Tom Cruise está num triângulo amoroso milenar |
Eu tenho inveja de Tom Cruise. Não é qualquer um que, aos
54 anos, pode ser jogado de um lado para o outro dentro de um avião em queda
livre e correr, correr, correr (como ele corre nos seus filmes) e nunca perder
o fôlego. Não é qualquer um que rola dentro de um ônibus desgovernado, apanha
de entidades maléficas de trinta mil séculos atrás e consegue ficar tipo quatro
minutos sem respirar e nadando freneticamente para fugir de zumbis nadadores.
Eu tenho inveja de Tom Cruise.
Mas a
prova de que Tom Cruise é humano é que ele comete erros. Tipo fazer um filme
como "A Múmia".
Estava
pensando se "A Múmia" é o pior filme que Tom Cruise já fez na vida. E
olha, eu sou um especialista nele, pois sempre vejo os seus filmes. Aí fui no
LinkedIn do ator. Vamos lá, ele fez "Oblivion" (2013), que é bem
ruim. "Guerra dos mundos" (2005), decepcionante. "No limite do
amanhã" (2014) também é bem fraco. Mas realmente, nada é tão constrangedor
quanto "A Múmia".
Mas antes
disso poderíamos questionar: Por que outra múmia? Não bastava a trilogia
estrelada por Brendan Fraser entre o fim do século passado e o início deste?
Por que arrumar outra múmia para inventar uma história de deuses irritados
despertando uma profecia e blá-blá-blá. Só pode ser lobby da indústria de lápis
de olho e da tatuagem de henna.
Vejam, eu
amo o Egito antigo. Mas é preciso um bom motivo para abrir esse sarcófago. Os
apresentados pelo diretor Alex Kurtzman fizeram-me ficar envergonhado.
"A
Múmia" começa com um clichê de filmes de lendas. Aquele momento que rola
um ritual na Idade Média sobre uma parada enterrada junto com um padre
esquisito num evento com gente estranha. Mas logo voltamos para os dias atuais,
quando nos deparamos com o Iraque (Mesopotâmia nos tempos românticos) em
guerra. É lá que encontramos Nick Morton (Tom Cruise) e seu parça Chris Vail
(Jake Johnson).
Então eles
correm. E trocam tiros. E tem explosões. Isso é normal. Isso acontece em 22 dos
34 filmes que eu vi do Tom Cruise (sim, eu contei). A propósito, ele tem 42
filmes.
Para
encurtar a história, eles descobrem uma tumba egípcia. A arqueóloga que está
com ele, com quem ele teve um trê-lê-lê na noite anterior, aliás, diz:
"Gente, isso não é normal. Estamos na Mesopotâmia. Muito longe do Egito.
Tem caroço nesse angu".
Jenny
(Annabelle Wallis) é o nome dela. E ela estava certa. O que é uma pena. Se
estivesse errada o filme acabaria com 15 minutos e poderíamos ir para casa.
Bom, aí
acontece o óbvio. Eles despertam a múmia Ahmanet (Sofia Boutella), que acorda
sedenta para beijar muuuuuuito. Lembremos, são milênios trancafiada sem pegar
ninguém. Seu poder de atração é tão fatal (literalmente) que até o galã Tom
Cruise dá uma balançada.
Acompanhem.
Temos uma milenar múmia egípcia vivida por uma atriz argelina, um militar
americano picareta, uma arqueóloga inglesa... e eis que surge... o Russell
Crowe!
Aqui o meu
cérebro deu curto circuito porque o Russell Crowe vive um médico que coordena
uma espécie de centro de combate à maldade (tem trabalho para vocês em
Brasília!). Eu não entendi muito bem qual é a deles, mas no laboratório tinha
até crânio de vampiro.
O que me
chamou mais atenção, porém, era o seu nome: doutor Henry Jekyll. Não pode ser.
Era uma homenagem a Robert Louis Stevenson, claro. Até que Jekyll se transforma
num cara fortão e descontrolado chamado...Hyde.
Eu estou
chocado. O que vai aparecer agora nesse filme? O Van Helsing? O Drácula? A
Mulher-Maravilha? O Didi Mocó? O Toni Platão?
Enquanto
eu coloco a mão no rosto não acreditando no que eu estava vendo, a múmia
passava o rodo em Londres, jogando areia para todo lado e matando quem
atravessasse o seu caminho. Tudo para cumprir a profecia de libertar Seth, o
deus da morte egípcio. E sempre contando com a ajuda dos zumbis de
"Walking Dead", em participação especial. Tudo é possível nesse
filme.
Mas o Tom
Cruise correu, pulou, lutou, atirou e... ganhou superpoderes! Sim, gente, o Tom
Cruise agora é um X-Men. Que homem!
Tudo isso
é culpa de um tal Dark Universe, uma espécie de versão emo dos heróis dos
quadrinhos. A ideia é recuperar esse filão que era um sucesso no tempo em que
se amarrava cachorro com linguiça e bater de frente com a Marvel e a DC. Então,
segura que ainda vem por aí "A noiva de Frankenstein", "O homem
invisível", "O Lobisomem", "Drácula" (aposto que esse
vai me irritar), "O fantasma da ópera", "o corcunda de Notre
Dame" e "O monstro da lagoa negra". E tudo promete ser
interligado.
Portanto, o pior não é
saber que "A Múmia" é pavorosamente ruim. É saber que colocaram uma
deixa no final do filme para uma eventual sequência e para uma expansão do
universo. Esperamos que pelo menos os próximos sejam mais interessantes.
"A Múmia" ganhará da Corneta uma nota 2,5.
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