Crítica originalmente publicada no site Rock On Board - http://www.rockonboard.com.br/2017/09/rock-in-rio-2017-mesmo-sem-ser.html
Tem que ser muito cri-cri para reclamar
do Aerosmith. Mas de uma banda que construiu seus 47 anos de estrada com shows
quase sempre de um nível impecável não se espera menos do que a excelência. E o
espetáculo que encerrou a noite do dia 21 do Rock in Rio esteve justamente
abaixo desta excelência. Abaixo do que o Rio de Janeiro viu em outubro de 2013,
quando o Aerosmith fez um show arrebatador na Praça da Apoteose.
Não que isso atrapalhasse os milhares de fãs que foram até a Cidade do
Rock. A maioria esmagadora deles do Aerosmith. Eles foram para ver Steven Tyler
fazer suas costumeiras e adoráveis presepadas. Os rebolados no palco, o
característico microfone cheio de lenços sendo balançado de um lado para o
outro, o jeito lânguido do vocalista se mexer e os olhares fixos na câmera que
enchia o seu rosto no telão. Tudo ali estava presente. Só a conhecida voz de
Tyler pareceu não bater ponto na Cidade do Rock. O vocalista pareceu falhar
algumas vezes e sofreu nas canções que exigiam mais dele, aquelas com as notas
mais altas quando ele costuma se soltar mais. Basta rever "Love in an Elevator", "Cryin" e "Falling
in Love", só para ficar em três exemplos do set list, para ver que
havia algo de diferente. Será que quatro anos fizeram tanta diferença? O peso dos
69 anos, muitos deles vivendo no limite, como diz um dos seus sucessos, "Livin' on the Edge", chegou?
O hard rock do Aerosmith é calcado nas levadas de guitarra características
de Joe Perry e na voz de Tyler. Quando os outrora gêmeos tóxicos, como a dupla
era chamada nos anos 70, quando abusavam de todas as substâncias possíveis,
funciona, o Aerosmith é monstruoso. Quando alguma coisa falha, a banda de
Boston não apresenta a tal excelência. De qualquer forma, Tyler
compensou as eventuais falhas na voz com o costumeiro protagonismo no palco,
interagindo com o público e se entregando de corpo e alma ao espetáculo.
Mas veja bem, o show do Aerosmith esteve
longe de ser ruim. Só não foi perfeito. Embora arrisque-me a dizer que para
muitos presentes foi inesquecível. Pelo menos para aqueles que cantaram "I Don't Wanna Miss a Thing", a trilha sonora
chiclete do filme "Armageddon" (1998), como se não houvesse amanhã. E Tyler não se fez de rogado
em deixar o público ter o seu karaokê vip no maior momento Feira de São
Cristóvão vivido pela Cidade do Rock nesta quinta-feira.
Além desta canção, "Cryin"
e "Crazy", a dupla de músicas
do álbum 'Get a Grip', de 1993, que gerou
os famosos videoclipes com Alicia Silverstone, foram os outros pontos altos da
noite, a julgar pela reação do público.
No total, o set list teve 16 canções. Perpassou todos os pontos altos da
longeva carreira da banda que quase sempre permaneceu junta como na formação
que surgiu em 71 com o baixista Tom Hamilton, o baterista Joey Kramer e o
guitarrista Brad Whitford. Foi do primeiro grande sucesso, a excelente "Dream on", uma grande canção da
história do rock, passou por "Walk This
Way", outro clássico que também representou um resgate da banda do
ostracismo quando eles a regravaram com o Run-DMC em 1986, e foi até o
"Falling in love", do álbum 'Nine
Lives' (1997), o último grande disco do Aerosmith.
Foi um set list e um show que justificou a escalação do Aerosmith como
headliner do Rock in Rio. Mas se a "Aerovederci Tour" for mesmo a
última da banda, como chegou a ser divulgado pelos seus integrantes, que agora
desconversam sobre o tema, prefiro deixar como última impressão o épico espetáculo
de 2013. Aquele foi o Aerosmith numa excelente forma, mesmo que na época
estivessem desfalcados do baixista Tom Hamilton.
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