Alanis Morissette/Reprodução da internet |
Entre
suas poucas aventuras cinematográficas, Alanis Morissette fez o papel de ninguém
menos do que Deus no filme “Dogma”, de Kevin Smith, lançado há 13 anos. Naquela
época, a cantora canadense tinha então 25 anos, quatro discos – sendo dois mundialmente conhecidos, Jagged Little Pill (1995) e “Supposed former
infatuation junkie” (1998) - e ainda cantava com fúria e o seu característico
jeito de andar para frente e para trás de lado para a plateia no palco a cada
show e balançando o cabelo preto até a cintura. A plateia formada na sua maioria por adolescentes ou jovens
adultos como ela a seguiam religiosamente e liberavam todos os seus fantasmas
em canções contra namorados vacilões, as dores e os altos e baixos do amor.
Era
basicamente disso que músicas como “You oughta know”, sempre uma das minhas
favoritas, e “You Learn”, dois dos seus maiores sucessos do seu disco de maior
sucesso, o “Jagged Little Pill”, com 33 milhões de cópias vendidas no mundo todo, tratavam
em versos como “Did you forget about me, Mr. Duplicity?/ I hate to bug you in the middle of dinner/But it was a
slap in the face/How quickly I was replaced/And are you thinking of me when you
fuck her?” ou o refrão de “You Learn” que evoca o aprendizado a cada vez que
você ama, grita, perde, chora e sangra.
O
tempo passou e Alanis hoje é uma mulher de 38 anos resolvida com os seus
fantasmas, casada com um rapper e pai de uma criança de dois anos. Seus fãs
também cresceram e muitos dos que estiveram no Citibank Hall para reencontrá-la
em mais uma de suas passagens pelo Rio são balzaquianos como ela e certamente estiveram na frente dela nas outras quatro passagens pelo Brasil. Mas o “Jagged
Little Pill” é eterno no coração de todos e a canadense sabe disso.
O
disco ocupa uma generosa porção da aproximadamente 1h40m do show da cantora no
feriado de 7 de setembro. Uma apresentação que fez a alegria dos cariocas que
decidiram não viajar para ver Alanis, que continua a mesma no palco, mas agora conta com uma nova, boa e afinada banda formada pelos
guitarristas Julian Coryell e Jason Orme, pelo baixista Cedric Lemoyne, pelo
baterista Victor Indrizzo e pelo tecladista Michael Farrell.
Assim
como nos shows de 2003 e 2009, são sete canções do disco. Uma a mais até do que
o bom álbum novo, “Havoc and bright lights”, e que motivou a atual turnê. Mas
ao contrário dos shows anteriores (incluindo também o de 1999), Alanis resolveu
dar uma atualizada, uma refrescada nos arranjos de seus “clássicos”. Alguns
ganharam de sua banda arranjos que amainaram só um pouquinho a fúria. Outros
ganharam solos de guitarra que agradaram bastante ao público. Foram mudanças
sutis que praticamente só seriam percebidas se comparadas com vídeos da velha
Alanis de anos atrás.
Nada que desagradasse o seu público. “You Learn” estava lá com Alanis dando a
sua lição de crescimento sorrindo e quase dizendo ao seu público que a dor e o
amor são necessários para a adolescente virar mulher. O recado ao ex-namorado em
“You oughta know” ficou datado em uma nova vida cheia de “bright light” de agora,
mas não é possível nunca tirar uma canção tão poderosa de um set list dela.
Assim
como “All I really want” e sua indefectível gaita, também presente em “Head
over feet”. E fica a reflexão de como Alanis abandonou a sua gaita nos discos
posteriores, salvo algum engano do signatário. Ela nunca mais aparece no show que não seja
numa música de “Jagged Little Pill”. Completam a lista do álbum a sempre fofa “Hand
in my pocket” “Right through you” e o megasucesso “Ironic”, cantada com tanto
fervor pelo público quanto “You oughta know”.
Mas
Alanis não vive só do passado e ganha uma calorosa recepção para suas novas
canções. “Guardian”, o primeiro single do disco novo, foi cantada pelos seus
fãs como uma velha conhecida. Com versos como “Give me celebrity my kingdom to
be famous/Tell me who I have to be/Starting to be famous”, “Celebrity” mostra
que suas críticas se voltaram para as celebridades instantâneas que
aparecem a cada momento e se perpetuam por mais de 15 minutos.
“Woman
down”, que abre os trabalhos com Alanis no palco depois de “I remain” cantada
com ela no backstage, “Lens” e “Numb” comprovam a qualidade do novo álbum, que nada
tem de diferente do ponto de vista musical dos seus últimos trabalhos, embora “Havoc
and bright light” seja superior a “So-Called Chaos” (2004), talvez o mais fraco
da cantora, e “Flavors of entanglement” (2008), que, aliás, não tiveram nenhuma
canção tirada para as 20 do show.
O
set, por sua vez, recebeu poucas alterações em relação ao show de Curitiba e ao
segundo show de São Paulo. Aqui foi tocada “Celebrity” enquanto na capital
paranaense Alanis cantou “Spiral” e na paulista “Edge of evolution”. No primeiro
show em São Paulo, as mudanças foram maiores com quatro músicas que os cariocas
não ouviram: “Perfect”, “Forgiven”, “Citizen of the planet” e “21 things I want
in a love”.
Nada
que fizesse os cariocas que encerraram a noite em êxtase cantando “Uninvited” e
“Thank U” lamentarem. Enquanto isso, Alanis distribuía sorrisos e
agradecimentos pela sempre calorosa recepção do seu público. Já a sua banda tirava
fotos dos fãs, que deixavam o Citibank Hall satisfeitos por terem ficado no Rio
no feriadão para se reencontrarem com a canadense.
Set list: I remain (part 1),
Woman Down, All I really want, You Learn, Guardian, Flinch, Right through you,
Hands Clean, So Pure, Celebrity, Ironic, Havoc, Head over feet, I remain (part
3), Lens, You oughta know, Numb, Hand in my pocket, Uninvited, Thank U.
Abaixo a íntegra do
show:
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