Agora sem ver |
A
corneta não leu o livro “Cinquenta tons de cinza”, que agora chega aos cinemas
do mundo todo cercado de ti-ti-ti e com mulheres cometendo loucuras nas salas,
como a mexicana que foi presa por se masturbar. Mas Madonna leu o texto de E.
L. James. E quando se trata de sexo, Madonna entende mais do que eu, você e
mais da metade do planeta, dado o que a cantora que lançou o álbum “Erotica”
(1992), o livro “Sex” (1992) e o filme “Na cama com Madonna” (1991) “aprontou”
nessa vida. E ela classificou “Cinquenta tons de cinza” como “ficção barata”.
Disse que o livro “não é muito sexy, a menos que você seja virgem” e ficou
esperando alguma coisa realmente "excitante e louca acontecer naquele
quarto vermelho".
Madonna
ficou decepcionada com o livro. A corneta ficou decepcionada com o filme de Sam
Taylor-Johnson. "Cinquenta tons de cinza" é tãoooooo bobinho que
realmente eu tenho que concordar que só serve mesmo para donzelas recatadas.
Para alguma Rapunzel pós-moderna. Sem tranças para fugir da torre. Citando
Madonna, eu diria que ele é muito mais "True Blue" do que
"Erótica". E não é por falta de esforço de Dakota Johnson, sempre
pronta para fazer um jeitinho sexy. Até em entrevista.
Se
a corneta tivesse que resumir "Cinquenta tons de cinza" em uma frase
seria da seguinte maneira: "Duas horas de um cara tentando convencer uma
mulher que um tapinha não dói". O filme também foi muito bem definido por
algum gênio da internet como um "Sabrina com raio gourmetizador".
Gostaria de saber o dono dessa pérola para homenageá-lo publicamente.
Para
quem não sabe, os "clássicos" de "Sabrina" são livros que
vendem (ou ao menos vendiam) em banca de jornal com aquela literatura rasteira
e adocicada com histórias de amor e finais felizes. "Cinquenta tons de
cinza" embarca numa ondinha parecida. Uma das diferenças é que o texto de
E.L.James insere o já conhecido elemento sadomasoquista.
“Cinquenta
tons de cinza” não chega a ser uma fábula infantil, mas está longe de ser o
novo "Instinto Selvagem" (1992). Aliás, o filme tem sido alvo de
muita zoeira por sua falta de libido. Até mesmo involuntária. A maior de todas
foi ele ter ganhado classificação indicativa de 12 anos na França. Isso mesmo:
12 ANOS. É o mesmo que recebe uns episódios "mais pesados" dos Simpsons
aqui no Brasil, que deu classificação indicativa de 16 anos para o filme de
Taylor-Johnson. Para não falar no artista que transpôs as princesas da Disney
para o universo "Cinquenta Tons". É muita desmoralização de um filme
em que se esperava quase um escândalo.
“Cinquenta
tons de cinza” começa quando Anastasia Steele (Dakota Johnson) ainda era uma
jovem estudante de literatura inglesa vivendo uma vida "like a
virgin". Com a amiga estudante de jornalismo doente, ela vai fazer o favor
de ir até Christian Grey (Jamie Dornan) para uma entrevista do jornal da
escola. Humm, difícil acreditar que um milionário tenha tempo para isso, mas
sejamos polianas. Logo no primeiro encontro, Grey já lança para ela o seu
melhor olhar Joey Tribianni, a intimida e deixa escrito em neón na testa: “Te
quiero”. Anastasia faz ui, morde os lábios rosados e vai se refrescar na chuva.
Grey
tem características de um homem quase perfeito e que, obviamente, só existe na
imaginação de E.L. James. Ele se veste bem, tem personalidade, é seguro,
consegue tudo o que quer, não falha, tem dinheiro, compra presentes incríveis
para Anastasia, livra-a de roubadas e segura o cabelo dela quando ela vomita.
Aparentemente, Grey também tem superpoderes, pois surge do nada em diferentes
situações, sempre impecável e pronto para causar. A mãe de Anastasia quase tem
um orgasmo quando o vê. Já a menina parece vinda de uma mulher de família do
interior do país no século XIX. Mocinha em busca do príncipe encantado que não
sabe nada da vida, cheia de sonhos e deslumbrada com toda aquela atenção.
Embora não aparente ser uma “material girl” encantada com Grey, tudo o que ela
quer é um homem para chamar de seu. Francamente, E.L. James.
E
ai, sabemos que no amor os opostos se atraem. O cara fica de quatro por ela e
faz de tudo para conquistá-la e levá-la para o seu quartinho vermelho onde tem
um monte de brinquedinhos que ele garante que ela vai gostar. Sei, no dos
outros é refresco né.
O
problema é que Grey quer sexo selvagem três vezes por semana (e tudo assinado
em contrato!), mas não quer assumir as outras responsabilidades da relação.
Levar para jantar, acompanhar no cinema, pegar na mão, segurar as compras do
shopping e mudar o status de relacionamento no Facebook nem pensar. “Eu não sou
esse tipo de homem” e blábláblá, ele diz. Aliás, o seu distanciamento da moça,
se revela no fato de só chamá-la pelo nome inteiro: Anastasia, comprovando que
ele não está a fim de qualquer intimidade. Não pretende chamá-la de Ana, como
ela pede, muito menos por apelidos fofos e constrangedores que casais adoram
adotar. Grey só quer brincar no quartinho.
Ai
fica difícil para Anastasia, que, embora demonstre alguns traços de “bad girl”,
como na cena do contrato, ainda está aprendendo as coisas da vida. Enquanto o
filme fica naquele jogo de empurra entre os dois, você já viu algumas cenas de
soft porn estilizadas com direito a vinho, gelo, gravatas, cordas e música de
Beyoncé. Nada que vá lhe dar realmente novas ideias.
"Cinquenta
tons de cinza", é, portanto, uma perda de tempo. Mas pelo menos é
educativo, uma vez que Grey usa camisinha o tempo todo. Afinal, você pode ser
sadomasoquista, mas tem que ser consciente.
Como são três livros,
é óbvio que vem ai uma trilogia de quatro filmes, a nova onda de Hollywood. Do
primeiro, a corneta pode dizer que saiu do cinema com a libido inalterada.
"Cinquenta tons de cinza" vai ganhar uma nota 3,5.
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