Quem sou eu? Da onde eu vim? Para onde vou? |
Teve uma época em que
a Corneta achava absolutamente incrível a Glória Pires fazendo a Rutinha boa e
a Raquel má naquela novela cujo nome já esqueci e não vou perder meu tempo
procurando no Google porque tenho certeza que vocês vão lembrar. E o que dizer
de um ator que faz nada menos do que OITO personagens ao mesmo tempo em apenas
duas horas de filme? Esse foi o enorme desafio muito bem cumprido por James
"Professor Xavier jovem" McAvoy em "Fragmentado".
Agora é o momento
em que vocês dizem: Esse não é o filme novo do M. Night Shyamalan? Fala sério.
Ninguém acredita mais no Shyamalan.
Sim, é verdade que
ele andou jogando a reputação na lama em coisas como "Fim dos tempos"
(2008), "O último mestre do ar" (2010) e "Depois da Terra"
(2013), mas já ensaiava um retorno à boa forma em "A visita" (2015).
E o Shyamalan de "Fragmentado" é o dos bons tempos de "O sexto
sentido"(1999) e "A vila" (2004).
Escrito e dirigido
pelo cineasta nascido na Índia (e que tradicionalmente faz uma ponta nos seus
filmes, pois ele se acha um easter egg vivo), "Fragmentado" conta a
história de Kevin (McAvoy praticamente sendo brilhante), um paciente com um
transtorno mental que o faz assumir 23 personalidades de tempos em tempos. O
ator escocês assume oito delas no filme. Cada uma totalmente diferente da
outra, com sotaques, jeitos de falar e de olhar absolutamente únicos, caso
da criança Hedwig, do homem com mania de limpeza Dennis, da mulher Patricia e
do estilista Barry. De tempos em tempos, uma dessas personalidades fica no
comando enquanto Kevin é tratado pela psiquiatra Karen Fletcher (Betty
Buckley).
O problema é que
uma 24ª personalidade está para surgir. Uma bestial chamada apenas de "A
Fera" e que precisa ser alimentada e etcetera.
Para executar o
plano de alguém que está no comando da chamada "luz" dentro da cabeça
de Kevin, Dennis sequestra três garotas após uma festa de aniversário e as
mantêm refém. Claire (Haley Lu Richardson), Marcia (Jessica Sula) e Casey (Anya
Taylor-Joy) se veem diante do maluco e tentando lidar com as suas diferentes
personas. Umas são mais cruéis, outras são mais dóceis, mas aparentemente só
Casey sabe lidar com essa figura grotesca por motivos que o filme vai nos
mostrando em flashbacks um tanto sonolentos.
E não é só isso. As
consultas com a psiquiatra são a única pista que Shyamalan nos dá para tentar
entender a personalidade complexa de Kevin. Ou as personalidades tão díspares,
mas muito perigosas que ele exibe.
O objetivo de Kevin
é se fazer existir para o mundo. Mostrar que é possível que ele seja muitos.
Mas o que para Karen é algo que deve ser tratado com a devida atenção e
controle, para Kevin é algo que precisa ser gritado e exposto da forma mais
chamativa pelo mundo. A sua Horda quer ser ouvida. Precisa ser ouvida.
"Fragmentado"
podia dar muito errado se não tivesse um ator tão habilidoso para transitar
quase que imediatamente pelas diferentes personalidades do personagem. E é
incrível como McAvoy consegue realmente fazer isso e até lidar com os conflitos
internos das personalidades de Kevin, inclusive quando uma tenta se fazer
passar por outra.
Concebido como a
segunda parte de uma trilogia iniciada em "Corpo Fechado" (2000),
aquele filme do Shyamalan que dialoga com o mundo dos super-heróis, o filme nos
apresenta um vilão psicótico de fazer inveja aos piores vilões dos
quadrinhos. O diretor agora trabalha num roteiro que contará com o
retorno dos personagens de Bruce Willis e Samuel L.Jackson. Seria o desfecho de
sua trilogia prevista para 2019.
Mas
"Fragmentado" também pode ser visto isoladamente sem qualquer
prejuízo do seu entendimento. E é um show de McAvoy e um dos melhores filmes de
Shyamalan. Assim, "Fragmentado" ganhará da Corneta uma nota 8,5.
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