Trambley é um dos destaques do filme |
É lamentável essa postura do Oscar
deste ano de selecionar filmes tão bons para concorrer ao prêmio de melhor do
ano. Isso obriga a corneta a distribuir notas boas, a desmoralizando quase por
completo. Eu ando tão bonzinho que daqui a pouco vou ser convidado para ser
jurado de carnaval da Liesa. Só apareço aqui exaltando qualidades. Mas vamos
lá. O lema desta critica malemolente é: "Só falo verdades".
São oito os candidatos ao prêmio
principal deste ano. Já vi sete. Nenhum deles é ruim. Nenhum deles é abaixo de
8. Se "Brooklyn" for bom, teremos 100% de aproveitamento. O que não
acontece há muito tempo.
O trabalho totalmente excelente desta
semana chama-se "O quarto de Jack". Uma amiga me disse que uma
conhecida dela ficou transtornada vendo o filme. Isso é ótimo. Uma das
qualidades de um grande cinema é provocar, transtornar, causar reflexão, mexer
com os instintos mais primitivos.
"O quarto de Jack" não é
fácil. É angustiante. Ele conta uma história muito dura e cruel de uma mulher
que ficou sete anos num cativeiro depois de ser sequestrada quando ainda era
adolescente. Ali ela sofreu todo tipo de violência, mas nada disso é mostrado.
Você apenas sabe.
Toda essa história é contada
sob a perspectiva de uma criança. Jack (Jacob Tremblay, numa atuação tocante
é que merecia uma indicação) nasceu naquele buraco que Joy (Brie Larsson) tenta
transformar no mundo inteiro do menino para que ele tenha um mínimo de conforto
e se sinta pleno em meio ao horror.
Jack não conhece o mundo lá fora.
Vive há cinco anos no mesmo cubículo achando que aquilo é o mundo todo. Quando
a mãe dele resolve revelar que o mundo é muito maior e outras pessoas existem,
ele entra em parafuso, se rebela, é informação demais para uma criança que
achava que o pouco que ganhava vinha de mágica.
Não são poucas as passagens do filme
que causam desconforto. O trauma psicológico pelo qual mãe e filho passam deixa
feridas difíceis de curar. E as cicatrizes ficarão para sempre na alma daquele
garoto que descobriu que o mundo era muito maior ao mesmo tempo em que não teve
tempo de se acostumar a ele.
É latente o desconforto de Jack. E
compreensivo o seu desejo de voltar para o quarto que para sua mãe representa o
horror. O mundo para além daquele cubículo parece assustador para aquele menino
que só conhecia a mãe, só achava que existiam apenas a mãe, ele é o grande
Nick, o algoz daquelas almas.
"O quarto de Jack" é quase
impecável em sua proposta. E vai ganhar da corneta uma nota 9.
Indicações ao careca dourado: melhor filme, diretor (Lenny Abrahamson), atriz (Brie Larson) e roteiro adaptado.
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