A coxinha: melhor salgado |
"Coxinha é vida, é povo, é
massa"
Salgado secular crítica o
desvirtuamento de sua imagem por disputas políticas
A Coxinha está passada. Um dia depois
das manifestações que tomaram o Brasil de assalto (sem duplo sentido), o
salgado favorito de muitos brasileiros reclama que desde 2014 vem sendo alvo do
que considera ser "uma injustiça" e uma "campanha
difamatória" contra uma história construída há gerações por sua família.
Nesta entrevista exclusiva para a Corneta, a Coxinha pede que o seu nome não
seja mais atrelado a um conflito ideológico e político no qual ela não pediu
para entrar.
- Meu único desejo é alimentar esse
Brasil - diz.
Conte-nos algo que não sabemos?
- Eu nasci há 200 anos atrás. E não
tem ninguém nesse mundo que não tenha me comido demais.
Hahaha, Coxinha você é uma gozadora.
Gosta de Raul Seixas?
- Ele é que gostava de mim. Adorava
me comer.
Mas conte-nos mais sobre suas
origens.
- Eu nasci oficialmente durante a
industrialização de São Paulo no século XIX. Passei a ser vendida na porta das
fábricas como uma alternativa mais barata às coxas de galinha, portanto vim
muito antes de PT, PSDB e essas crianças militantes que agora estão
desvirtuando o meu nome e a minha função social. Desde a eleição de 2014 eu
venho sendo alvo de uma grande injustiça e uma verdadeira campanha difamatória
contra o meu nome e o da minha família.
Incomoda você ter o seu nome
associado aos almofadinhas de hoje em dia em manifestações como a de domingo?
- Sim! É um completo desvirtuamento
do discurso político. Ao lado do Kibe, eu sempre liderei a preferência nacional
da Frente Libertadora Salgado + Refresco a R$ 1,50. Sou do povo. Aliás, coxinha
é vida, é povo, é massa!
E nunca foi bem vista na Casa
Grande...
- Eu sou muito senzala. Eu alimento o
trabalhador brasileiro pobre há gerações. E sou mais nutritiva que um Big Mac.
Aliás, eu queria dizer que minhas primeiras versões nasceram na cozinha da
princesa Isabel e o filho dela com o conde D'Eu me amava... Aliás, os ricos
sempre gostaram de mim, mas sempre me comeram escondida. No escuro dos seus
quartos. Nas festas deles, quem sempre brilha é aquele meu primo sem graça, o
caviar.
Então quando alguém supostamente de
classes mais abastadas ou que apoia determinados partidos políticos é chamado
de coxinha você se irrita?
- Não posso aceitar ver o nome da
minha família jogado na lama assim. Por que não voltam a usar almofadinha, que
é um nome muito mais apropriado? Ou playboy? Eu brilho em festas de pobre em
todo o Brasil. Quando eu chego com a minha turma, o Kibe, o Risole e aquela
fofa da Bolinha de Queijo, fazemos a alegria da criançada. Só perdemos mesmo em
preferência para o Brigadeiro, mas esse rapaz é imbatível. O Brigadeiro são os
Beatles das festinhas.
O que você pensa de manifestações
políticas como a que vimos neste domingo?
- Desde que você não defenda posturas
autoritárias, golpes e outras medidas de regimes de exceção, eu prefiro ler
como um retrato da democracia vibrante. E não importa a sua vertente política,
sempre pode passar na lanchonete para me comer quando estiver com fome.
Coxinha pode ter catupiry?
- Eu não gosto. Respeito essa
vertente gourmetizada, mas coxinha de verdade é só com frango. De preferência
com algo entre 70% e 75% de sua totalidade composta por frango.
Mas e as coxinhas vegan da Bela Gil?
- Aff, essa menina tem problema. Não
foi ela que colocou a pobre da melancia numa grelha?
Foi.
- Isso não se faz, gente. A Melly
ficou toda assada. Veja bem, coxinha roots de verdade só tem frango. No máximo,
catupiry.
Coxinha combina com o que?
- Refresco, suco natural. Até
refrigerante está valendo. E pode também ser usada harmonizando num prato de
comida. Mas com moderação.
A sua irmã que eu acabei de comer
durante essa entrevista estava muito gostosa.
- Obrigada, querido. Servir bem para
servir sempre. Esse é o lema histórico da nossa família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário