Quero uma casa na árvore |
Nos
últimos 35 anos, Meryl Streep frequentou 18 vezes a festa do Oscar. O que
significa que ela está presente disputando alguma coisa uma vez a cada quase
duas cerimônias (1,94 para ser mais preciso). Sem contar as vezes que ela deu
pinta sem concorrer a nada, só para entregar prêmios ou apresentar alguma
coisa. No dia 22, ela estará mais uma vez em Hollywood com o seu vestido de
grife (será um Prada?), para disputar com Patricia Arquette (“Boyhood”), Keira
Knightley (“O jogo da imitação”), Emma Stone (“Birdman”) e Laura Dern (“Livre”)
o careca dourado de melhor atriz coadjuvante.
Meryl
não é a minha favorita (prefiro Patricia), mas ela estará lá. E não duvide que
ela esteja no mesmo lugar em 2016, em 2017 ou enquanto ainda estiver viva.
Afinal, Meryl é uma boa atriz e faz trabalhos quase sempre bons. E os velhinhos
da Academia parecem gostar dela. (Faça suas apostas para o Oscar)
Vencedora
como coadjuvante por "Kramer vs Kramer" (1980), e como atriz
principal em "A escolha de Sofia" (1983) e "A dama de
ferro" (2012), a atriz americana de 65 anos é recordista de indicações na
história do Oscar entre homens e mulheres (a deste ano é a 19ª). E se vencer
pela quarta vez se igualará ao mito Katharine Hepburn (pausa solene por
Katharine), vencedora em 1934 por "Manhã de glória", em 1968 por
"Adivinhe quem vem para jantar", em 1969 por "O leão no
inverno" e em 1982 por "Num lago dourado". Todas como atriz
principal.
Como
se vê, Meryl tem credenciais e está bem acompanhada na história da Academia. Ao
lado dela no ranking com três carecas dourados estão Ingrid Bergman, Walter
Brennan, Daniel Day-Lewis e Jack Nicholson. E todo este longo preâmbulo é para
dizer que somente ela justifica a presença de "Caminhos da Floresta"
no Oscar deste ano.
Poucas
vezes na vida a corneta viu um filme tão ruim quanto esta produção da Disney.
Sabemos que musicais feitos dos anos 80 do século passado para cá quase sempre
são ruins, mas o filme de Rob Marshall atingiu 7,5 pontos na escala
"Titanic" de bomba cinematográfica. A título de curiosidade, a escala
vai até 10.
Tudo
o que Marshall fez de bom em "Chicago", ele não conseguiu em
"Caminhos da Floresta". “Chicago” era um daqueles raros bons musicais
feitos nas últimas décadas e que venceu seis Oscar em 2003, entre eles o de
melhor filme. Ainda que não fosse o melhor filme em um ano que tinha “Gangues
de Nova York”, “As Horas”, “O senhor dos anéis: as duas torres” e “O pianista”
concorrendo. Mas venceu, pois era um musical com boas canções em que Marshall
fez até o Richard Gere cantar de uma forma minimamente aceitável e tinha
Catherine Zeta-Jones. Enfim, vocês me entendem quando eu digo que o filme tinha
Catherine Zeta-Jones.
Já
“Caminhos da Floresta” nunca chegou nem perto do outro musical de Marshall. É
um grande horror kitsch que fez uma criança chorar durante a sessão de cinema
em que eu estava. Ok, eu não sei por que ela começou a chorar depois de 1h10m
de filme, até porque não era nenhum bebê, mas estava chorando. Só podia ser por
causa do filme.
Vejam
bem, fazer um filme todo cantado já soa um tanto quanto ridículo. Você acorda
de manhã, está sofrendo, apanhando da vida, vai dar plantão no carnaval e está
lá cantando “láriláaaaa lálalaaaa, Into the Woods”. Conhece o príncipe
encantado da sua vida e manda “láriláaaaa lálalaaaa, Into the Woods”. Não tem o
menor sentido se você não entrar no clima. E há musicais interessantes, como
"Moulin Rouge" (2001). Só que "Caminhos da Floresta"
atravessa todas as raias do mau gosto. É quase inacreditável que tenha
indicações ao Oscar. Um milagre operado por Meryl Streep que, junto como Emily
Blunt, se salva nessa hecatombe nuclear.
A
cena-símbolo do que o filme representa é a dos príncipes de Cinderela e de
Rapunzel cantando as dores do amor e disputando quem sofre mais em uma,
acreditem, pequena CACHOEIRA. É algo que Chris Pine e Billy Magnussen ainda vão
se arrepender de ter feito. Principalmente Pine. Cara, você é o Capitão Kirk do
século XXI. Não pode se sujeitar a essas coisas.
A
cena em questão tem ainda os dois abrindo ferozmente a camisa como se
estivessem num clube de striptease para mulheres. Diante disse, acreditem, o
cinema cai em gargalhadas. Mas são aquelas gargalhadas de constrangimento. Para
a sorte de vocês (ou azar) eu encontrei este grande momento no YouTube que pode
ser conferido abaixo.
Em
“Caminhos da Floresta”, Meryl vive s bruxa má. A ideia do filme é juntar vários
contos de fada em um só e dar um tom satírico. Então estão lá a Rapunzel, a
Cinderela, João e seu pé de feijão e Chapeuzinho Vermelho e um constrangedor
Lobo Mau vivido por Johnny Depp.
Parênteses
para um comentário: Depp é alguém que anda precisando rever conceitos na
carreira. Especializou-se no nicho figurões esquisitos e faz apenas a mesma
coisa com maquiagens diferentes. Muitas vezes em filmes de gosto duvidoso, como
“O cavaleiro solitário” (2013). A imprensa já até questiona se sua carreira
está ficando decadente.
Mas
como eu ia dizendo, nessa salada mista, um casal de padeiros (James Corden e
Emily Blunt) precisa reunir elementos destes contos de fada para entregar para
a bruxa e ela desfazer o feitiço que impede este casal de ter um filho.
A
premissa podia ser interessante, apesar de toda a cantoria, mas a execução fica
bem aquém do esperado. Primeiro porque a maioria das músicas não são boas. E
quando as canções de um musical não são boas é porque a coisa está feia.
Segundo porque ao juntar as histórias, elas tiveram que ser amarradas de uma
tal maneira para unir todos os personagens, os protagonistas dos contos de fada
num único desfecho ao fim do filme, o que deixou aquela sensação de estranheza
e tornou o final confuso, esquisito e sem pé nem cabeça.
“Caminhos
da floresta” realmente não convenceu a corneta. Diante deste show de horror
cantado em verso e prosa, só me resta dar uma nota 2,5 para a nova aventura
musical de Rob Marshall.
Indicações ao Oscar:
atriz coadjuvante (Meryl Streep), figurino e design de produção.
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