Você mal perde por esperar a minha vingança |
Tem um maluco
relativamente novo no pedaço. Ele é grego, mas não é tão difícil falar o nome
dele. Chama-se Yorgos Lanthimos. Isso não é nada para quem já teve que escrever
PAPASTATHOPOULOS, o nome do zagueiro do Borussia Dortmund. Mas como eu dizia,
não sei o que dizer sobre Lanthimos. Só sentir.
Só vi dois filmes dele, mas agora desejo ver
toda a sua curta filmografia. As únicas coisas que eu posso dizer dos filmes
que eu vi é:
1- Ele gosta de histórias que incomodam,
causam desconforto e te deixam bolado dentro do desconforto.
2- Ele gosta de títulos de filmes com nomes de bichinhos (lagosta, cervo...
sabe lá qual será o próximo)
3- Ele tem obsessão pelo Colin Farrell, pois ninguém é perfeito.
Mas poucas vezes eu saí de um cinema tão
embasbacado e pensando: “Cara, você foi longe demais”. Mas eu logo censurei
esse pensamento. Não há longe demais para a arte. Então, “cara, você esticou a
corda dos limites com esse “O sacrifício de um cervo sagrado”.
(E A PARTIR DE AGORA, AVANCEM POR SUA CONTA E
RISCO PORQUE É UMA MANADA DE SPOILERS)
Falemos o português claro, “O sacrifício de um
cervo sagrado” é uma história sobre ciência e macumba e no que você acredita.
Eu poderia ser pedante-místico-moralista e dizer que é uma PELÍCULA sobre a lei
do retorno e de como sempre pagamos pelos nossos pecados. Dizer que nunca um
filme foi tão longe em sua ousadia ao expor os conflitos de um homem, um
profissional e um pai que definha em desespero até encontrar uma saída sobre
uma escolha tão difícil e inimaginável. Eu poderia buscar metáforas em Derrida,
Nietzsche, Platão...
Mas é tudo BALELA.
No fundo, é um filme sobre ciência e macumba.
Porque tudo começa com um jovem muito esquisito. Aliás, o filme todo é formado
por gente esquisita e que anda e fala de um jeito meio robótico, frígido e
monocórdico. Até a menina quando canta parece ter a emoção de uma BJORK. Um
prato cheio para o Colin Farrell. Sem muito esforço ele consegue uma atuação
digna, pois basta fechar a cara e falar.
Então, o Farrell vive um médico cardiologista
que vai sendo stalkeado na vida real por um menino misterioso chamado Martin
(Barry Keoghan). Martin é um jovem curioso que fica querendo saber tudo da vida
de Steven (Farrell), da família, do casamento com a Nicole Kidman, etc....
Steven até então achava que o menino só estava
perturbado pela perda do pai. Mas a coisa fica esquisita quando surge do nada
a... ALICIA SILVERSTONE. Eu não sei vocês, mas acho que a última vez que vi a
Alicia Silverstone foi em “Batman e Robin” (1997). Enfim, Alicia vive a mãe de
Martin, dá em cima de Steven com um papinho de que “você tem mãos lindas e
tal”, mas Steven dribla a moça e avisa: “Para com isso! Eu sou casado e amo a
minha mulher! Eu pego a Nicole Kidman!!”. É quando ela responde: “Pelo menos
experimenta a minha torta de limão”? (Aparentemente não era uma metáfora).
Steven declina da proposta. Mal sabia ele que
aquela torta de limão seria o menor dos seus problemas. Nos ultimas seis meses,
Martin estava preparando uma vingança. Uma macumba sinistra, magia negra pesada
que faria os dois filhos e a mulher de Steven caírem doentes. Primeiro
perderiam os movimentos, depois a vontade de comer. Por fim, chorariam sangue.
E eles só melhorariam quando o médico assassinasse um membro da família. Tudo
porque o moleque perdeu o pai na mesa de operação do médico.
Steven diz que isso é bobagem. Que não
acredita em galinha morta e farofa na encruzilhada, mas vai vendo os filhos
caírem e não há exame que dê jeito ou ache uma maneira de curar as crianças.
Enquanto isso, Martin segue pregando a sua vingança travestida de metáfora
bíblica: olho por olho, dente por dente e spaghetti se come enrolando o
macarrão e jogando na boca.
Steven sofre, chora, vê suas convicções
científicas sofrerem abalos tectônicos... mas no fim, sabe que o seu destino
está no acerto de contas espiritual com a vingança de Martin. É o famoso aqui
se faz, aqui se paga. Para Yorgos Lanthimos é muito mais legal quando o vilão
vence no final (acrescente áudio de risada maléfica de Dr Evil).
Agora eu quero ver os outros filmes desse
maluco.
Cotação da Corneta: 8,5.
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