Rylance e Hanks, o melhor do filme |
Senhoras e senhores, vamos começar
aqui o bingo do Steven Spielberg.
- Criança chorando em momento
emocionante.
- Criança naquele momento de
aprendizado com o papai.
- Situações emocionantes pontuadas
por aquele sobe som maroto com a trilha sonora épica.
- O herói americano comum que faz o
que é certo, independentemente das consequências.
- Exaltação dos valores
americanos.
- Lições de coragem, amor e compaixão
para a vida.
BINGO!
Tem tudo isso em "Ponte dos
espiões", novo filme do diretor americano. No trabalho, Spielberg deixa um
pouco de lado o período entre guerras para falar de uma situação TENSA no auge
da Guerra Fria: a troca de um espião soviético por outro americano em plena
friaca da Berlim Oriental e num momento em que estão construindo o Muro de
Berlim.
Eram tempos difíceis aqueles. Mas
quando escolhe uma conceituada firma de advocacia para defender o espião russo
num julgamento que deveria ao menos parecer justo, o governo não sabia que
estava lidando com um advogado casca grossa.
Este cidadão se chama James B.
Donovan (Tom Hanks naquele modus operandi "queria tanto ganhar mais um
Oscar"). Donovan é um advogado de seguros que tem uma vida tipicamente
burguesa, uma mulher loira e linda, dois filhos maravilhosos, uma casa azul
confortável com um jardim na frente... enfim, a vida que todo adulto americano
médio desejaria nos anos 60. Mas quando é chamado ao trabalho ele vai para o
pau "duela a quem duela".
É assim que ele aceita ir até às
últimas consequências para defender o espião Rudolf Abel (vivido com muita
categoria e um minimalismo certeiro por Mark Rylance). O russo não se preocupa
com nada. A partir do momento em que foi pego espionando os americanos, ele
parece saber que a cadeira elétrica é o seu destino. E não se preocupa. Afinal,
ficar desesperado não ajuda mesmo.
Mas Donovan o defende com garra, vai
até a Suprema Corte pelo espião mesmo sabendo que é um dos homens mais odiados
do seu país. "Ponte dos espiões" não é apenas um filme para todos
amarem mais uma história americana. É também para todos admirarem os valores do
Direito (advogados curtiram). Afinal, tanto no que diz respeito ao trabalho de
Donovan quanto na vida de privações e negociações enfrentada pelos dois espiões
presos, o que fica é uma lição do advogado: o que realmente aconteceu não
importa. É preciso provar que os fatos aconteceram.
É uma pena que neste ponto Spielberg
não dá margem para uma dupla interpretação, para deixar uma pulga atrás da
orelha do espectador. Todos nós sabemos que em nenhum dos dois lados os espiões
cederam. Ok, se esta é a verdade (nunca saberemos dela realmente), mas um pouco
de ficção não faria mal. Até porque eu duvido que Donovan tenha passado por
alguns dos acontecimentos tensos do filme.
Mas tudo bem. Isso não faz com que o
filme não seja legal. Ainda que ele fique mais interessante na parte de Berlim
e nas negociações pela troca dos espiões. "Ponte dos espiões" é uma
boa diversão e vai ganhar da corneta uma nota 6,5.
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