Que nome a gente dá para essa operação? |
Fui ver o
filme da "Lava Jato". Que experiência diletante, amigos. E o que eu
posso dizer de "Polícia Federal - a lei é para todos" (mas a sombra
da barraca é minha)?
1- Para começo de conversa, uma dica. Fiquem
até o fim. Eu sei que isso pode ser desafiador, torturante até. Mas fiquem até
o fim, pois "Polícia Federal" é tipo um filme da Marvel. Tem cena
extra e a promessa de que os policiais voltarão no futuro igual ao Capitão
América.
2- Inclusive, as cenas do Antônio Calloni
recrutando pelo país a sua equipe de agentes incorruptíveis para defender o
Brasil se assemelha muito ao Batman arregimento seus amiguinhos para formar a
Liga da Justiça.
3- O filme é um pouco frustrante, pois
desmistifica como é a gestação dos nomes maneiros das operações da PF. Eu
sempre achei que tinha uma equipe especializada em piadas e trocadilhos por
trás daquilo tudo. Mas é quase tudo na informalidade. Só faltou o chopinho.
4- A gente sabe que a Lava Jato já tem mais
rodadas que o Campeonato Brasileiro. O filme não podia contar tudo. Mas como eu
já disse, tem a promessa de continuação. Sendo assim, o filme acaba no episódio
da condução coercitiva do Lula (esse dia foi louco!).
5- Por falar em Lula, pobre Ary Fontoura.
Ainda bem que o Framboesa de Ouro não premia estrangeiros. Sua versão do
ex-presidente é sofrível. Era melhor ter chamado o Rui Ricardo Diaz para
reviver o Lula nestes momentos complicados da vida, entre pedalinhos e triplex.
6- "Eles pensam que a gente é
otário" é meio que o bordão da polícia no filme. Ficou meio com cara de um
recado no roteiro do Brasil para os políticos.
7- De fato, o discurso ideológico é um
problema sério em "Polícia Federal". Independentemente de você ser
coxinha ou mortadela, soa muito fake aquelas pausas, aquele olhar para a
câmera, e os discursos no gênero "precisamos mudar o Brasil",
"estamos mudando um pouquinho do Brasil", "estamos agindo para
melhorar o Brasil", "vem com a gente", "invente, tente,
faça um Brasil diferente". Se o roteiro tivesse permanecido apenas nos
fatos, seria mais enxuto e mais interessante. E daria menos margem para
interpretações políticas. Para não falar na construção bastante maniqueísta da
história.
8- Eu não lembrava que o Alberto Yousseff era
tão fanfarrão.
9- O filme diz que a Lava Jato começou com a
interceptação de um caminhão cheio de palmito e cocaína (duas drogas pesadas,
principalmente o palmito) em Araraquara. Só porque o caminhoneiro não tinha a
expertise dia filmes americanos. Pois rola um bloqueio na estrada que se fosse
em Hollywood o caminhão passaria por cima e continuaria seguindo caminho,
deixando os policiais para trás com seus carros destruídos.
10- O filme não é muito favorável ao Lula. Mas
o Sérgio Moro também tem do que reclamar. Ele está mais apagado e desnecessário
que vela usada. Nem acho que seja culpa do Marcelo Serrado, mas o filme
claramente coloca o protagonismo na polícia. Será que isso gerou ciúmes na
República de Coritiba?
11- E o japonês da federal, hein? Resumiu-se a
uma ponta discreta e cômica.
12- Tem uma jornalista no filme que é muito
vergonha alheia. Fica lá berrando que a polícia está perseguindo o PT, que é
uma injustiça com o presidente Lula, blá-blá-blá, ao invés de fazer perguntas
consistentes. Mais uma obra cinematográfica em que jornalistas são detratados
como zé ruelas ou garotos de recados. Não que muitos não sejam, mas só pode ser
vingança contra os críticos.
13- "Polícia Federal" é ainda um
manifesto contra a caneta. Da Mont Blanc a Bic, a culpa de todos os males do
Brasil é a caneta. Será que melhora se a gente voltar aos tempos do sinal de
fumaça?
14- Vocês não vão acreditar nisso, mas os
cinco primeiros minutos do filme são bem bons. Tem ação, suspense, tensão,
carros andando em alta velocidade pelas ruas de São Luiz. Se tivesse mais
orçamento era quase um filme do Jason Statham.
15- O problema é que depois vem um monólogo
sobre como a corrupção chegou no Brasil com os portugueses e atravessou séculos
e séculos de impunidade zzzzzzzzzzzzz. Aí o narrador Calloni vai enumerando os
diferentes casos de corrupção e CPIs do Brasil (foi muita pizza, galera). O que
é uma estratégia que me pareceu um apelo escrito em luz de neon de motel:
"Este filme é apartidário. Estamos apenas relatando a maior operação
anti-corrupção do Brasil".
16- Além do roteiro ruim, "Polícia
Federal - a lei é para todos" tem o problema de não se decidir sobre o que
quer da vida. Se era para ser um filme de ação como talvez tentasse enfatizar
com aquela trilha sonora feito um batidão que parece uma bateria do Sepultura,
falta ação. Até porque as fases da Lava Jato foram muito desprovidas de emoção.
É só a PF batendo na sua porta às 6h da manhã e te levando para a cadeia depois
de ouvir o famoso "Teje preso". Não tem perseguição, tiro, morte,
cenas de kung fu... Se era para ser um filme do gênero investigação-siga o
dinheiro, poderia ter trabalhado melhor isso e criado uma tensão maior na
investigação da roubalheira, mas tudo se resumiu a três esquetes do
tio-professor explicando no quadro negro para os alunos como funcionava todo o
esquema de corrupção.
17- De um modo geral, no entanto, faltou ao
filme aquele distanciamento histórico que ajuda a avaliar melhor os
acontecimentos de um fato e a escolher melhor seus protagonistas e
antagonistas. Um distanciamento que ajudaria também a fazer com que o filme não
tivesse somente a leitura política. Ou que ajudasse a evitar que a leitura
política suplantasse em importância a leitura estética. Resumindo, podiam ter
esperado uns 20 anos para fazer esse filme.
18- E num ano com tantos filmes brasileiros
bons, como "Polícia Federal" entrou no grupo que vai concorrer à vaga
do Brasil no Oscar? Está faltando critério nestas pré-seleções, hein.
19- O filme pode não ser grande coisa, mas
pelo menos gerou a ação de marketing em shoppings como a que você vê numa das
fotos deste post para que cada um de nós possamos ter o nosso momento Geddel.
Vai dizer que você nunca sonhou em tirar fotos com várias malas de dinheiro?
20- Cotação da Corneta: nota 3,5.
PS: Já estou ansioso para ver "Polícia
Federal 2 - O inimigo agora é outro".
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