Xangai vista do alto/Marcelo Alves |
Depois de atravessar o mundo duas
vezes, vamos aos Xangai facts, sua leitura para o feriadão.
1) O mandarim é uma língua impossível de entender.
Aprendi a falar olá (knee how, se fala niiiirrau) e obrigado (Syeah-Syeah Nee,
se fala xienxiennê) e nada mais. E é uma língua esquisita e difícil demais.
Nunca conseguirei conversar com Zhang Yimou.
2) Como eles conseguem escrever aqueles hieróglifos, reportagens inteiras com
aqueles desenhinhos? Não subestimem a capacidade de Steve Jobs e Bill Gates,
amigos. Os IPhones e computadores deles indicam o desenho automaticamente a
partir das palavras que você digita.
3) Xangai é bonitinha, legalzinha, mas fede a óleo diesel porque...
4) ... as comidas chinesas são muito ruins e banhadas em óleo diesel. Passei
fome nesse lugar que só tem arroz carnaval (sempre servido em bloco) e frito e
a comida é sempre doce (e se eu quisesse doce comia chocolate). Até o gosto do
brócolis é ruim. Não pode, gente! Quando até o brócolis é ruim, algo está
errado. Uma jornalista de Hong Kong ainda tentou me convencer que era incrível
um prato que basicamente era um filé de frango num panelão tomado de pimenta e
óleo diesel. Não pode ser sério.
5) Ah, mas por que você não foi num restaurante estrangeiro, no McDonald's, no
Starbucks (tinha um perto de um templo budista), no KFC? E qual é a graça de
estar na China e comer a comida que tem no Reino de Niterói?
6) Ainda na cozinha, eu diria que é mais fácil reproduzir solos de Jimi Hendrix
do que comer de pauzinho. Minha tentativa foi um desastre e comer uma alface
foi uma experiência tão emocionalmente desafiadora quanto um filme iraniano. O
saldo final foi de 30% da comida no meu estômago e 70% da comida em cima da
mesa, no chão ou caída na roupa
7) Não comi cachorro. Juro. Pelo menos não conscientemente. Embora desconfie de
uma carne que comi lá. Além disso, eu não vi cachorros nas ruas. Claro, comida
não fica por aí dando mole.
8) Xangai é mais bonita de noite do que de dia.
9) Os chineses não são bonitos nem de noite, nem de dia (desculpa, galera, não
é preconceito, eu também me acho feio)
10) Os chineses têm um problema. Adoram dar aquela escarrada no chão. Teve um
que levou a equipe de reportagem (leia-se eu e o repórter da TV Globo) de
MERCEDES para o hotel CINCO ESTRELAS. Mas não há glamour nem assim. Num dado
momento, ele abriu a janela e puxou aquela meleca do fundo da alma para jogar
longe num belo arremesso de três pontos. Foram as minhas boas-vindas de Xangai.
11) Como a China é longe. Foram 50 horas entre ida e volta atravessando o
mundo. Parecia que a África e a Índia não acabariam nunca. Saudades dos tempos
da Pangeia.
12) Como os chineses conseguem viver sem Twitter, Facebook, Google, Instagram e
YouTube? Muito dura essa vida de privações. Mas os que podem pagar, driblam a
lei com um IP americano ou britânico e uma anuidade paga ao governo chinês. É
como burlar a lei oficialmente. Sensacional.
13) O metrô de Xangai é muito melhor que o do Rio. Já está começando a pegar
mal para o Hell de Janeiro. Qualquer lugar tem um metrô melhor.
14) Andar de táxi, no entanto, é uma aventura. A maioria está caindo aos
pedaços e quase segurei na mão de Deus quando o capô de um carro em que estava
simplesmente levantou e rachou o vidro da frente num túnel em alta velocidade.
Por sorte e graças a Buda, ninguém atrás bateu no carro em que estava.
15) O governo bem que tentou esconder cancelando um evento do Laureus, mas eu
vi pobreza, eu vi mendigos, eu vi favelas, eu vi gente chata e insistindo para
eu comprar relógio (falso), bolsa (falsa), engraxar os sapatos e oferecendo
sexo (50 yuans, ou R$ 30, a quem interessar possa), mas... Bandido e violência
não vi. Xangai 2 x 0 Rio.
A cidade velha de Xangai/Marcelo Alves |
17) Em Xangai parece ter tanta loja que faz massagem nos pés quanto farmácia no
Rio. Não, eu não experimentei. Tinha mais o que fazer.
18) "Xangaienses" (chamemos assim) são como cariocas. Não respeitam o
trânsito, avançam sinal e batem-boca aos altos brados nas ruas quando divergem
no trânsito.
19) O Guzheng é o cavaquinho deles. É aquele instrumento musical que faz
aqueles sons característicos que vemos nos filmes (tum....dom....teimm...dom e
coisas assim). Tem lojas só disso em Xangai e muitos chineses sabem tocá-lo,
mas é preciso ter unha de Zé do Caixão para o som sair mais limpo.
20) Quando eu disse para Dan Dan que, por lei, eu tinha 30 dias de férias, ela
quase teve um enfarto e perguntou se podia trabalhar no Brasil. Na China você
só tem 15 dias de férias divididos em duas semanas específicas do ano, o Ano
Novo Chinês e o Feriado do Dia Nacional, quando é celebrada a fundação da
República Popular da China. "Se você quiser fazer uma viagem maior em
outra época, tem que pedir demissão ou ter um chefe muito legal que vai te
liberar por um mês suspendendo o seu pagamento", disse ela. E vocês ainda
querem me convencer que o comunismo é legal.
21) Lamentavelmente um dos grandes clichês chineses não se comprovou. Não vi
ninguém lutando kung fu nas ruas. Mas tudo bem, também destruí as ilusões de
uma chinesa que me perguntou se era verdade que todos os brasileiros dançavam
bem.
22) Conca tem muita moral por lá. Mas o MURIQUI (ele mesmo, ex-Vasco) não fica
muito atrás.
23) Vou abrir uma filial do Open English na China e ficar rico. Ninguém fala
inglês lá, o que pode tornar um desespero andar nas ruas se você não for bom
com mapas.
24) Todo chinês é igual. Então o que faz o adolescente rebelde sem causa de
Xangai para se diferenciar dos pais? Pinta o cabelo. Ai vai para a Old Town com
seu cigarrinho se exibir para os brotos.
25) Conclusão:
Voltaria para Xangai? Sim.
Voltaria para a China? Claro!
Recomendaria a China a alguém? Com certeza!
Moraria em Xangai? Não. Só se meu objetivo fosse virar um graveto
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