Michelle Williams e sua Marilyn Monroe |
É
um pecado, uma falha grave, mas vou confessar: conheço muito pouco do trabalho de Marilyn Monroe. Quase nada. Minha única e quase esquecida experiência com a mulher que
tinha legiões de fãs no planeta na década de 50 do século passado foi ter visto
em algum momento da minha vida “Quanto mais quente melhor” (1959), filme do
qual eu mal me lembro da história.
Apesar
de o seu trabalho ser quase desconhecido para mim, a presença de Norma Jeane
Mortenson na cultura pop é tão grande, que parece que eu conheço a vida dela
como se tivéssemos sido amigos de infância. Nasceu em Los Angeles, foi amante
de John Kennedy, cantou aquele sexy “Parabéns para você” para o presidente, símbolo
sexual, desejada por todos os homens da sua época, fotos nuas para a Playboy e,
por fim, a morte por overdose de barbitúricos. Isso é basicamente um rápido
resumo da atriz.
O
que eu não sabia, e agora serei um pouco maldoso sim, é que Marilyn Monroe era
uma mala sem alça, mimada, um tanto vazia e atriz até certo ponto medíocre. Essa
foi a primeira impressão que o filme “Sete dias com Marilyn” me deixou. Ok, ela
era uma mulher problemática, que tinha a clara necessidade de ser amada por
todos para suprir a falta de amor que teve em casa na sua infância,
adolescência e por aí vai. Quando Norma cresceu virou uma personagem. Mas no
fundo era uma mulher tristemente frustrada porque todos amavam Marilyn e não
Norma. Imagina o Édson em conflito com o Pelé com tinturas freudianas, entende?
Essa
carência é outra ferida bem exposta no filme de Simon Curtis. Marilyn quer a
atenção de todos e quase uma overdose de amor, um culto a si mesma para
compensar as perdas da juventude. Tanto é que quando o jovem Colin (Eddie
Redmayne, tão expressivo quanto um picolé de chuchu) se propõe a cuidar dela e
a pede para largar a vida de estrela, Marilyn recua. Mas diante da postura do
jovem de que então vai seguir a vida e não quer mais saber dela, a atriz pede ao menos uma “troca de olhares”. Norma não consegue largar a personagem
mesmo na intimidade. E não tem pena dos corações que vai devastando no caminho,
embora ela aparentemente não tenha consciência da dor que causa, pois na verdade se
alimenta e precisa desse amor que a cerca.
“Sete
dias com Marilyn” é um belo filme. A película se passa durante a gravação de “O
príncipe encantado” (1957), cinco anos antes da morte da estrela. Naquele tempo,
Marilyn, vivida por Michelle Williams, já era uma estrela mundial que buscava o
reconhecimento artístico e contracenava com Laurence Olivier (Kenneth Branagh,
o grande ator do filme), ator que tinha o respeito da crítica, mas almejava se
tornar uma estrela do cinema.
O
filme se centra na viagem de Marilyn para a Inglaterra e na sua
experiência no set de filmagem inglês com Olivier e os conflitos com a forma de
trabalho no set e o chamado método de Paula Strasberg, uma mala puxa-saco dela
no filme, que era responsável por fazer uma atriz medíocre como ela ter
momentos de brilho em suas películas por fazê-la aceitar, acreditar e “entrar
no personagem”. Era o chamado “Método” que podia dividir os artistas e
até dar uma impressão de propaganda negativa neste filme sobre a estrela hollywoodiana, mas
muita gente boa o defende e é adepto. É o caso de Al Pacino. Já o vi dar
entrevistas elogiando muito essa forma de trabalhar.
"Sete dias..." tem essa linha mestra centrada em Marylin Monroe, mas através dela várias
camadas dramáticas vão se descortinando. O próprio Olivier revela a sua
insegurança. Em 1957, ele tinha 50 anos e quis usar Marilyn não apenas para
tentar finalmente se tornar um astro, mas também para parecer mais jovem num trabalho
que ele já tinha tido sucesso de crítica através de uma peça de teatro em que
encenou com a sua então mulher Vivien Leigh (Julia Ormond), estrela de, entre
outros filmes, “E o vento levou...” (1939), e que foi rejeitada pelo próprio
Olivier por ser muito velha para o papel no cinema. Na época ela tinha 44 anos
e reconhecia com uma ponta de amargura não poder competir com a jovem estrela
de apenas 31 anos.
E
assim Curtis vai expondo as fragilidades destas estrelas. Se Marilyn é um poço
de problemas que só sessões de análise resolveriam, Olivier também sofria por
sua vaidade e temia ser esquecido por se achar já velho para as câmeras. Vivien,
por sua vez, sentia-se rejeitada pela escolha do marido, tinha ciúmes, pedia
para Colin vigiá-lo, pois claramente o marido desejava aquela jovem. E quem não
desejava Marilyn na flor da idade? Três anos depois do lançamento do filme,
Vivien se separou de Olivier.
Se
Kenneth Branagh é o cara da película, Michelle Williams, de 31 anos, não fica
muito atrás do ator. Marilyn Monroe talvez seja o seu grande papel na carreira até
aqui. Michelle conseguiu mostrar as fraquezas da estrela que encantava
Hollywood, assim como exibir a atriz que tinha um carisma sem concorrência no seu
tempo. E sempre que necessário fazia a transição com extrema facilidade como na
cena em que ela visita o colégio em que Colin estudou. Quando é reconhecida
pelos alunos, a mulher que está ali encantada com a vida comum do seu colega,
logo se transforma “nela”, distribuindo encantadores sorrisos e beijos para a
plateia ávida por ter um pedaço de Marilyn para si.
Michelle não chegou a “incorporar” Marilyn como o “Método”
exige, mas deu sua própria visão para a estrela 50 anos após a sua morte. De certa
forma, Marilyn Monroe ganhou o amor e a admiração eterna uma vez que sua
história ainda desperta muito interesse. Após as gravações de "O príncipe encantado", Marilyn ainda estrelaria mais três filmes. Entre eles "Quanto mais quente melhor", um dos seus grandes sucessos.
2 comentários:
Oi Marcelo!
Ainda nao vi esse filme, mas adoro a Michelle Williams (desde Dawsons's Creek, q eu aposto q vc acha chato rsrsr).
Ultimamente estou numa overdose de Marilyn. Acabei de assistir a primeira temporada de Smash, um musical sobre a vida da loira, produzido por Steven Spielberg. Ta fazendo sucesso e foi renovada a segunda temporada.
Ate meu marido gostou e nao perdeu um so episodio.
Ah! E Game Of Thrones? Ta acompanhando a segunda temporada? O ultimo episodio foi mt bom!
Bjs
Ana Paula
Oi Ana Paula. Não tenho visto Game of Thrones. Alguns amigos me dizem que é muito bom, mas eu nunca consigo assistir por causa do trabalho. Qualquer dia eu alugo tudo para ver de uma vez.
beijo
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