Todo mundo correndo em câmera lenta |
Pouca gente lembra, mas Zack Snyder é um grande plagiador. Se alguém achava um big deal aquelas cenas em câmera lenta em todos os filmes de heróis da DC, fiquem sabendo que os precursores disso tudo eram os diretores de "Baywatch".
E agora que a série virou um filme novinho em folha, que saudade daqueles tempo em que eu chegava da escola almoçava, fazia os deveres de casa embalado pela dupla "Cinema em casa", do SBT, e "Sessão da Tarde", da Globo, e, quando dava aquele horário de 16h45m, era a vez de ver "Baywatch". Ou melhor, "S.O.S. Malibu", como era chamado em português, na "Sessão Aventura". Uma vez por semana era assim.
Sim, crianças, parece um tempo distante, mas não existia "Malhação" lá atrás. A gente via enlatado americano naquele horário. Cada dia uma série diferente. Tinha "Profissão Perigo", tinha "Thunder - Missão no mar", tinha "La Femme Nikita", "Esquadrão Classe A", "Operação Acapulco", "The Flash" e muitos outros. E durante um bom tempo tinha "Baywatch" com suas maravilhosas salva-vidas Pamela Anderson, Carmen Electra, Erika Eleniak, Nicole Eggert, Gena Lee Nolin e Kelly Packard. Todas correndo em câmera lenta com maiôs vermelhos entrando na bunda. Naqueles tempos eu queria muito ser um dos salva-vidas comandados pelo David Hasselhoff. Viver na praia, salvando pessoas, andando em câmera lenta carregando uma bóia vermelha.... parecia uma boa coisa a se fazer no futuro para quem não pensava muito em salários e contas a pagar.
Então, movido por esse sentimento nostálgico, desloquei-me até o cinema mais próximo para ver a versão cinematográfica de "Baywatch". Agora com novos atores. Dwayne Johnson é o novo Mitch Buchanan, Zac Efron é o novo Matt Brody, Alexandra Daddario é a nova Summer, e, mais importante, Kelly Rohrbach é a nova C.J.Parker. E ela enverga com maestria o maiô vermelho enquanto corre em câmera lenta.
O filme? Bem, com coisa de 30 minutos eu já estava pensando: "Não sei como Deus me colocou aqui". Afinal, quase tudo ali é uma porcaria. O que não é nenhuma surpresa. Desde quando o que a gente consome sob o domínio dos hormônios da adolescência pode ser bom?
Alguns elementos de "Baywatch" original foram mantidos. História com a profundidade de um pires, atuações sofríveis, diálogos pavorosos e corpos sarados salvando vidas no mar da Califórnia. A isso, foram acrescentadas piadas envolvendo paus, peitos, bundas e fluidos corporais em geral. A série não tinha isso. Era família!
"Baywatch" começa com Mitch achando um pacotinho de droga chamada "flakka" na praia dele. Ele pensa: "Isso cheira a Breaking Bad. Vou investigar". O problema é que o tenente está selecionando novos trainees para virarem salva-vidas na praia. Prioridades.
É quando surge Brody. Brody é um ex-nadador dono de duas medalhas olímpicas de ouro, mas que é egocêntrico, maluco, porra-louca e fez muitas loucuras nos Jogos do Rio de Janeiro. Entre elas, vomitar na piscina. Será que é por isso que durante os Jogos uma das piscinas no Rio ficou verde? De qualquer maneira, qualquer semelhança com Ryan Lochte não pode ser mera coincidência.
Mitch tem que engolir Brody porque ele é uma celebridade que pode ajudar a fazer a praia voltar ser popular e, assim, fazer os políticos investirem novamente na segurança dos banhistas. A Câmara mais uma vez cortou a verba do time Baywatch, o que força Mitch a dizer uma frase que é um recado para o Brasil.
- A Câmara não sabe o que é melhor para o povo.
Gente, até Baywatch dá lição de moral no Brasil.
(Pausa para vermos a C.J. correndo em câmera lenta)
O novo Mitch é um cara legal. Mas tem uns hábitos estranhos. Ele usa tênis para andar na praia e vai a festinhas na night de chinelo. Mas é um cara competente. Ou não seria escolhido pelo velho Mitch para o posto 1, o principal da praia. Sim, o David Hasselhoff faz uma participação para lá de especial.
Basicamente, a história de "Baywatch" gira em torno de uma traficante que quer privatizar a praia comprando todos os empreendimentos imobiliários da orla. Os nossos salva-vidas favoritos tentam impedir isso ao mesmo tempo em que Mitch tenta incutir em Brody a importância do trabalho em equipe. Enquanto isso, Brody é xingado de todos os tipos de boy bands possíveis. De New Kids on The Block a Jonas Brothers e Justin Bieber. O roteiro do filme faz um inventário de tudo de ruim que já surgiu na música pop.
Ah, o tem o típico personagem nerd, o Ronnie (Jon Bass). Ele é gordinho e um péssimo salva-vidas, mas todo ano faz o prova do estágio só para tentar se aproximar de C.J. Eu não o culpo. Eu mergulharia com tubarões pela C.J. A sua aprovação no teste, porém, revela que o processo seletivo é tão sério quando indicações de políticos para estatais.
(Pausa para vermos a C.J. correndo em câmera lenta)
O grande mérito do diretor Seth Gordon no novo "Baywatch" é não levar essa história a sério. Por isso que ele pegou vários elementos da série original e começou a fazer troça deles. Em especial a corrida em câmera lenta, a grande marca do seriado. Esse é o ponto positivo.
Mas o filme é tão padrão teletubbies de inteligência que ficou difícil defender em quase todos os aspectos. Contudo, a julgar pelo clima nos bastidores da gravação mostrado nos créditos, os atores se divertiram muito. Certamente mais do que os espectadores. Diante de tudo isso, a Corneta sai dessa praia com aquela sensação de quem se queimou sem passar filtro solar. "Baywatch" ganhará uma nota 3.
Nenhum comentário:
Postar um comentário