem muitas qualidades, o roteiro é bem amarrado e
inspirado, a trilha sonora é simpática, os atores estão bem e o Matt Damon
segura bem o desafio de interpretar sozinho durante boa parte do filme.
Parabéns, Scott, você se redimiu depois daquelas bombas como
"Prometheus" (2012) e "Êxodo: deuses e reis" (2014). Por
isso, a corneta dará uma nota 8 para "Perdido em Marte".
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