Iniesta e Torres no fracasso espanhol |
Daqui
a 13 dias fará dois anos da última atuação de gala da Espanha. Não é que a
seleção não tenha feito bons jogos depois disso. Mas a última atuação daquelas
memoráveis que serão lembradas como um dos pontos altos de uma geração que fez
história conquistando duas Eurocopas e uma Copa do Mundo foi naquela noite do
dia 1º de julho de 2012, em Kiev.
Na
ocasião, a Espanha atropelou a Itália numa humilhante goleada de 4 a 0 na decisão da Euro. O time
de Vicente del Bosque vinha sendo criticado por apresentar um futebol abaixo do
esperado dois anos após o título mundial. Já tinha se classificado para a decisão no
sufoco passando por Portugal nos pênaltis enquanto Cristiano Ronaldo olhava
para o telão e repetia a palavra “injustiça” com uma carinha de garoto mimado.
Então
naquela noite a Espanha atuou com raiva. Itália e Alemanha tinham o melhor
futebol da Euro. Os italianos haviam eliminado os alemães na semifinal e
chegavam à decisão confiantes no título. Só que a Espanha, como eu disse,
estava furiosa e atropelou com um futebol belo, envolvente e que não deixou a
equipe de Cesare Prandelli jogar. Foi 4 a 0 (gols de David Silva, Jordi Alba,
Fernando Torres e Mata) e poderia ter sido mais. Foi o canto do cisne da maior
geração do futebol espanhol.
O
tempo é cruel. Dois anos podem não ser muita coisa. Mas quatro são uma
eternidade. Enquanto a Espanha vivia aquela noite mágica, um mês antes o
Barcelona colocava um ponto final na sua era mais vitoriosa. O técnico Pep
Guardiola deixava o clube após a conquista de 14 títulos em três temporadas em
um time que fez história e virou base da seleção com nomes como Puyol, Xavi e
Iniesta.
O
sucesso do Barcelona e seu estilo de jogo comumente chamado de tik-taka, de
toque de bola, manutenção da posse de bola e que vai estrangulando o rival lentamente
até o golpe fatal que no clube quase sempre era dado por Lionel Messi significou
o sucesso da seleção. Assim como o ocaso do clube catalão, que viveu um de suas
temporadas mais pobres, também representam o ponto final da geração de ouro da
Espanha.
Embora
tenha chegado na final da Copa das Confederações, o futebol apresentado pela
Espanha no ano passado nunca foi de primeira linha como naquela decisão contra
a Itália. Mais uma vez chegou à final após uma disputa de pênaltis, desta vez
contra os italianos. Na decisão, veio o tão sonhado confronto dessa geração
contra o Brasil. Talvez o único desafio que faltava para o time que bateu todas
as grandes seleções do mundo em torneios importantes.
Mas
o momento era outro. O duelo chegou tarde demais para Xavi, Iniesta, Casillas,
Sérgio Ramos e todos os grandes nomes que construíram a bela história da
seleção espanhola. A derrota por 3 a 0 foi amarga e um sinal para Del Bosque.
Um sinal que o treinador preferiu não ouvir.
O
modelo se apresentava desgastado pela falta de nomes de reposição da mesma
qualidade. Principalmente de um novo Xavi, um craque que ditava o ritmo do
tik-taka espanhol. Um jogador que é difícil encontrar em qualquer lugar e que
poucas seleções têm. Talvez só a Itália com Pirlo e a Alemanha com
Schweinsteiger tenham jogador semelhante.
Ao
mesmo tempo em que a Espanha se enganava com uma classificação relativamente
tranquila nas eliminatórias em um grupo cuja única ameaça real era uma França
em reconstrução e que ainda pode surpreender nesta Copa, um novo velho modelo
de jogar futebol surgia gritando nos ouvidos de Del Bosque. Era o futebol
aguerrido, solidário e de pura entrega do Atlético de Madrid de Diego Simeone.
Entrega semelhante podemos encontrar no Chile de Jorge Sampaoli, embora ele
também guarde semelhanças com o “futebol total sudaca” da Universidad de Chile
treinada pelo mesmo Sampaoli entre 2011 e 2012.
Ou
mesmo um modelo de jogar mais vertical apresentado pelos alemães do Bayern de
Munique e do Borussia Dortmund. Algo que vem sendo uma tendência dessa Copa. Ou
o meio termo exibido pelo Real Madrid campeão europeu.
Mas
Del Bosque morreu abraçado ao modelo de um relógio que já começava a emperrar. Um
relógio que agora parou de vez.
A
eliminação precoce da Copa do Mundo representa o fim da linha para Casillas (33
anos), Xavi (34), Xabi Alonso (32), David Villa (32) e Fernando Torres (30). Só
para ficar com alguns nomes consagrados.
Agora,
uma nova Espanha precisa surgir. Com 30 anos, Iniesta ainda tem gás e bola para
conduzir a equipe para um novo momento. O país ainda tem jogadores jovens talentosos. Agora
precisa encontrar um modelo de jogo em que estes novos atletas se sintam bem para executar.
Chile
2 x 0 Espanha
Local:
Maracanã, no Rio de Janeiro
Árbitro:
Mark Geiger (EUA), auxiliado por Mark Sean Hurd (EUA) e Joe Fletcher (Canadá)
Gols:
Vargas e Aránguiz, para o Chile
Chile:
Bravo, Isla, Medel, Jara e Mena; Díaz, Aránguiz (Felipe Gutierrez), Francisco
Silva, Vidal (Carmona) e Vargas (Valdívia); Alexis Sanchez. Técnico: Jorge
Sampaoli.
Espanha:
Casillas, Azpilicueta, Sérgio Ramos, Javi Martinez e Jordi Alba; Busquets, Xabi
Alonso (Koke), Iniesta e David Silva; Pedro (Cazorla) e Diego Costa (Fernando
Torres). Técnico: Vicente del Bosque.
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