A vida dos Vingadores não é fácil |
Dizem
que a primeira vez é complicada. Mas a segunda vez parece ser ainda mais.
Calma, gente. O papo aqui da corneta é sobre cinema. Não confundam as coisas.
Por que este meu questionamento? Porque depois do primeiro e maravilhoso filme
dos Vingadores lá em 2012, top-10 fácil dos melhores filmes já feitos sobre
quadrinhos, a expectativa para “Os Vingadores: a era de Ultron” era que, no
mínimo, manter-se-ia (eu passei três semanas ausente, era preciso usar uma
mesóclise para marcar o meu retorno) a qualidade no filme de número 2.
Só
que.... bem, é preciso dizer que eu sai do cinema um tantinho (assim mesmo, no
diminutivo) decepcionado. Não que o filme seja ruim, mas está looonge de ser
especial. Meu top-10 continua sem mudanças. Quem venham os próximos filmes baseados
em HQs.
Mas
qual é o seu top-10, perguntariam vocês? Bom, aqui vai o meu ranking, que, é
claro, sempre vai gerar alguma polêmica como qualquer ranking. Com estreia
prevista para este ano, será que o Homem-Formiga entrará nele? Aguardemos.
1-
“Watchmen” (2009)
2-
“Batman - o cavaleiro das trevas” (2008)
3-
Os Vingadores (2012)
4-
“Homem de Ferro 2” (2008)
5-
“X-Men” (2000)
6-
“Capitão América 2 – soldado invernal” (2014)
7-”“O
Homem-Aranha” (2002)
8-
“300” (2007) – Eu gosto, tá!
9-
“Batman” (1989)
10-
“Sin City” (2005)
Mas
falemos dos novos Vingadores. Como os filmes da Marvel são como uma grande
série, “Os Vingadores: a era de Ultron” se passa não apenas após os
acontecimentos do primeiro filme, como também após os acontecimentos de “Homem
de Ferro 3” (2013), “Thor – O Mundo Sombrio” (2013) e “Capitão América 2 – o
soldado invernal” (2014). Nele, o supergrupo de heróis já está um pouco mais
entrosado, mas eles continuam implicando uns com os outros como se fossem
adolescentes. Volta e meia eles se reúnem para cumprir super-missões nos
lugares mais inóspitos do planeta.
Pois
é, dessa vez Nova York foi poupada da devastação e a ação passou para a
Segóvia. E a primeira função do filme é educativa. Nós descobrimos que a
Segóvia existe e fica na Espanha, como vocês podem ler neste link aqui do
Wikipedia. A essa altura também já deu para reparar que um filme dos Vingadores
é como um elefante sambando numa loja de cristais. Pobre Segóvia. Talvez nunca
mais se recupere das tragédias causadas pela passagem do grupo e de Ultron e
seus asseclas robóticos. Mas eles estavam apenas tentando salvar o mundo,
diga-se de passagem. E tenho certeza que a Segóvia vai ganhar um generoso Plano
Marshall para se recuperar.
E
aqui temos o primeiro problema deste filme. É mais do mesmo de uma forma
estratosfericamente ampliada. A destruição tem que ser maior, a ação e os
efeitos especiais têm que ser daqueles que tirem ainda mais fôlego que no
primeiro filme (e infelizmente não é) e há um excesso de piadas sem graça. Será
que o diretor e também roteirista Joss Whedon perdeu o seu mojo, questionaria
Austin Powers?
A
“piada interna” do martelo do Thor (Chris Hemsworth) também já deu. Aliás, está
na hora de um certo personagem conseguir levantar Mjolnir. Eu não vou dizer
quem é para não dar spoiler, mas quem leu nos quadrinhos sabe de quem estou
falando.
Há
ainda outra questão difícil de engolir. O relacionamento meio “Ghost: do outro
lado da vida” (1990), meio "How deep is your love", dos Bee Gees, do
Hulk (Mark Ruffalo) com a Viúva Negra (Scarlett Johansson). Cada vez que eu via
a Natasha tentar aquela conexão pelos dedinhos com os dedões do Bruce Banner em
sua versão vegan eu imaginava a cena da Demi Moore fazendo vasos com aquela
massinha de modelar para adultos. Só faltava tocarem “Unchained Melody”.
Desculpem,
mas aqui é o mala chato fã de quadrinhos falando. Afinal, a Viúva Negra não se
envolve com o Hulk. Ela pega o Gavião Arqueiro, pega o Demolidor, pega o Bucky
Barnes. Pega até o Capitão América, mas o Hulk não. O Hulk, ou melhor, o Bruce
Banner, é só da Betty Ross. Pior do que isso só o Jeremy Renner chamando a
Viúva Negra de vadia. Cara, você realmente não entendeu nada.
Aliás,
com um elenco tão estelar que ainda conta com Chris Evans (Capitão América) e
Robert Downey Jr. (Homem de Ferro) e tantos outros, como pode ninguém se
destacar ou ir além do meramente burocrático? Nem Downey Jr., que é claramente
a grande estrela da franquia, consegue se sobressair. Talvez seja o texto,
talvez não.
E
por fim chegamos ao Ultron, um vilão importante na história dos Vingadores. Uma
criação rebelde de Tony Stark que no cinema não passa de um mala com um ego
gigante e um complexo freudiano em relação ao Homem de Ferro. Era aquela
necessidade edipiana de matar a todo custo o pai, era aquela autoglorificação,
aquele jeito meio “Chappie” (sorry, mas que filme ruim hein, Neil Blomkamp),
meio “Pink e o Cérebro”. Preguiça disso. Esperava mais do que um "olhem
como eu sou bonzão" do Ultron. Ele não é só isso.
Mas
nem tudo é ruim nos Vingadores. Tem vários momentos legais. Um deles é o
surgimento de dois novos personagens que são muito importantes na história do
grupo: a Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), uma das mutantes mais
poderosas do universo Marvel (sim, ela é mutante e não foi "criada"
como o filme insinua) e o Visão (Paul Bettany). O Visão ficou simplesmente
perfeito no cinema e seu raciocínio lógico, de precisão matemática e sem
emoções (ao menos num primeiro momento) trará coisas interessantes a um grupo
tão intenso e tão FERVILHANTE emocionalmente. Deve ser o excesso de
testosterona.
Há
também alguns bons momentos de batalha com efeitos especiais (mas evite o 3-D
porque não faz qualquer diferença).A primeira cena é boa. Tem uma outra de uma
perseguição a um caminhão nas ruas, quando os Vingadores precisam resgatar um
artefato, que também é ótima. Mas nada incrível perto do que a gente viu no
insano "Velozes e Furiosos 7". E a briga do Hulk com o Homem de Ferro
anabolizado também é muito boa. Sem contar a expectativa gerada de que a coisa
ficará ainda mais feia com a chegada de Thanos (Josh Brolin) num futuro
próximo. Lembremos que o vilão andou aparecendo no filme dos “Guardiões da
Galáxia” (2014) e já vem ensaiando virar protagonista nesta história.
“Vingadores:
a era de Ultron” exibe claramente o fim de um ciclo. E a formação da equipe
após a passagem de Ultron ganha ares de um Fluminense pós-Unimed. Um time sem
estrelas, mais modesto e operário. Ou, como diz o Capitão América, “não chegam
a ser como o Yankees de 1927". Adoro as referências dele. Aos curiosos, o
New York Yankees de 1927 era um timaço que ganhou a World Series do beisebol
varrendo o Pittsburgh Pirates por 4 a 0 e que tinha ninguém menos do que Babe
Ruth na equipe.
Ao contrário dos quadrinhos,
fica difícil imaginar que os medalhões não surgirão nos futuros filmes 3 e 4,
previstos, respectivamente, para 2018 e 2021 para participações especiais.
Principalmente porque o próximo filme tratará da "Guerra Infinita".
Além disso, as crianças curtem os personagens e eles vendem bonecos. Elas,
aliás, podem muito bem ter curtido o filme ora em cartaz, mas para a corneta o
sentimento foi aquele de um trabalho apenas legal. “Os Vingadores: a era de
Ultron” vai ganhar uma nota 6,5.
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